Primeiros minutos:
Eu estava conversando com minha melhor amiga pelo Discord. Estávamos assistindo Luzes no Céu: Fireworks, um anime, quando um pouco antes do final do filme a internet cai. Mas que merda. Enquanto a internet não voltava eu resolvi ler um livro para passar o tempo, escolhi um que não lia há muito tempo: Quem é você, Alasca? E me deitei na cama para ler. O engraçado é q eu sou uma pessoa que ama de ler, mas ao mesmo tempo tenho muita preguiça. Então acabo lendo menos do que deveria ao longo dos anos, porém é um mau hábito que pretendo mudar.
2h depois da queda:
Cheguei na metade do livro e nada da internet voltar. Não que eu não esteja gostando do livro, na verdade o livro é ótimo e super indico, mas minha impaciência era só um sintoma de abstinência do meu vício pela internet e celular. Até q tenho uma brilhante ideia: e se eu tirar e colocar de volta o roteador da tomada? Ligar e desligar sempre resolve a maioria dos problemas na vida. Me levanto da cama e resolvo colocar minha ideia em ação.
Chegando na sala, onde está o roteador, me deparo com uma surpresa. Existe pessoas vivendo na mesma casa que eu. Ao que parece elas são meus parentes, seja lá que porra isso for. Eles estão jogando uno e já sei que se escutar algum choro é pq Kaique, meu irmão mais novo, perdeu e tá fazendo birra. Muleque mimado que não sabe perder. Ignorando esse fato, assim como eles ignoraram minha chegada, reparo em um pequeno outro problema: AS LUZES DO ROTEADOR ESTAVAM APAGADAS... Olhei para o extensor, mas o roteador estava na tomada do mesmo. Porra. Imaginei que meu pai tivesse desligado o extensor da tomada, por qual o motivo não sei. Fui verificar, mas essa merda estava na porra da tomada. Não... nem fudendo. Fui até o interruptor da sala para ligar a luz. Mas aí é q está, que luz? A merda da energia tinha caído. PORRAAA!!! E só Deus sabe quando q volta.
—Sim, a luz foi embora. A gente só não te disse isso antes, porque como é raro ter sua companhia na casa, já que tu só vive trancada nesse quarto, queríamos aproveitar um pouco mais o privilégio da sua presença —disse uma mulher que quase certeza é a minha mãe (tá bom, já parei com essa piada kkkkkkkk) — quer jogar com a gente?
—Nah, deixa para outra hora. Quero terminar meu livro primeiro e até lá acho q a energia já voltou.
—E desde quando vc lê algum livro?—perguntou o chato do meu irmão que como resposta eu só olhei com as sobrancelhas arqueadas como quem diz: guri só fica quieto na sua.
—Tá bom, mas se mudar de ideia a gente ainda vai continuar jogando por um bom tempo.
—Unooo!—gritou meu pai fazendo o Kaique fazer biquinho, o início de uma birra.3h e meia depois da queda:
Após me frustrar com a notícia de que a energia tinha caído, ver minha família jogando tempo fora na sala, voltar para o quarto e terminar de ler o livro. O tédio voltou a me atormentar e quem costumava me tirar desse tédio é meu celular, mas sem internet ele é meio inútil. Resolvi fazer o que estava procastinando desde de manhã: lavar a louça. Mas para piorar minha situação, eu não tinha nenhuma música no celular para tocar enquanto faço o q mais odeio e nem tinha internet para escutar uma do YouTube — sou pobre e não tenho Spotify. Contra a minha vontade, lavei a louça sem música. E sem música significa significa que não tenho como abafar os meus pensamentos. Durante o tempo que fiquei lavando a louça, eu fiquei pensando: e se a energia nunca mais voltar? E se caiu a energia da cidade toda? Ou pior do país todo? E pq caralhos eu tenho uma imaginação tão fértil? Se eu estivesse escutando música agora, esses pensamentos doidos estariam dando espaço para a melodia da minha música preferida do momento — que para sanar as dúvidas é softcore, the neighbourhood.
Como eu continuava sem música, mais pensamentos começaram a aparecer na minha cabeça. E se realmente caiu a energia do país inteiro por qual motivo caiu? E se nunca mais tivermos energia no país? A gente vai ter q viver q nem o povo de antigamente antes da descoberta da eletricidade? Mano, como caralhos eu vou sobreviver em um mundo sem internet e energia elétrica? Adeus chuveiro com água quente, fogão elétrico, geladeira... Mds a geladeira! Como a gente vai conservar os alimentos??? E o mais importante como eu vou viver em um mundo assim? Eu quero me tornar uma editora de vídeos, mas se meus pensamentos estiverem certos tô fudida. Não tenho habilidade nenhuma fora da internet, eu não sei fazer comida boa, já era ser cozinheira e não sou boa em esportes... pensando bem, a única coisa que me resta é ser professora, só que não quero voltar para um colégio nunca mais, eu já terminei essa merda. Mano, pelo amor de Deus energia, volta logo ou então minha ansiedade junto com meus pensamentos vão me enlouquecer!6h depois da queda:
Finalmente! Louça lavada! E a energia ainda não voltou. Bom, eu me rendo. Eu odeio interações com outras pessoas, mas não me resta outra opção. Vou ter q jogar uno com minha família. Até que é legal, antes do Kaique começar a perder.
—Olha quem resolveu se juntar a nós, meros plebeus—brincou minha mãe.
—Ai aí mãe, você não é um palhaço é o circo inteiro.
—Estamos jogando dominó agora, na próxima rodada você entra—falou o meu pai e eu só afirmei com a cabeça.
Passamos a tarde toda jogando, não só dominó é claro. Depois de um tempo fomos para o ludo, buraco com o baralho que tínhamos guardado que era do meu falecido avô e voltamos (na verdade eles voltaram) para o uno. Já estava escurecendo quando eu fui pegar as velas para acender e continuar jogando. Passado mais um tempo eu já estava sem paciência, meu pai tinha me mandado dois +4 seguidos. Estava com umas 15 cartas na mão. Estava até que um clima muito bom ali na sala. A família reunida e passando um tempo de qualidade juntos, mas para a minha felicidade as luzes começaram a piscar. Meu Deus! A energia tinha voltado! Até que em fim porraaa!
Todo mundo largou as cartas na mesa e corremos para os nossos celulares como leões famintos sedentos por carne. Acho q todo mundo já estava no limite de abstinência. E assim voltamos para as nossas vidas normais como se essa experiência sem energia não passasse de um surto coletivo.
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Desconectada
Non-FictionAcompanhe o que uma garota faz no tédio quando a internet dela cai