Gabriel
Algumas semanas depois...
A minha pele queima debaixo do sol abrasador, precisando com urgência da frescura daquelas águas, que brotam por entre a extensa vegetação.
Desfaço-me da pouca roupa que ainda mantenho no corpo e mergulho na água cristalina como se eu fosse um peixe e minha vida dependesse disso para sobreviver. Vim ao cimo da água, onde deixei meus pulmões se encherem de ar novamente descomprimindo a pressão deles, voltando novamente a mergulhar. Mergulho tantas vezes, que sinto meu corpo exausto, então saio para descansar na sombra de uma árvore e me secar antes de voltar para casa; porém só tenho tempo de fechar os olhos para sentir meu cavalo agitado. Ultimamente ele tem ficado assim, e eu não encontro o motivo para isso.
Abro os olhos e o observo. Olho em volta, e não há nada que possa deixá-lo assim. Mantenho-me em silêncio, esperando ouvir algum som, talvez algum animal que possa estar próximo; mas o único som audível é o da queda da água e dos pássaros.
— Por que você fica assim, agitado, toda vez que vimos aqui, amigão? — pergunto, tentando acalmá-lo.
Um estalar de madeira se faz ouvir, e eu me enfio rapidamente em minha bermuda, em seguida, olho melhor em volta.
Há sim um animal, ou alguém por perto, por isso a agitação do meu cavalo.
Meu coração bate mais forte. Não que eu tenha medo, pois estou nas terras que pertencem à minha família. Além do mais, dificilmente alguém ousaria pisar aqui.
Por que estariam me observando? Loucura minha, pois com certeza é um animal.
Outro estalar me faz levantar e correr na direção do som. Se for um animal, eu o verei fugir.
Assim que meus olhos batem no que importuna meu cavalo, sem que eu tenha tempo de raciocinar direito, a seguro pelo braço. Quando se vê obrigada a encarar meu olhar, o seu é de... medo... vergonha?
— Que raios faz aqui? — Meu tom de voz sai ríspido, mas ainda estou perplexo.
— Me larga, seu grosso! Está me machucando.
Desvio meus olhos dos seus, que parecem assustados, e desço até seu braço, onde minha mão a segura com tanta firmeza, que sua pele branca como porcelana fica avermelhada.
Solto-a imediatamente.
— Desculpe, eu não medi a força.
Meus pensamentos vagueiam entre tentar entender o que Verônica faz aqui e se ela me viu nu. A moça tenta manter a postura, mas seu rosto ruborizado a denuncia. Sim, ela viu, e provavelmente não foi a primeira vez. Por isso a agitação de meu cavalo ultimamente.
— Não é nada que eu não esperasse de você, seu bruto fedorento. — E retoma seu percurso como se nada tivesse acontecido.
Eu prometi a mim mesmo nunca mais perder a cabeça com ela, mas dessa vez darei o troco. Verônica verá quem é o fedorento aqui.
Puxo-a abruptamente, envolvendo-a com um braço, enquanto com o outro, forço sua nuca, até seu nariz encostar no meu cangote, para que o cheire.
— Para quem não gosta do meu cheiro, você não larga da minha calça. Vamos, cheire. É isso que você quer, não é?
Ela se debate contra meu peito. Meu coração bate descompassado. Estou nervoso, irritado, com raiva dessa nariz empinado! Verônica quer me humilhar, então a humilhada será ela, em ter que sentir o cheiro do suor que escorre por meu corpo ainda molhado. Essa dondoca sairá daqui correndo, com o rabo entre as pernas, e nunca mais cruzará meu caminho novamente!
Em algum momento, ela deixa de se debater. Sua respiração é irregular contra meu peito. Afrouxo a pressão da minha mão em seus cabelos cor de fogo, que estão soltos, em seguida, afasto seu rosto do meu corpo para encará-la. Estou me preparando para o seu ataque, como se eu tivesse mexido em um vespeiro.
Ao contrário de minhas expectativas, ela mantém seus olhos fechados e seus lábios rosados semiabertos. Completamente inebriada, entregue e esperando... um beijo?
É preciso muito controle da minha parte, pois ela é tão linda quanto manhosa. Sua cara de anjo rendido quase me faz cair no seu jogo; mas repreendo meu corpo, que fica em chamas ao contato com o dela.
Seus olhos se abrem e seu olhar fica confuso ao encontrar o meu. Sorrio irônico ao ver sua cara. Afrouxo meus braços para que se afastasse.
— Por que veio me espiar? E por que faz que me odeia, se anseia por um beijo meu?
— Não te perdoarei por isso, Gabriel. — Seus olhos lacrimejam e ela sai correndo.
Agora o confuso sou eu. Não dá para entender essa mulher. Desde criança, sempre implicou comigo e me afastou. Em dez anos sem a ver, nada mudou, e de repente quer ser beijada por mim?
Volto para a cachoeira e mergulho direto, para esfriar meus pensamentos, sobretudo, meu corpo, que lateja de desejo.
Sim, eu senti desejo, e não foi só de beijar aquela infeliz. Mas eu não poderia descer tão baixo, mesmo que ela mereça que eu judie dela um pouco. O que eu preciso é manter distância dela, seria o mais prudente, do contrário, arranjarei sarna para me coçar.
Deito novamente ao sol, esperando me secar, enquanto meus pensamentos são invadidos por ela.
Apesar do banho, ainda posso sentir o cheiro de rosas que emana do seu corpo. Sua pele é quente e aveludada. A lembrança de seus lábios sedentos por um beijo me faz engolir em seco. Eu queria ter correspondido, mas ficaria ainda mais envolvido.
Verônica sempre conseguiu minha atenção desde criança, mas a única coisa que soube fazer foi brincar com meus sentimentos. Assim como quando a beijei, há dez anos. Ela simplesmente cuspiu, como se tivesse beijado um porco, me xingou e gargalhou quando eu corri para longe, sentindo-me humilhado.
⚜️ ⚜️ ⚜️
Com que então temos uma espiã de homens nus se banhando na cachoeira 🤭😏 isso naquele tempo daria um casamento forçado, caso alguém soubesse ou tivesse visto. 😬
O que será que Verônica quer?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor Liberto ( Série Amores Proibidos ) Livro II Degustação
RomanceGabriel Albuquerque, é filho de uma ex escrava negra e de pai branco, seu avô barão Albuquerque, um antigo senhor de escravos. Apesar de Gabriel ser um homem livre, e nunca ter passado pelos tormentos da escravidão, sempre foi alvo de preconceito pe...