Capítulo 21: Julya

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Depois da nossa partida, a aula foi finalizada. Passei algum tempo do lado de fora da casa de lições, uma distância um tanto considerável, conversando sobre xadrez e sobre teologia com Billy e Yago, eles em pouco tempo se tornaram bons amigos meus, e com certeza eram pessoas que edificariam muito a minha fé. Arthur foi responsável pela consolidação desses rapazes no evangelho, e sempre os instruiu a buscar conhecimento. Logo, eles tinham grandes conhecimentos em teologia e ciências humanas em geral. Era de grande produtividade conversar com eles.

- Ah, que fome! - Yago reclamou. - Se ao menos tivesse algum doce aqui!

- Cuidado, o açúcar pode crescer em seu sangue e cauterizar seu cérebro - Billy zombou, e eu me segurei para não rir. 

- Muito engraçado você, Billy. Muito engraçado. - Yago cruzou os braços, rindo sem humor.

Foi então que me lembrei…

- Acho que ainda tem alguns biscoitos com gotas de chocolate na minha bolsa - Aventei, vendo os olhos de Yago brilharem com aquela suposição. Sorri minimamente. - Vou pegar para você, espere aqui.

- Sinceramente Sophia, eu vou me apaixonar por você desse jeito! - Yago falou, dramaticamente.

Eu ri levemente.

- Por favor, não faça isso. - Pedi humoristicamente, enquanto adentrava novamente na Casa de Lições.

Só havia sobrado eu, Billy, Yago, e Bianca e Tábita conversando com Joaquim em outro ponto da sala vazia. Arthur se encontrava na sala dele. Eu havia deixado minha bolsa perto da porta da sala de Arthur, e quando me abaixei para pegá-la, pude perceber pela fresta aberta da porta que Julya também se encontrava na sala com Arthur, e ouvi parte da conversa deles:

- Eu não suporto ela! Ela é uma incivilizada, filha de uma prostituta, e tenta roubar o meu lugar aqui! - Julya esbravejava, e eu entendi imediatamente que era sobre mim. - Por que defende tanto ela, Arthur? Você sabe que eu te amo, eu achei que você não havia me pedido em casamento ainda porque precisava se concentrar na sua preparação para ser pastor, mas parece que você se importa mais com ela do que comigo e com qualquer outra pessoa! Você não me ama, Arthur?

Arthur suspirou. 

– Julya…

– Me escuta! Eu estudei o ministério da esposa de um pastor, eu li livros de teologia e até a rata de rua chegar, eu era uma das melhores no xadrez entre as meninas, só perdendo pra sua irmã. - Ela olhou para baixo, como se estivesse com vergonha. - Arthur… nós somos compatíveis e eu te amo. Eu não te peço pra me amar de volta, só…

- Não. - Arthur a cortou com dureza, e ela levantou a cabeça para encará-lo, seu corpo se enrijeceu. - Julya, isso nunca vai acontecer. Nós não somos compatíveis como você pensa. Se eu me casasse com você, não seria sincero comigo mesmo, e nem com você. - Arthur suspirou. - Julya, eu entendo que sofra pelo fato de um dia ter sido abandonada no altar. Flynn foi um completo crápula ao te deixar daquele jeito. Você acredita que sou perfeito e jamais faria aquilo com você, e realmente eu jamais faria, pois nunca iremos nos casar. É uma pena para mim ter que ser firme dessa forma com você, mas você não me deixa outra saída. - Arthur colocou sua bolsa atravessada no corpo. - Eu não sou perfeito, Julya. Não existem homens perfeitos. Eu não posso corresponder seus sentimentos, e Sophia não tem culpa disso. Mesmo se Sophia não existisse, eu jamais te pediria em casamento. Eu te dou apenas um conselho: se conserte com Cristo. Essa forma como você tem levado a vida, o ódio que tem alimentado dentro de si, a hipocrisia… alguma hora isso vai pesar demais pra você. Deixe a Sophia em paz e cuide de si.

- Você… Você… - Julya balbuciou com a voz embargada de choro. - Você já contou pra Sophia que vai passar quatro anos em outro estado por causa do seminário pastoral? Será que uma recém-convertida que saiu de uma vida promíscua como ela pode entender isso? – A voz dela tinha um misto de raiva e desespero.

Eu arregalei os olhos, o sangue Parecia congelado em minhas veias.

Arthur passaria quatro anos em outro estado? Naquele momento um nervosismo percorreu meu corpo e eu só conseguia pensar que… não o queria longe de mim. A possibilidade de vê-lo ir embora era absolutamente dolorosa. 

- Ela vai entender. Tudo tem um propósito debaixo do céu, e eu creio já ter entendido o propósito disso. - Arthur insistiu, calmamente.

Um propósito. De repente o choque passou e eu voltei à razão. Havia um plano de Deus para tudo, sem que absolutamente nada fosse desperdiçado. Era sobre isso que havia sido a palavra no culto de ontem, e ela se encontrava gravada no meu coração. 

Havia propósito em Arthur partir para outro estado, para bem longe de mim. Eu precisava de uma fé mais forte para entender que os planos de Deus são mais altos que os meus.

- Ela não vai entender. Algum dia você vai aceitar, Arthur, que eu sou a melhor escolha que você tem. - Julya protestou, ultrajada. 

Não. Julya está errada. Eu posso compreender, por mais difícil que seja. Se for o que estou pensando, posso aguentar a ausência temporária. Por mais doloroso… eu creio que Deus me capacitará a aguentar. 

A ausência de Arthur seria Deus me dando uma oportunidade para amadurecer longe dele, enquanto espero-o voltar? Será que há a milimétrica chance de darmos certo?

Eu me levantei do chão com a minha bolsa e entreguei os biscoitos a Yago. Não demorei a me despedir e ir para casa. Eu precisava imediatamente falar com meu amado Pai, e também de conselhos. Bons conselhos.

EITA QUE POR ESSA VOCÊS NÃO ESTAVAM ESPERANDO. HAHA.
Bem, Julya levou o fora merecido que já tava demorando pra ser dado. Só explicando caso não tenha ficado claro que até então ela ainda não tinha se declarado pro Arthur, esperando a atitude vir dele em algum momento, por isso Arthur ainda não tinha rejeitado ela de forma incisiva. Mas agora no desespero ela soltou e esse foi o resultado.
Enfim, o que acharam? O que esperam? Se gostaram, deixem a ☆ e os comentários pra me ajudar a propagar o reino ♡
Até o próximo capítulo!

Resplandecer [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora