Posto 09

– Eu e Maria já estamos prontas, podemos ir? – Gabriela perguntou ao chegar na sala com a menina no colo. – O que foi, Ilana, está tudo bem? – Perguntou com preocupação quando viu o olhar estranho no rosto de sua namorada enquanto encarava o celular.

– Sim, está... – Respondeu com um tom não muito convincente. – É só que o Breno mandou mensagem... perguntou se pode buscar a Maria este final de semana em vez do próximo. É aniversário do pai dele hoje, vai ter um jantar por lá e ele quer levar ela.

– Bom... eu acho que nós não temos nada programado para o fim de semana que vem, não seria um problema trocar.

– Não, eu sei... – Respirou fundo, passando a mão no cabelo. – É só que... eu não sei como eu me sinto sabendo que a Maria vai estar em contato com o pai dele e com aquela irmã carola que tem a língua maior do que a boca. Eu sei que eles são a família dele, e da Maria também, mas não sei, Gabriela... só de pensar que nossa filha vai estar em um lugar onde muito provavelmente vai escutar comentários ruins sobre nós duas, porque a gente sabe bem o que a irmã e o pai do Breno pensam... meu estômago embrulha.

– Olha, Ilana... eu também não gosto de pensar na Maria numa situação dessa, porque por mais que ela seja muito nova ainda pra entender, esses comentários não deixam de ser uma agressão, mas mesmo não indo muito com a do Breno, você sabe bem o porquê, eu acredito que ele não admitiria que o pai ou a irmã fizesse qualquer tipo de comentário assim na frente da Maria. – Explicou, se aproximando de Ilana que seguia pensativa. – Sem contar que a Julia provavelmente vai também... e a gente gosta da Júlia, a Júlia ama a Maria, então sabemos que ela vai estar segura.

– É... você está certa. Eu vou falar com ele que ele pode vir buscar a Maria depois do almoço. – Concordou. – Ainda me assusta tanto pensar neste tipo de cenário. Ainda bem que eu tenho você comigo pra me ajudar a respirar e pensar. – Disse com um sorriso largo. – Você tem muita sorte, viu, filha? – Continuou, passando a mão no rosto da bebê que seguia meio sonolenta no colo de Gabriela. – Pelo menos uma das suas mães não é completamente surtada.

Gabriela riu do comentário ao mesmo tempo que sentiu no coração um calorzinho que, apesar de familiar, ela nunca se acostumaria.

Ela lembra como se fosse ontem a primeira vez que Ilana se referiu a ela como mãe da Maria. Ela sempre quis ser mãe e nunca imaginou que este sonho ia se realizar da maneira como aconteceu. Às vezes ela parava pra pensar e percebia como as coisas realmente se dão da forma mais louca possível, porque mesmo sem saber que estaria neste momento, aqui, hoje, Gabriela acompanhou a gestação complicada de Ilana e esteve lá quando Maria nasceu foi a primeira pessoa a segurá-la nos braços... isso era algo que ninguém, por mais retrógrado e preconceituoso que fosse, poderia tirar dela.

– O que foi? – Ilana perguntou com um olhar desconfiado quando percebeu o olhar distante e o sorriso no rosto de Gabriela enquanto ela viajava por alguns segundos nestas lembranças.

– Nada, é só que... acho que eu nunca vou cansar disso aqui. – Gesticulou entre elas com a cabeça. – Essa pequena família que a gente acabou construindo quando você deixou que eu entrasse na sua vida. Acho que nunca vou me acostumar com o fato de que essa menininha aqui, no meu colo, é minha filha.

– Eu demorei uns vinte e tantos anos pra isso, mas... eu não me arrependo.

– Acho que antes tarde do que nunca, não é mesmo? – Gabriela riu.

– Mamãe... praia... – Maria murmurou.

– Sim, claro! Vamos, meu amor. – Ilana respondeu, abrindo caminho para que Gabriela passasse com a menina no colo enquanto ela ia fechando o apartamento e ficando alguns passos atrás enquanto respondia a mensagem de Breno.