Capítulo 3

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Oficialmente namorar Juliana era fácil demais.

Foi a única constatação que Valentina conseguiu chegar nos dois meses que seguiram o primeiro e todos os outros beijos que decorreram deste. Dormir abraçada com Juliana, tê—la ainda mais perto e confortável com ela. Era uma questão muito simples: era o que tinha que ser. Não havia um resquício de estranheza e, em partes, era como se elas houvessem namorado a vida inteira. Talvez precisassem apenas de um leve impulso.

E então Valentina começou a entender o que lia na internet sobre mães sentirem conexões com seus bebês; ela tinha certeza que conseguia se conectar com Aurora; ou pelo menos achava que entendia alguma coisa. Era isso que a maternidade significava, então? Como quase toda mãe de primeira viagem, Valentina estava achando todas as suas novas descobertas incríveis. Menos as que envolviam comidas estranhas.

Na última madrugada, enquanto Juliana lhe mantinha no calor dos braços, Valentina acordou com um desejo absoluto e inexplicável de comer repolho com maionese e carne moída crua. A morena, é claro, fez o possível para realizar suas vontades. E Valentina ainda conseguia se lembrar com carinho de cada vez que Juliana fazia questão de falar com Aurora.

Como naquele momento.

Em plena manhã de domingo, em que as duas não tinham absolutamente nada para fazer e estavam largadas no novo sofá da sala — cortesia de seu pai. Espaçoso, amplo, confortável. Retrátil e reclinável. Quase uma cama. Macio também. Juliana estava deitada ao seu lado, mas inclinada sobre sua barriga, acariciando a pele e cantarolando para uma Aurora que, obviamente, não teria como responder.

— Cê vai ver, porrinha, daqui uns meses quando você nascer, a gente vai te mostrar seu quarto. Você vai gostar dele por que é verde e azul, todo bonitão, é claro... Eu que pintei. Sua mãe ajudou um pouco, mas na verdade ela me atrapalhou bastante.

— Que absurdo... — Murmurou Valentina.

Juliana se inclinou mais em direção à sua barriga.

Valentina acariciou os cabelos negros de Juliana.

— Mas a gente vai fazer um acordo aqui hein? Eu e tu. — Disse a morena para a barriga de Valentina. — Vai ter umas horas que você vai ter que ficar quietinha no quarto pra eu me aproveitar da sua mãe.

— Você não tá falando isso pra minha filha...

— Ela me entende. — Juliana se defendeu para Valentina. — A gente é conectada, tu nem sabe.

— Ah é?

— Claro. Ela já é minha e tu tá aí de bobeira.

E então a loira se encheu de lágrimas e emoção.

Uma emoção atípica, que parecia vir de um lugar muito profundo e intrínseco; e ao mesmo tempo era como ouvir sua música favorita, aquelas batidas numa doce harmonia que penetravam seus sentidos e a faziam esquecer de tudo e qualquer coisa. Juliana era como sua música favorita. E ali, falando que Aurora era dela... Parecia que Valentina estava vivendo um festival particular de sua música preferida. Tocava direto seu coração.

— É?

— Claro que é. — Juliana disse sem nem olhar para Valentina, estava atenta demais às movimentações muito suaves que poderia jurar sentir na barriga dela. — Vocês duas são. — E então a morena ergueu os olhos para Valentina, um pouco desconfiada e um pouco ansiosa. — Ou... Não?

— Como assim?

— Bom, você quer ser?

— Eu não tô namorando com você?

— Sim. Mas...

— Então?

— Então o que?

— Eu não sei.

Pra Nos Refazer | Juliantina | SHORTFICOnde histórias criam vida. Descubra agora