Capítulo 16

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A cozinheira colocou um prato fundo, que continha diversos vegetais e pedacinhos de carne, na frente de Sarah e do Gael. Ainda saía fumaça dos pratos, pois ainda estava bem quente, mas o cheiro continuava se alastrando e a jovem ficava com água na boca. Logo, pegou a colher que havia sido deixada ao lado do prato e a afundou na comida, com toda a delicadeza.

Ela sabia como se comportar como uma dama e mesmo que estivesse com fome, pegava a sopa bem devagar e levava a colher até a boca. Enquanto isso, os outros criados só faltavam pegar a tigela e engoli-la. Gael foi o único que percebeu a leveza da menina, já que levantava os olhos frequentemente, de cabeça baixa, para observá-la.

Sarah se deliciava com a comida, e as pessoas ao redor chegaram a se surpreender com ela. Pensavam que não teria coragem de comer aquela "gororoba".

- Humm - disse ela, comendo um pedaço de carne - Que carne é essa, Marila? Gostei muito!

- Ué menina, isso é frango!

- Eu sei o que é frango, mas tô dizendo o outro tipo de carne que tem aqui - falou a jovem, apontando para o prato.

Tábata e o noivo riram, junto com alguns outros empregados. O capataz foi o único que não achou graça da situação e ainda lançou um olhar repreensivo para os colegas, que surtiu efeito em todos, menos no camareiro Marcos.

- Isso aí é... - riu o mau caráter - Rabada.

A senhorita Virgos franziu as sobrancelhas, sem entender o que ele estava dizendo. Já lamentando o ocorrido, Gael estava constrangido no lugar da jovem, pois sabia que aquilo seria muito desagradável pra ela.

- O que é rabada? - questionou ela.

- Rabo de boi... - Marcos respondeu, dando um sorriso maldoso de lado.

Sarah arregalou os olhos e tapou a mão com a boca, logo depois foi correndo até a pia e vomitou tudo o que tinha comido. Como já não estava muito bem de saúde, imaginar que estava comendo rabada só lhe deu uma ânsia muito grande e não teve como segurar.

- Vai ajudar ela, Marila! - gritou o capataz cheio de preocupação, mas não ousou chegar perto por respeito.

A criada foi até a menina e tocou suas costas com as mãos, enquanto Tábata pegava um copo d'água. Sarah não estava nada bem, mas aos poucos sua cor foi voltando ao normal.

Infelizmente, Zenaide chegou na cozinha e ficou pasma com a cena à sua frente. Perplexa, ela berrou:

- Mas que raios está acontecendo aqui?

Todos se assustaram e ficaram estáticos, enquanto Sarah ajeitou a postura, limpando a boca. Não tinha muito o que explicar, porque a governanta iria continuar furiosa de qualquer forma e nada ajudaria a se acalmar.

- Não foi nada demais, eu só comi um pedaço de rabada e...

- Rabada?! - incrédula, Zenaide olhava para a cozinheira - Como você deixou isso acontecer, Marila?

- Ela que insistiu, eu tentei evitar.

- A culpa é minha! - Sarah assumiu.

- Chega, não quero ouvir! Venha que vou levá-la pro seu quarto.

Então, Zenaide se aproximou da jovem e a empurrou de leve até saírem da cozinha. Sarah estava decepcionada por prejudicar os outros empregados, mas a governanta não a ouviria e todo aquele mal estar a deixava sem forças. Precisava descansar urgentemente.

Quando as duas saíram, Tábata se levantou, amarrou seu avental e pegou seu prato, dizendo:

- Bom, eu vou é trabalhar que ganho mais.

- Viram só? A gente tenta ajudar esses grã finos e é a gente que se ferra. - concluiu Marcos.

A camareira puxou o prato dele, mesmo que ainda não tivesse terminado, a fim de que ele parasse de falar asneiras. Então, Marcos bufou e saiu batendo o pé para trabalhar. Os outros empregados tomaram o mesmo rumo e só restou o protegido e Marila.

Gael se levantou da mesa, falando:

- Você não tinha nada que ter deixado ela ficar aqui, Marila!

A criada jogou o pano de prato sobre o ombro e apoiou as mãos na cintura, com a expressão sarcástica.

- Acho bom o senhor parar com isso. Não se meta com essa menina, viu? - disse ela, apontando o dedo - Já basta a confusão com a Estela!

Marila, que não era boba, muito menos inocente, conhecia o rapaz como ninguém e sabia que ele estava preocupado demais com o estado da garota. Desde que ele havia sido abandonado no casarão, a criada era como se fosse a mãe dele, pois cuidou da criança a vida toda, até se tornar um homem. Por isso, sabia como funcionava o coração dele e por já ter se envolvido em confusões amorosas, não queria que Gael se magoasse.

O capataz, deixou ela falando sozinha e foi trabalhar, não queria ninguém percebendo o seu encanto por Sarah. Mas, mesmo assim, ele sabia que sua "mãe" adotiva tinha razão, pois não era possível controlar os próprios sentimentos e se caso se apaixonasse pela senhorita Virgos, seria um caminho difícil e sem volta. Portanto, isso o rapaz não poderia deixar acontecer.

A noiva falidaOnde histórias criam vida. Descubra agora