𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝚞𝚖

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Minha vida nunca foi um mar de rosas. Desde que me entendo por gente tenho trabalhado duro, para ter o básico. Cresci num orfanato e passei por diversos lares, nenhuma das famílias quis ficar comigo. Muitas das senhoras dessas famílias me devolveram com a alegação de que eu estava colocando a prova a fidelidade de seus maridos. Um completo absurdo, eu era apenas uma criança sedenta por uma família que me acolhesse e me amasse como filha. Quando completei dezoito anos o orfanato não iria mais se responsabilizar por mim, desde então eu tenho trabalhado igual uma condenada para ganhar algum dinheiro e sobreviver.

Alguns homens já me sugeriram que eu vendesse o meu corpo, muitos deles me ofereceram quantias generosas de dinheiro. Mas eu simplesmente não consigo fazer isso, desde cedo eu fui uma menina religiosa. O orfanato tem grande parte nisto, o meu corpo está guardado para um homem só, o meu futuro marido. Se é que algum dia eu irei me casar, bem no fundo do meu coração eu ainda tenho uma esperança. Daqui poucos dias farei dezenove anos, durante esse ano que passou a única forma que encontrei de ganhar dinheiro é engraxando os sapatos dos senhores ricos que desembarcam na estação de trem. Digo os ricos, pois o senhores pobres mal tem pra eles que dirá para mim! O que ganho é pouquíssimo, mal dá pra comer.

- Bom dia Sr, gostaria que eu engraxasse seus sapatos? Prometo que não vai demorar muito. - Faço a minha primeira abordagem do dia, é uma quinta feira. O sol está brilhando no céu de Londres, coisa rara de acontecer.

- O que uma jovem como você faz aqui? Cadê os seus pais, amor? - O homem diz sereno, me analisando dos pés a cabeça. Me sinto mal, estou vestida em trapos.

- Sou órfã senhor, por favor deixe-me engraxar seus sapatos, eu insisto. - Digo firme o olhando nos olhos.

- Você tem dez minutos senhorita. - O homem diz tragando seu cigarro e olhando seu relógio de bolso.

- Muito obrigada, prometo terminar antes.-
Rapidamente eu indico os bancos para que ele sente, e então começo o meu trabalho.

- Qual é o seu nome? - O homem me encara e eu me sinto levemente atordoada, seu olhar é frio e penetrante. Me sinto desconfortável diante de seu olhar.

- Arabela Clark, e o seu? - Dou um pequeno sorriso.

- Um nome bonito para uma moça bonita. Quantos anos tem Arabela? - Ele ignora a minha pergunta.

- Dezoito senhor.

- Tão jovem e já trabalha tanto. - Ele parece se perder em pensamentos.

- É a vida que eu tenho, graças a Deus tenho saúde e força para trabalhar.

- Você vive sozinha? - O homem misterioso dos olhos azuis me pergunta. Sem nunca deixar o cigarro de lado.

- Técnicamente sim, não... É complicado. - Digo me atrapalhando um pouco.

- Fiquei curioso, me conte a sua história Arabela. - Ele sorri e me incentiva a continuar.

- Bem, eu cresci num orfanato e passei por algumas famílias. Nenhuma delas quis ficar comigo, então eu voltei para o orfanato aos treze. Quando fiz dezoito tive que encarar o mundo. Daqui alguns dias vai fazer um ano que estou me virando como posso. A senhora
Smith me deixa morar com ela, em troca eu arrumo, passo e cozinho. Trabalho como engraxate para ganhar alguns trocados para a comida. Não é muito, mas o suficiente.

𝓜𝔂 𝓼𝔀𝓮𝓮𝓽 𝓪𝓷𝓰𝓮𝓵 :: 𝐓𝐨𝐦𝐦𝐲 𝐒𝐡𝐞𝐥𝐛𝐲Onde histórias criam vida. Descubra agora