Capítulo X

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A luz fleumática adentrou o aposento. Uma garoa fina de verão caia do lado de fora. As gotículas suicidas batiam na barreira do palácio e voavam para o chão, estateladas e frias, escorregando até desaparecer na terra.

Isabella abriu os olhos se vendo exatamente na mesma posição em que fora dormir. A impressão que teve foi de ter piscado ao invés de repousar.

Talvez a jovem pudesse estar exasperada por tantos acontecimentos repentinos e finais inesperadas, todavia sua história vinha sendo excêntrica demais para isso. Era apenas mais um dia comum em sua vida, só que incomum.

"Esse lugar me fez perder a cabeça" pensou com seus botões.

Embora o casamento com o Imperador pudesse ter sido a decisão mais irracional e juvenil que Isabella tomou em toda a sua existência, ela se sentia estranhamente satisfeita. Finalmente havia uma pessoa em quem a jovem poderia se apoiar naquele grande mar de carência e incerteza.

Satisfação era um sentimento complexo, era bom, entretanto não significa estar feliz. E naquele momento, Isabella não se sentia feliz, tampouco triste, mas se sentia satisfeita. Isso era um começo.

Foi após alguns instantes de meditação entorpecida que a garota de cabelos de ouro percebeu que havia desenhos incrivelmente realistas de galhos esverdeados em seu teto. Pareciam tão concretos que a jovem sentia que se pudesse tocar na cobertura, seus dedos tangeriam algo áspero. Ainda que um elfo espiasse por detrás daqueles galhos naquele exato instante, Sua Alteza não acharia de todo estranho.

Isabella despertou de repente da fantasia e sentou-se na beirada daquela cama gigantesca, percebendo que seu quarto era uma perfeita imitação do aposento do Imperador só que em tons pastéis. Inclusive, havia até mesmo aquelas mesmas duas portas em cada lado de seu aposento.

Ela levantou-se agilmente, sentindo o piso congelar seus dedos do pés e abriu a porta direita da alcova, espiando o que havia por lá; era um lavabo, feito o do Imperador, com uma banheira que mais parecia uma piscina e azulejos azuis e rosas carregados de delicadeza.

Isabella suspirou apaixonada. Há quanto tempo a garota não possuía um banheiro só dela?

Depois, com seus dedos comichando de curiosidade tentou abrir a porta esquerda, puxando e empurrando com força, mas a entrada estava trancada.

"O quarto não era supostamente meu? Por que não está aberto?" pensou com seus botões, sentindo-se traída.

Claro que sua desolação não tardou a desvanecer, logo ela vinha xeretar a sublime penteadeira branca de três espelhos, empoleirada num canto em frente a bancos cândidos com almofadinhas vermelhas, analisando os ornamentos floridos na moldura do espelho. Abriu cada gaveta, a cada vez sentindo cheiro de flores-de-mel, madressilvas e peônias nos espaços vazios. Abriu cada porta do guarda-roupa descomunal, sentou-se em cada cadeira estofada, cada poltrona creme e bege, e cada sofá rubro.

"Esse lugar é o paraíso" ruminou jogando-se em sua cama.

Isabella contemplou o teto mais uma vez por alguns minutos e acordou novamente, dessa vez para a realidade.

Seus pés moveram-se em direção a porta, abrindo-a levemente e colocando a cabeça para fora para ver se havia alguém nos corredores – na verdade, Sua Alteza Isabella não queria sair assim, de pijamas, cabelo desarrumado e sem escovar os dentes, todavia suas coisas pessoais não chegaram como suposto portanto a garota de olhos azuis não teve exatamente escolha.

- Que a graça esteja com a Vossa Alteza – cumprimentou Caim que estava na porta, curvando-se com um sorriso brilhante. – Espero que tenha tido uma boa noite de sono.

O Imperador VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora