CAPÍTULO QUATRO

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—Malessa—

Ficamos em silêncio quando Argos balançou a cabeça devagar, massageou a têmpora e suspirou.

Cansado. Ele estava acabado, como se não dormisse à meses. Pela primeira vez, assumi minha parcela de culpa pelo seu estado penoso, mas não me deixei enganar. Argos poderia estar com um pé na cova de cansaço, mas nada o impediria de nos fazer sofrer cada consequência. Da forma mais brutal possível.

Por fim, o Líder se aproximou para mais perto de nós dois com passos lentos, e ergueu as duas mãos para os nossos pescoços. Bom, para os colares que pendiam neles, para ser mais específica. Duas pedras obsidianas. Um presente de Argos quando fizemos quinze anos. Ele também tinha uma, só que um pouco maior que a nossa.

A pedra em formato trigonal, passou a ser um símbolo da nossa família. Sim, ele nos considera família e nós o consideramos como um pai. Não que ele tenha substituído meu pai, isso nunca iria acontecer, tão tal que eles eram bons amigos até. Mas o cara nos criou como filhos de sangue desde os sete anos de idade, quando nos encontrou no meio da floresta e tudo aconteceu.

Não o conhecia bem naquela época. O tinha visto só algumas vezes falando com papai antes daquela noite, mas foi ali, a primeira vez que o vi chorar. Argos quase nunca chora, era tão sensível quanto uma rocha, mas foi naquele momento que eu soube que ele seria tudo para nós. Ele sempre nos deu tudo, incluindo um lugar para chamar de lar e o amor que qualquer criança devastada poderia precisar.

Olhando para o seu colar, lembrei que suas filhas também tinham um. Ele toca nossos colares e olha de um para outro, então deixa a pedra cair de novo. Seu olhar vagou por nossos olhos, mas tenho quase certeza que seus pensamentos foram em duas garotas de olhos azuis claros como cristais e cabelos castanhos. Sasha, a mais nova, havia até pintado as pontas de loiro para imitar a coloração de algumas mechas do pai.

Um quentinho doloroso se instalou em meu peito ao recordar daquela lembrança e de como aquela ideia não deu muito certo, a julgar pelo fato de várias mechas terem caído da sua cabeça por causa da química exagerada posta por mim. Enquanto Zander e Lune, a irmã mais velha alguns minutos, caiam na gargalhada, Sasha não sabia o que fazer: chorar pelo estrago no seu cabelo ou estragar meu rosto com seus socos.

Sabendo que Argos também estava com aquele aperto no peito, supondo ser infinitamente maior que o meu, puxei aquela ligação entre nós e senti sua angústia e dor. Sem dúvidas, era maior do que qualquer dor física que qualquer um poderia sentir. Elas eram a vida dele. E o mundo tirou tudo do homem que só queria salvá-lo.

— Sabem como as obsidianas surgem? — Argos pergunta, parecendo querer encobrir o que realmente estava sentido. Típico dele. — As pedras sagradas da Tribo Haafizah, no norte.

— Vidro vulcânico.

Zand responde rapidamente, sem ligar para os detalhes que faço questão de falar.

— É quando a lava vulcânica esfria muito rapidamente na superfície terrestre, para ser mais específica. — completo com um ar de superioridade e ele estala a língua.

— Se transformando em vidro vulcânico. — ele insiste, revirando os olhos como sempre faz quando eu o irrito.

Jura, gênio? — escarneço — Leu isso em um livro ou nos peitos de alguma fada? — o olho com as sobrancelhas arqueadas, e ele me lança um sorriso cafajeste.

— Sabe como elas têm uma paixão por jóias e pedras preciosas, então qual resposta você prefere?

— Com certeza uma que não envolva você e detalhes sórdidos dos seus... encontros. — respondo com cara de nojo, e o sorriso dele só aumenta cada vez mais.

~ɪᴍᴘéʀɪᴏ ᴅᴇ ᴅᴇᴜꜱᴇꜱ ᴇ ᴍᴏɴꜱᴛʀᴏꜱ~Onde histórias criam vida. Descubra agora