"O que a história conta não passa do longo sonho, do pesadelo espesso e confuso da humanidade."
Arthur Schopenhauer
Caminho por uma rua escura. Não vejo ninguém, não ouço nada. O único barulho audível é da minha respiração cada vez mais descontrolada. O que me impede de acalmar as batidas vorazes do meu coração.
Procuro um lugar em que possa entrar, mas as casas são só vultos que enganam minha visão. Procuro alguma pessoa para perguntar o que está acontecendo, o porquê estou neste lugar tão nebuloso, porém esta busca se torna algo inútil. Não há ninguém.
De repente ouço um som. Tento identificar se poderia ser uma voz, mas não consigo entender as palavras, parece estar tão distante, tão baixo. Sigo em direção a este murmúrio. Me aproximando mais e mais consigo decifrar o que aquele barulho sem forma está dizendo.
Primeiro vejo um menino ou o que aparenta ser pela sua estatura, e depois, finalmente, entendo o que está saindo de sua boca. " Fuja", " Ele está atrás de você". Antes que consiga formular alguma pergunta, minhas pernas se movem por conta própria. Corro o mais rápido que posso em busca de ajuda, com apenas uma frase reverberando em minha mente, " Ele está atrás de você".
Acordo assustado, sinto minha cabeça pesada e suor por toda minha testa. Não importa quantas vezes sonhei com o mesmo pesadelo, ele sempre me deixa inquieto e com uma sensação estranha. Uma sensação curiosa de o porquê fico tão abalado com esta frase, de quem está me perseguindo.
Pego meu celular que está ao lado do meu travesseiro e o ligo para ver o horário. 6:55, cinco minutos antes do meu celular despertar. Desativo o alarme e levanto para encarar meu primeiro dia na faculdade.
Tomo um banho rápido, escovo meus dentes e coloco a primeira roupa que encontro: uma calça jeans e uma camiseta florida, e calço meu tênis preto gasto. Fico em frente ao espelho e dou uma checada no meu cabelo. Meus cachos estão bagunçados como sempre, não é uma novidade. Ajeito eles com a mão mesmo e desço para tomar café da manhã.
Encontro meu pai sentado à mesa tomando café e minha mãe pegando algo na geladeira. Meu pai se chama Caio, assim como eu. Não se torna muito difícil descobrir quem escolheu meu nome.
Enquanto minha mãe se chama Agatha.
Os dois estão casados há mais de dez anos, sendo perceptível ao ver a sintonia de ambos no dia a dia. São o casal que mais admiro e que respeito pelo entendimento que os dois possuem um pelo outro.Puxo uma cadeira e sento ao lado do meu pai.
- Acordou cedo hoje, filho - meu pai comenta enquanto bebe um pouco do seu café.
- Sim, estou um pouco ansioso - respondo.
- Está tudo bem, filho? Você parece cansado. - minha mãe pergunta se aproximando da mesa com uma caixa de leite em mãos.
- Não consegui dormir muito bem. Tive aquele pesadelo de novo.
- Sério? Que estranho você sonhar com isso com tanta frequência.
-Nem me fale - Respondo.
- E a faculdade? Preparado para o seu primeiro dia? - Meu pai pergunta com animação na voz. E minha mãe abre um sorriso esperando minha resposta.
- Claro, mal vejo a hora de me tornar um dentista. - Respondo com entusiasmo
Meus pais sorriem.- Ainda tem 5 anos de facul antes disso, rapaz - meu pai retruca.
- Eu sei, mas não vejo a hora - Respondo com um sorriso enorme.
- Estamos orgulhosos de você, amor - minha mãe fala com os olhos brilhando. Meu pai acente ao meu lado.
Termino meu café da manhã e pego minha mochila. Chego na faculdade 10 minutos antes do início da minha primeira aula.
Procuro meu amigo Miguel pelo campus, mas não o encontro. Mando uma mensagem mas sem respostas. Imagino que ele já esteja na sala, então vou pedindo ajuda a algumas pessoas para encontrar o prédio de odontologia.
Entro na sala faltando 2 minutos para a aula começar. Encontro o Miguel sentado no fundo da sala, ele olha para mim e já percebo que tem algo errado. Seus olhos estão vermelhos e vejo de relance uma lágrima escorrendo por sua bochecha que logo ele limpa com as costas da mão.
Vou em sua direção e sento ao seu lado.-O que houve? Por quê está chorando? - pergunto preocupado, procurando qualquer sinal que poderia me ajudar a entender o que estava acontecendo.
Nesse instante o professor entra na sala.
- Depois eu te conto - ele responde, segurando mais uma lágrima que ameaçava escorrer.
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A memória do meu passado
Mystery / ThrillerO quão surpreendente pode se tornar seu passado desconhecido até mesmo de si?