33: Não é loucura

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Ao visitar a primeira família, esperando que pudesse conversar com eles, encontrou apenas o pai em casa, com olheiras e uma aparência doente. Ele não abriu a porta mais que apenas o necessário para que Jade visse isso, e quando ele disse que estava investigando o caso, a resposta do homem foi absolutamente nula. Ele alegou ser médico, usando seu antigo crachá, e tirando fotos do quarto das crianças, procurando qualquer coisa que insinuasse maus tratos ou interferência na saúde delas.

Mas tudo que existia eram brinquedos simples, desenhos espalhados, quartos silenciosos sem a vivacidade dessas crianças.

Era óbvio o quão exausto o pai estava, e que sua esperança tinha se dissolvido. Quem deixou que ele entrasse foi a mulher que apareceu depois, oferecendo chá que consistia apenas em água quente, Kader viu muito bem quando o sachê de ervas ficou na mesa quando ela se esqueceu, mas não teve coragem de dizer nada, então se conteve em tomar alguns goles pensando em quais outras perguntas podia fazer, antes de colocar sobre a mesinha ao lado do sofá pequeno.

— Você mora aqui? — A mulher perguntou, de repente, enquanto olhavam juntos os desenhos do menino também. Jade piscou voltando a atenção ao momento e assentiu.

— Me mudei de volta pra cidade há quase dois anos. Eu trabalhava... Trabalho pra polícia da Capital.

— Mudou pra essa rua? Lembro de você naquela noite. Andando com uma mulher de cabelo muito cumprido...

Ela não tinha muito a dizer, mas ainda assim ele anotou tudo sobre o último dia do menino, e os possíveis locais pra onde ele iria. Mas no fim das contas a mulher se aborreceu com as mesmas perguntas repetidas da polícia, e foi melhor ir embora, depois de se despedir. Na casa da menina Larissa, apenas o pai apareceu, dizendo que a madrasta não queria nem sair do quarto depois do sumiço da garota.

A conversa com ele não foi diferente, em relação a resultados. Ele parecia exausto, fazia longas pausas, e na verdade só aparentava querer que Jade fosse embora logo.

Dessa forma, no fim de tarde ele tinha poucas anotações em seu caderno, e caminhando de volta as folheando tentando se proteger do frio ao cruzar um dos braços no corpo ele refletia sobre os acontecimentos, tentando encontrar ligações, mas não achando nenhuma. Áster e Lisandro não tinham nada em comum, exceto por uma conexão muito indireta com Frederico, que já tinha ido embora.

A única coisa repetida no caso das duas crianças, no entanto, era a presença de Áster. E ainda assim, isso não o levava a nenhuma pista ou conclusão, também.

Áster tinha saído mais cedo, e voltado encharcado do rio com Narciso, mas sua expressão estava mais suave do que antes. Não iria tocar nesse assunto com ele, não depois de tantas coisas ruins terem acontecido em sequência.

— Jade? — Ele ouviu uma voz feminina, e ergueu a cabeça, deixando de lado as contas com as caligrafias misturadas dele e de Áster. Era Celeste, se aproximando, e os olhos espertos dela logo captaram a blusa aberta do mais novo — O que te aconteceu? — Kader conferiu a roupa aonde ela apontava, finalmente notando por que o vento frio estava entrando com tanta facilidade — Vem comigo, eu costuro pra você, trouxe minhas coisas comigo, sempre levo na bolsa, e ali em casa uma agulha é o que não falta.

— Não sei o que aconteceu com as minhas camisas... Eu achei que fosse nova, mas acho que me confundi — Ele disse, andando lado a lado com ela, e pegando a sacola cheia de tecidos que a mais velha tinha em uma das mãos.

— Anda perdendo roupas? Podem ser duendes te pregando peças.

Ele riu de lado — É, deve ser um duende mesmo... Loiro, de um metro e oitenta.

A Queda de ÁsterOnde histórias criam vida. Descubra agora