Reconstruindo o Destino [Degustação: DISPONÍVEL NA AMAZON]

Capítulo 5

Manhã de terça-feira. Um dia como outro qualquer na rotina diária de Mariana. Tudo correndo dentro da normalidade, exceto por um detalhe: não parava de pensar em seu plano. Sempre que surgia uma brecha em suas atividades no tribunal, aproveitava o computador para coletar informações que poderiam ser úteis na fuga. Pesquisou trajetos de Goiânia a Florianópolis. Calculou e recalculou rotas. Constatou que percorreria cerca de 1.573 quilômetros em 19 horas, se tudo desse certo. Ao traçar os possíveis cenários para a viagem, percebeu que certamente precisaria de mais tempo, uma vez que não pretendia dirigir à noite. Imprimiu um mapa, desenhou o trajeto, fez os cálculos do combustível e definiu possíveis pontos de paragem. Seu plano ganhava corpo, enfim!

Miguel, por sua vez, inicia mais um dia de trabalho sem novidades. Como era de se esperar, passaria os próximos dias finalizando o inquérito da operação "Arara-Azul" que movimentou seu fim de semana. Ele tinha muitos relatórios e formulários para preencher, uma vez que, por tratar-se de uma operação transnacional, era de se esperar mais burocracia e formalidades que a praxe. As informações coletadas, além de documentos de rastreio de animais traficados e sua possível localização seriam compartilhadas com as polícias dos Estados Unidos e Europa. Nada novo sob o sol...

—*—

Após um longo tempo presos no trânsito, finalmente chegaram em casa. Cansada, Mariana tomou um banho enquanto Vinícius se ocupava das ligações de seus "parceiros e clientes", falando alto e bravo, o que, como de costume, mais parecia uma discussão do que uma conversa. Depois de horas ao telefone, Vinícius chegou à cozinha, onde Mariana preparava o jantar e anunciou:

—Talvez iremos ao Pará essa semana.

—Sério?

Ela precisou conter sua euforia para não estragar tudo. Não podia deixar transparecer sua felicidade. Nos últimos meses, mesmo antes de ter planos de fuga, ela já ficava feliz com as viagens dele. Mas desta vez seria diferente. Esta viagem poderia ser sua grande chance de se libertar.

Para fazer essas viagens, ele dava a justificativa de estar fazendo algum negócio em outra cidade. Seja uma área para loteamento, uma fazenda, ou até mesmo gado. Sempre com alguma coisa para negociar.

Vinícius se apresentava como corretor de imóveis, embora não tivesse autorização formal do órgão de classe nem a formação necessária. Mas possuía lábia para envolver as pessoas em suas histórias de negócios bem-sucedidos. Foi assim que, por quase 9 anos, envolveu Mariana, fazendo-a acreditar em sua capacidade profissional. Alegava que apenas estava vivendo um mal momento, já que vivia num quarto alugado nos fundos de uma imobiliária, não tinha carro e acumulava dívidas. A lábia dele era tão boa que fez Mariana acreditar que ele estava vivendo naquelas condições porque havia sofrido um golpe de seu antigo sócio numa outra imobiliária, mas que em breve iria se reerguer, pois tinha bons negócios engatilhados.

Mariana não era interesseira. Gostou do sujeito porque era agradável, alegre, divertido, tinha bom papo e demonstrava ser uma pessoa simples, honesta e esforçada, coisas que ela valorizava muito. Ela mesma era filha de um mecânico e uma costureira que, quando se casaram, não tinham mais que a roupa do corpo, mas com muito esforço, dedicação e honestidade conseguiram criar duas filhas e construir um singelo patrimônio.

Por estar sozinha há bastante tempo, além de ter perdido o pai recentemente, estava carente, fragilizada, ela não teria condições de perceber quem estava por trás daquela máscara de homem honesto e trabalhador que Vinícius vestia para conquistá-la. Desta forma, Mariana acreditava mesmo que as condições financeiras atuais dele não importavam. Construiriam juntos a vida que quisessem ter, pois com ambos dispostos a trabalhar por um objetivo, nada poderia impedir sua realização. Foi aí que se enganou.