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Me diga apenas o inesperado. Se não fosse por ele, jamais teria te visto.

Eu estou bem.

Não há nada com o que me preocupar.

Está tudo bem.

Calma...

Respirei fundo, antes de observar as minhas mãos fechadas em punhos e jogadas no colo. Eu as apertava com força e deixava uma leve tonalidade vermelho se apropriar delas, em uma tentativa falida de acalmar a raiva que eu estava sentindo do mundo à minha volta.

"Você não pode fazer isso.", afirmei, quase como se estivesse o ordenando, ou como se, nem que seja por um instante, minhas palavras pudessem mudar alguma coisa.

O diretor ergueu a sobrancelha, enquanto me encarava de uma forma entediada e específica que só ele tinha.

Desde que pus os pés nesta escola, o diretor sempre me tratou como uma pessoa normal trataria um cão de rua que está  correndo atrás do próprio rabo. Ela não pararia para explicar ao animal que é biologicamente impossível morde-lo, assim como, da mesma forma, o diretor não pararia para me explicar que é indiscutivelmente impossível fazer ele ou o mundo mudarem de ideia porque um adolescente de 16 anos não quer que seja assim. 

É que isso daria trabalho demais.

"Eu amo essa escola..."

"Já está feito, senhor Wagner", o diretor interrompeu, retirando os óculos negros e grossos dos seus castanhos olhos, que preenchiam um pequeno espaço da pele enrugada pela velhice. Ele parecia ter uns 75 anos, e com aqueles cabelos grisalhos e curtos, barriga e orelhas grandes e nariz pequeno poderia facilmente interpretar um idoso aposentado. 

Recostei no banco e cruzei os braços. Eu poderia surtar aqui e agora, mas não daria ao mundo este privilégio. O odeio neste momento o suficiente para me controlar. 

Como pode ser possível? Eu me esforcei tanto... E agora, a única coisa que eu precisava contar estava sendo tirada de mim.

A bolsa de estudos do colégio Paramythi.

Só pode ser brincadeira...

"Entenda que eu não posso fazer nada, senhor Wagner.", ele finalmente se pronunciou, o que me fez inclinar levemente a cabeça pela surpresa. "A escola está passando por dificuldades. Como você bem sabe, nós somos o melhor colégio da região, mas a quantidade de nossos alunos está abaixando, e, com ele, o orçamento que o governo nos dá mensalmente também. Nós temos que tirar a bolsa dos que estavam abaixo de qualquer jeito..."

Aquilo era mentira. Eles não estavam nos descartando porque o dinheiro está acabando, mas sim por causa das Olimpíadas. 

As Olimpíadas de Jovens Talentos era a maior competição entre escolas do mundo. A cada 5 anos, eles sorteiam um colégio para abrigar a competição, e em troca do feito a competição gravada dá maior popularidade e, consequentemente, mais alunos interessados em cursar a escola. 

Não era segredo como todas as instituições ao redor do mundo adorariam ter essa honra, principalmente a minha, que nunca teve tal privilégio. Mas neste ano, o diretor se superou. É visível ao andar pela escola as obras caríssimas que estão fazendo para melhorar a grande extensão de Paramythi, nós todos sabemos o porquê. Ano que vem começa as Olimpíadas, eles precisam de dinheiro para bancar e adivinha em quem estão descontando isso? 

"Com quantos alunos você fez isso?", perguntei. A maioria, eu imaginei, uma vez que eu, na verdade, estava relativamente no topo antes desse ocorrido.

Se Histórias Fossem Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora