Alaska andava com certa dificuldade pelos corredores de Hogwarts em direção a sua comunal. Suas costelas doíam mais que tudo e o que ela mais queria agora era entrar em sua banheira e descansar. Um grupo de lufanos passou por ela aos risos e com rapidez ela escondeu seu rosto com seu longo cabelo preto e cacheado. As masmorras não estavam muito longe então se ela conseguisse apressar os passos em pouco tempo chegaria ao seu objetivo sem que ninguém a visse. Infelizmente o destino não compactuava com isso pois pouco antes de virar o corredor para a comunal da Sonserina ela ouviu alguém lhe chamar. Não qualquer um, mas ele.
O ruivo a olhava pelas costas esperando qualquer resposta, mas algo no jeito que ela se comportava lhe disse que havia alguma coisa errada. Alaska virou-se pra ela com todo o cuidado em deixar seu cabelo cobrindo o que deveria e sorriu ao cumprimentá-lo.
- Oi George, o que faz por aqui sozinho?
-Eu queria ver você.
-Agora que já viu... - respondeu se virando depressa o que a fez gemer baixinho.
Algo que não passou despercebido pelo garoto.
-ta tudo bem com você? - perguntou com obvia preocupação
-claro, por que não estaria? - respondeu rapidamente
- você nao parece bem. - murmurou pra si mesmo
- você tá errado - tentou mais uma vez voltar seu caminho
Mas George agarrou seu braço antes que pudesse ir.
-por que está tentando fugir de mim?
-nao estou, eu só quero ir pro meu quarto descansar um pouco antes do jantar.
-entao por que não tá olhando pra mim?
George não entendia o que estava acontecendo, mas queria muito saber o que estava incomodando a garota. Com muita resignação ela se forçou a olhar pra ele e o que ele viu não era bem o que ele esperava. Ao invés de lágrimas, havia manchas roxas por todo o seu rosto levemente inchado, seu pescoço estava marcado como se alguém o tivesse apertado com força e pela forma com que ela andava deveria haver muito mais desses pelo restante do corpo. Seu olhar passou de choque a ódio puro, seu rosto estava tão vermelho quanto seu cabelo, até mais. Tudo o que ele queria agora era se vingar de quem quer que tivesse ousado tocar seu pequeno e precioso floco de neve.
- quem?
-nao importa
-quem foi que te machucou Alaska? me diz quem foi que eu vou arrebentar a cara dessa pessoa.
os olhos da garota se arregalaram em susto. George nunca usou desse tom com ela, ela nunca o havia visto irritado até aquele momento
-por favor, não pode fazer isso.
-e por que não?
-ele vai querer o dinheiro dele de volta e eu não posso devolver, eu realmente preciso.
-foi um deles não foi? um dos caras com quem você fica por dinheiro. me diz o nome.
-eu não posso.
-por favor, se você se importa comigo me diz o nome do desgraçado.
ele havia pegado pesado. não havia ninguém no mundo com quem Alaska se importasse mais do que ele e com muita relutância ela disse.
-Nott, foi o Nott ok. mas por favor, me promete que não vai fazer nada, eu não tenho como devolver o dinheiro que ele me deu e de qualquer forma, não é nada de mais mesmo. - ela estava tão desesperada em convencê-lo que perdeu o olhar de choque em seu rosto - Ele costuma fazer isso ok, me paga a mais pra me bater e me humilhar, é algo que ele gosta, mas dessa vez ele pegou um pouco mais pesado do que de costume ok. foi minha culpa, eu não deveria ter aberto a minha boca grande pra me defender. eu...
George não conseguiu ficar parado, ele estava preenchido pelo ódio, mas vê-la falar daquela forma o machucou de um jeito que ele não sabia explicar. Lágrimas brotaram em seus olhos e ele não se segurou ao se jogar em cima dela pra tentar de alguma forma protege-la e acalmar seu coração.
-por que? - perguntou com a voz fraca - por que continua fazendo isso?
-voce não entende - ela balançou a cabeça
-é claro que eu entendo, eu também sou pobre ok, sei como é não ter dinheiro pra coisas extravagantes, mas...
- NÃO - ela o empurrou - VOCE NAO SABE COMO É PORQUE VOCE TEM UMA FAMILIA GEORGE. -ela respirou fundo antes de continuar a falar, não queria que ninguém escutasse. - você tem pais que te amam, e irmãos que fariam de tudo por você. você tem um lar. e mesmo que comprem coisas de segunda mão e que o Rony tenha que ficar com as coisas usadas de vocês, ainda assim vocês tem um ao outro e comida pra encher a barriga de vocês e de seus convidados. Sabe o que eu tenho? - George não conseguia responder - Eu moro em um orfanato que por eu só ficar lá por parte do ano me tiraram a cama, eu durmo no sofá enferrujado da sala de leitura e assim que eu me formar eles vão me expulsar de lá. ninguém quer adotar uma garota da minha idade. E você ao menos tem noção de quanto custam os livros e materiais do sexto ano? mesmo os de segunda mão? e a passagem de trem? Eu tenho que acordar às três da manhã pra ir andando com uma mala enorme do orfanato até a estação kings cross só pra poder economizar pra passagem do expresso de Hogwarts. E caso não tenha notado, o que eu duvido muito, eu não troco de uniforme desde o terceiro ano, então vira e meche estou recebendo alguma detenção pela vestimenta irregular, mas eu não posso pagar por outro uniforme. Eu faço isso desde o quarto ano pra pagar aquela que me emprestou dinheiro nos primeiros anos e quando eu consegui terminar de pagar não me sobrou muito. E eu não ia pegar mais dinheiro com ela. - George escutava aquilo em silêncio, engolindo em seco a cada palavra, sua garganta doía e nem era ele que me estava falando. - Se não fosse por você me convidar pra passar parte das férias na sua casa eu poderia estar morta de fome, o orfanato não recebe muitas doações então a comida fica pros menores e quem tem quinze anos que procure um emprego. Então se eu tenho que passar por algumas pequenas humilhações pra conseguir me formar e conseguir me manter até conseguir um emprego decente então é, com certeza é um sacrifício que estou disposta a fazer.
Sem conseguir olhar no rosto do garoto e ver pena ou pior repulsa ela se virou e entrou em seu dormitório, sem conseguir manter as lágrimas dentro dos olhos.
George continuava ali, parado, completamente em choque com as revelações sobre a vida que ela levava. seus punhos estavam tão fechados que os nós de seus dedos estavam brancos e ele se sentiu fraco por não poder salva-la de tudo isso.
Minutos depois Fred que estava escondido a alguns metros de distância chegou e abraçou seu irmão o tirando dali.
Uma semana havia se passado desde a conversa no corredor. Nenhum dos dois haviam trocado uma palavra desde então. Alaska achava que assim era melhor, ela sentia falta dele é claro, mas não queria arrasta-lo para a sujeira que era a sua vida. Sua pele estava levemente avermelhada aquela manhã, ardia um pouco, mas naquela noite durante o banho ela não conseguiu evitar tentar arrancar a sensação de estar suja de sua pele quando a esfregou. Ela sempre se sentia assim quando via George depois de um de seus programas. Ela não podia evitar, o amava. Mas jamais conseguiria ficar com ele enquanto estivesse nessa vida. Ele teria que aguentar muita coisa, principalmente dos garotos da Sonserina e ela queria protegê-lo. Sua cabeça estava baixa durante o café da manhã então ela não viu George a observando de sua mesa e muito menos a coruja vindo em sua direção, então foi um susto quando um pacote enorme caiu em sua cabeça aterrissando no chão. Com cuidado ela viu que ela era o destinatário e ao abrir seu coração havia parado. Havia um uniforme completo de segunda mão ali, ela não tirou do pacote, é claro, não queria que vissem, mas ela estava vibrando de tanta felicidade. O que acontece é que George pegou parte de suas economias das vendas e encomendou para ela um uniforme de tamanho adequado. Não era muito, mas era o que ele poderia fazer naquele momento.
Alaska levantou seus olhos procurando por ele, é óbvio que havia sido ele, ninguém mais faria algo assim por ela. e não pode evitar sorrir ao notar que ele já estava olhando naquela direção. movendo os lábios ela sussurrou um "obrigada" ao que foi respondido com um "tudo por você floco de neve" e lágrimas escaparam de seus olhos, mas dessa vez, de felicidade
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Imagines Harry Potter
Fanfictionuma coletânea de pequenos textos sobre a mesma garota e a mesma vida.