1. Campo dos Mestiços

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Acordei sozinho na cabana número 13 no Campo dos Mestiços. "O que são mestiços?" perguntam vocês. Só vai para este acampamento de férias quem é semideus, ou seja, um dos parentes é um Deus Grego e o outro é humano.

Cada um dos Deuses tem uma cabana própria, onde ficam os seus filhos. Hipoteticamente os Três Grandes: Zeus, Poseidon e Hades, não deveriam ter filhos por causa de um acordo muito antigo, mas todos eles o quebraram, sendo que eu sou filho de Hades. Os restantes dois também têm filhos, não pensem que Hades é o malfeitor deles todos, porque não é. Já os outros Deuses também, andam por aí espalhados e por esse motivo decidiu-se que todos os deuses que tivessem filhos deveriam reconhecê-los quando estes completassem doze anos.

Como Hades não tem mais nenhum filho a não ser eu, não preciso de partilhar a cabana. O que é bom, assim tenho o meu próprio espaço.

Saio da minha cabana e dirijo-me para o local de refeições. Sento-me na mesa destacada para Hades. Sim, as mesas também estão divididas por Deuses. Mas quase ninguém cumpre mais essa regra, como podem ver, quando Will Solace, filho de Apolo, Percy Jackson, filho de Poseidon e a Annabeth Chase, filha de Atena, vêm juntar-se a mim para o pequeno-almoço.

O Percy e a Annabeth namoram há mais de dois anos então não é de espantar ver os dois se beijarem quando se sentam. Eles chamam a isso "beijo de bom dia", o que eu acho demasiado cliché. Não posso reclamar muito pois Will faz-me o mesmo quando se senta ao meu lado. Esqueçam aquilo de ser demasiado cliché, eu até gosto. Não posso pensar assim quando ele me beija assim.

Quando interrompo o beijo, dou-lhe um encosto de brincadeira e rimo-nos os dois.

- Ora, eu sei que tu adoras quando eu faço isto, Nico Di Angelo – diz com um sorriso atrevido. Eu reviro os olhos a esse comentário mas eu sei que ele sabe que eu adoro que me beije.

- Obviamente, Will Solace – digo com sarcasmo.

- Então Nico, como estão essas dores de cabeça? – pergunta Annabeth, mas eu sei o que é que ela realmente quer saber. Se vou ouvir o Bob e ajudar ou se vou continuar assim.

O Bob é um Titã preso no Tártaro, local onde os monstros, gigantes e criaturas desse género vão quando morrem temporariamente. O que quer dizer que eles morrem mas voltam a atormentar-nos a nós, semideuses, depois de um certo tempo, que pode variar.

Percy e Annabeth encontraram-no quando estavam no Tártaro. Uma longa história mas resumidamente, eles caíram numa fenda que dava diretamente para o Tártaro e, já que estavam lá, tinham como missão fechar as portas da morte. Assim as criaturas mesmo más não podiam ajudar Gaia, a Mãe da Terra, que queria destruir os Deuses e tomar o controlo. Felizmente, Percy e Annabeth conseguiram fechar uma das portas e eu, com outras pessoas da tripulação do Argos 2, conseguimos fechar a porta do outro lado, derrotando Gaia na batalha final.

Bob é um Titã inocente e bondoso que está lá preso e tenta pedir ajuda-me para regressar à superfície. Graças ao meu parente, eu consigo viajar nas sombras e saber quais são as passagens para o Tártaro. Também consigo sentir quando alguém morre, ou está à beira da morte. Acho que é por isso que o Bob consegue fazer esta ligação comigo.

Eu já me tinha decidido, ia salvar Bob. Mas houve um desentendimento: Will não me deixa ir sozinho, ele próprio diz que se eu for ele vai comigo. Se não, não me deixa ir. Ele acha que me pode ajudar, sendo ele filho do Deus da cura, se eu me sentir mal. Não quero admitir que ele tem razão mas eu gasto muita energia sempre que viajo pelas sombras. Às vezes chego até a perder a consciência.

Mas eu não quero colocá-lo em risco. Já é suficientemente perigoso eu ir lá para baixo, não quero que ele vá também. Não quero que se magoe por minha causa. Ou, neste caso, do Bob. Não importa, não quero que ele corra perigo.

Percebo que fiquei demasiado tempo calado e suspiro, respondendo finalmente à pergunta:

- Continuam. O Bob não desiste de me contactar. O que é compreensível – respiro fundo antes de declarar a minha decisão. – Vou trazer o Bob para cima.

Ficam todos a olhar para mim durante algum tempo. As suas caras eram uma mistura de alívio e preocupação ao mesmo tempo. O primeiro a falar foi Will:

- Ótimo. Quando partimos? – disse no plural. Ele assumiu que iriamos juntos. Eu não gosto da ideia de ele vir. Mesmo que me sinta fraco depois das viagens, não gosto que as outras pessoas me vejam assim. Não que Will já não me tenha visto. Já me curou tantas vezes que até me sinto doente. Ainda mais, é mais cansativo viajar com mais pessoas. Eu fico melhor sozinho.

- Will...

- Nem comeces. Concordámos que se fosses para aquele inferno iríamos juntos. Tu prometeste, Nico – interrompe-me e depois percebe o seu erro. Tocou num ponto sensível: promessas. Eu perdi a minha irmã quando tinha onze anos e nessa altura tinha pedido ao Percy que a mantivesse a salvo. Ele prometeu que o faria. Mas ela morreu e eu odiei-o por muito tempo, mas depois percebi que a culpa não tinha sido dele. Era uma criança, não percebia este tipo de coisas. – Eu...Nico, desculpa. Não queria...

- Tens razão, eu prometi. Isto e o que falámos quando começamos a namorar. Não posso fazer isso contigo. Não te vou falhar.

Pego na torrada e começo a comer, pondo fim à conversa.

É normal o resto do grupo ficar confuso pois só eu e o Will sabíamos qual era a promessa que fizemos um ao outro assim que decidimos iniciar o nosso relacionamento.

Solangelo - Nico e Will no TártaroOnde histórias criam vida. Descubra agora