3. Preparação para o Tártaro

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Depois de acabarmos o pequeno-almoço, decidimos ir falar com o Quíron, o professor centauro que nos ensina as coisas básicas do mundo dos Deuses e organiza as missões.

Caminhamos de mãos dadas em direção à cabana principal. Will não falou nada durante o caminho todo até ao gabinete do Quíron. O que se calhar se devia ao receio em relação ao que estávamos prestes a fazer. Quando lá chegamos, explicamos-lhe o motivo da nossa missão. Agora cabia-lhe decidir se aceitava ou não a proposta.

- E como sabem vocês que ele é inocente?

- Quíron, ele ajudou a Annabeth e o Percy a encontrarem a porta da morte, fechá-la e sair do Tártaro. Deu-lhes abrigo e comida quando precisaram. Acredite, ele não é como os outros. Nem todos os Titãs são maus – digo com determinação. Tenho o talento de persuadir as pessoas.

- Estou a ver. Bem, não é uma missão muito urgente e digamos que é de alto risco. Além disso duas pessoas numa missão...não sei se daria muito certo – para de falar e avalia a proposta. Sei que Quíron não gosta de submeter os campistas a este tipo de perigo que pode existir numa missão. Mas também sei que tem bom coração, demasiado bom ao ponto de querer savar Bob  – Muito bem, podem ir à caverna consultar o oráculo.

Com a sua aprovação, saímos e começamos a andar em direção à floresta onde fica a caverna da humana Rachel Elizabeth Dare, a nossa oráculo. Ela assumiu esse cargo há três verões atrás, quando descobriu que tinha o dom de Delfos, O Oráculo. É extremamente raro uma humana ter esse tipo de dom, mas não é impossível.

Will afasta a cortina que faz de porta, revelando uma pequena sala com um sofá e uma enorme estante cheia de livros. As paredes estavam gravadas com a história da mitologia grega.

Rachel, que estava sentada no seu cadeirão, levanta-se assim que nos vê entrar.

- Então pombinhos, o que vos traz por cá? Se for para saber se vão ficar juntos para sempre não precisam de uma profecia. Garanto-vos que só a morte vos irá separar – ela sorri abertamente para nós.

Se fosse noutro momento talvez risse e corasse enquanto agarrava a mão de Will, mas agora não era boa altura para esse tipo de piadas. A única coisa que se mantem é o facto de eu estar realmente de mãos dadas com o Will.

- Percebido, hoje não – ela parece arrependida mas não deixa de nos sorrir calorosamente – Qual é a missão?

Deixo o Will explicar de novo o que tínhamos de fazer e assim que acaba, Rachel encaminha-nos para o seu cadeirão, sentando-se no mesmo.

Após alguns segundos, começa a exalar uma fumaça verde do seu corpo, dando início à profecia:

O sol e a sombra juntos trabalharão,

E pela escuridão do Tártaro entrarão,

Com a ajuda do rei fantasma irão lá chegar.

Sobrevivam ao rio do esquecimento,

E o Titã procurem onde a sua fé deve estar,

Assim o sol voltarão a ver nascer sem arrependimento.

Para que esta missão corra bem precisamos de entender a profecia corretamente. "O sol e a sombra juntos trabalharão" é óbvio, refere-se ao Will e a mim. "E pela escuridão do Tártaro entrarão/ Com a ajuda do rei fantasma irão lá chegar "  significa que teremos de usar o meu poder das sombras e eu sou o rei fantasma por esse motivo. O quarto verso deve ser algum dos problemas, talvez o mais difícil, que iremos enfrentar. O verso seguinte é que não faço ideia ao que se refere. Pergunto ao Will e ele também não sabe. O último mostra que, em parte, iremos sair vitoriosos, se fizermos o que dizem os outros versos, é claro.

Sou arrancado dos meus pensamentos profundos quando sinto a boca do Will contra a minha. Relaxo e deixo-me levar pelo beijo.

- Não te preocupes. Sei que pode parecer mesmo muito surreal o que vamos fazer mas vamos estar juntos, pensa nisso. Custe o que custar?

- Custe o que custar – digo suspirando.

- Vamos descontrair, está bem? Precisamos de aliviar antes de nos metermos naquele inferno...e aproveitar para estarmos juntos – sei que é normal sentir que esta tarde pode ser a nossa última, mas ouvir o Will dizê-lo torna tudo mais real.

Com esse pensamento na cabeça puxo-o para um abraço. Não costumo ter iniciativa de nada que tenha a ver com contacto físico e Will sabe disso. Por isso ele agarra-se a mim como se eu fosse fugir e nunca mais voltar. Ficamos assim durante algum tempo até percebermos que estamos os dois a chorar. Will limpa as minhas lágrimas com o seu polegar e a seguir limpa as suas.

Andamos até à praia e sentamo-nos perto da água. Ficamos abraçados em silêncio. E não precisamos de mais nada. Só um do outro. Mesmo quando o sol se começa a por não nos queremos largar.

Queria aproveitar os meus possíveis últimos momentos com a pessoa que amo. Não quero perder Will. Se soubesse de alguma forma de o salvar e isso significasse sacrificar-me, fá-lo-ia. Tentei mesmo convencê-lo a deixar-me ir sozinho mas ele pensa da mesma maneira que eu. Os dois daríamos a vida um pelo outro. 

Aproveito para sentir o seu corpo quente contra o meu o máximo possível. Não quero deixá-lo ir. Mesmo já estando praticamente colados um ao outro eu chego-me mais perto dele. Abraço-o com mais força enquanto enfio a minha cara no seu pescoço. Ele aperta-me em resposta e pousa a sua cabeça sobre a minha.

- Will, temos de preparar as coisas para amanhã – digo sem fazer questão de me levantar.

- O Percy e a Annabeth disseram que tratavam disso. Acham que é o mínimo que eles podem fazer.

Assinto com a cabeça e continuamos a olhar para o mar até anoitecer. É quando decidimos que precisamos de ir dormir. Levantamo-nos e fazemos o caminho de volta para as cabanas.

Will acompanha-me até à minha cabana e dá-me um beijo de boa noite, indo logo em seguida para a sua.

Nessa noite quase não consegui dormir, o que era mau já que amanhã iria precisar de todas as minhas forças. Além disso eu não costumo ter dificuldades para adormecer. Deve ser do nervosismo. Lembro-me de ter passado algo parecido quando tive a minha última missão mortal.

Por fim adormeço, mas não num sono tranquilo. Sonho com a profecia e com o que vai acontecer amanhã.

Solangelo - Nico e Will no TártaroOnde histórias criam vida. Descubra agora