Onde está Wei Ying

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Lan Wangji olhou para o corpo encolhido à sua frente, aquele corpo que ele havia aprendido a amar profundamente. Não era pequeno, porém parecia quase infantil com os joelhos próximos ao peito e apenas o rosto aparente nas dobras do cobertor.

Apesar de estar imerso em panos, Mo Xuanyu não parecia desconfortável. Pelo contrário. Sua feição era serena e apática, os membros em posição fetal estavam relaxados sobre a esteira de bambu. Um sol fraco de fim de tarde atingia o pátio, lançando tons dourados em seu rosto. Ele abriu os lábios e falou, o tom de voz plano e monótono:

- O médico diz que eu tenho uma doença na mente.

Lan Wangji engoliu em seco e não respondeu, permaneceu sentado rigidamente em frente à esteira sobre a qual descansava Mo Xuanyu.

Uma doença na mente.

Todos sabiam que Mo Xuanyu era lunático, mas quem poderia dizer que ele era de fato maluco, medicamente falando. Louco além das possibilidades de tratamento.

Quando o comportamento de Wei Wuxian começou a mudar, Lan Wangji não viu motivos para se preocupar. Talvez ele estivesse cansado dos Recantos da Nuvem, ou entediado, ou lapidando alguma ideia sobre um talismã novo ou coisa do gênero.

Mas lentamente as alterações se acentuavam. Ele falava menos, e às vezes sozinho; se questionado, explicava com detalhes sobre os fantasmas com quem estava se comunicando. Lan Wangji não sentia a presença daqueles espíritos, entretanto seu esposo era muito mais versado no uso da energia yin e no contato com essas entidades, então houve o benefício da dúvida. Mas todos aos poucos notaram. As instruções de Wei Wuxian para os juniores nas caçadas noturnas ficavam mais e mais erráticas, presos em intensas perseguições a monstros que não existiam.

A preocupação tomou conta de Gusu, embora o núcleo da família tentasse ocultar o problema e encontrar soluções internamente. Lan Qiren proibiu que Wei Wuxian saísse sozinho com os discípulos, e Lan Wangji adicionou à sua extensa lista de tarefas o fardo de supervisionar seu marido para que não colocasse os juniores em perigo e para que as caçadas noturnas continuassem sendo didáticas.

Lan Wangji estava cada vez mais cansado. Wei Wuxian interagia menos, perdido em pensamentos pelos cantos, e, quando falava, suas palavras gradualmente se esvaziavam de sentido e era difícil manter um diálogo completo. Ele precisava ser lembrado de tomar banho e esfregado. Ele não faria a barba ou trocaria as roupas sozinho, não que houvesse algum impedimento físico, mas porque parecia não se importar mais.

Perdido, o clã Lan deixou a situação se arrastar enquanto procurava soluções. Nada nas avaliações que faziam indicava que fosse um problema espiritual, mas tinha que ser.

Tinha que ser.

Todos sabiam que o cultivo demoníaco prejudicava o espírito, e o que mais deixaria Wei Wuxian tão fora de si? Mas ele era colaborativo e seguia Lan Wangji como um patinho segue a mãe, por isso os anciãos do clã acharam que tinham tempo para resolver a questão.

Então Wei Wuxian atacou Jin Ling.

Jin Rulan já era um homem feito de 20 anos e eles se encontraram numa área de floresta durante a noite, na perseguição de um cadáver feroz que rondava a cidade próxima. Um momento de descuido de Lan Wangji foi tudo o que Wei Wuxian precisou para acertar a cabeça do sobrinho com uma pedra pontuda que pegou do chão.

Jin Ling, no chão, a vista embaçada, tentava se proteger com os braços, sem coragem de erguer a espada para o seu tio como no passado. Os servos e discípulos Jin tentaram pegar o agressor, mas foram barrados pelos juniores de branco, que protegiam seu mestre. Havia gritos e ameaças e xingamentos no ar noturno. Lan Wangji, atônito, segurava um Wei Wuxian irado que alegava que o Jin Ling diante deles era um impostor, um ser maligno que precisava ser extirpado da terra antes de trazer mais maldade.

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