Makes me forget

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O suor escorria pela nuca pálida de Ayato, ainda que, naquela noite de braseiros e velas completamente apagadas, a coisa que mais se destacasse na aparência dele fossem as bochechas avermelhadas. A pele tão quente que parecia pegar fogo e o silêncio que era interrompido por seus gemidos desconexos.

A cama rangia e então, com uma estocada mais funda, Ayato se esquecia de quem ele era. Ele fechava os olhos, arqueava o corpo e aceitava os chupões de Itto contra seu pescoço, os lábios ásperos dele perto de seu pomo-de-adão, mãos firmes segurando sua cintura e deixando mais marcas para serem escondidas por seu kimono no dia posterior.

Ele resmungava, dolorido e torpe pela bebida, quando uma mordida profunda era deixada em seu ombro. Mas em retaliação, sua boca era coberta e as costas empurradas contra o lençol úmido de suor. Com os membros presos contra a cama, sua coxa era erguida e, se possível, com um som mais obsceno ainda, Itto o penetrava forte e ia mais fundo dentro dele.

Quando revirava os olhos, era Itto quem o beijava. Era Itto, não era ele. Mas Ayato não tinha qualquer escolha senão aceitar, senão enroscar suas mãos entre os ombros alheios e aceitar o toque bruto daqueles lábios quase esmagados contra os seus. E ele não mentiria sobre o quanto aquilo era bom, sobre o quanto gostava da sensação do oxigênio sendo arrancado de seus pulmões, do quanto saboreava-se ao ver um homem íntegro e honesto como Itto perdendo a cabeça por ele, tornando-se um perfeito animal, nada mais que uma mísera gota de ideais racionais perdidos em um mar de instintos. Mas ele não se tornava só um animal qualquer, mas sim seu animal, lembrando-o — entre os intervalos dos orgasmos, mais longos do que gostaria — do que o luxo de alguém enganador e ganancioso como Ayato poderia fazer com as pessoas.

Outra estocada funda, o pau grosso e completamente gostoso de Itto fazendo um grito de prazer engasgar-se na garganta de Ayato. Ele gemia um nome, aquele nome que soava como a melodia de um coração partido em seus lábios, mas Itto não se importava de não ser o dele.

Ele sabia que era sujo. Molhado demais. O gozo escorria de sua entrada e o fazia liso, sucinto à outro escorregar perfeito diretamente em sua próstata. Arfava, engasgando em prazer. Mais rápido, mais bruto, com força suficiente para rasgá-lo e deixá-lo cheio. Era bom, era ótimo, do jeito que ele queria.

E Ayato agradecia aquilo, agradecia tanto ao fato de não conseguir pensar, que se sentia quebrado por dentro, sufocado por um sentimento de alívio que comprimia seu tórax tanto quando seu ânus apertava-se contra o membro alheio. A fraca memória do porquê tinha escolhido passar aquele tipo de noite — aquelas noites, diga-se de passagem — com Itto, vagava rapidamente por sua mente nublada, lembrava-o de que tudo passava de um puro ato de pena dele.

Porém, quando sentia o prazer derretê-lo por dentro daquela forma, Ayato realmente não ligava sobre não se importar. Ele fingia que não era quem fora criado desde a infância para ser, que não existiam obrigações além de rebolar seu quadril para Itto atingir um ponto mais fundo de si, mais prazeroso, e que a luz do amanhã não chegaria nunca. Nunca.

Ele fingia que o som de seus criados o chamando incansavelmente eram apenas notas, e que o clamor de seu choro sussurrado não passava de uma música repleta de agonia, quando pensasse nele...

Quando pensasse nele, talvez a lembrança pura estivesse maculada pelo mesmo roxo dos chupões em sua clavícula. E o som da voz dele, de repente, se parecesse com os arfares graves da voz de Itto. E o toque, da mão sempre tão quente, se transformasse em algo mais calejado, cujo aperto era afiado de unhas escuras em sua derme.

Mas não o mudaria. Porque ele continuava sendo ele. E Ayato continuaria acorrentado ao sorriso dele, esperando um escape, um elo frouxo no metal ou uma sentença que soasse igual, porém perpétua, ao branco que agora empurrava sua mente em direção do clímax.

Então ele entreabriria mais os lábios anestesiados de álcool para sorrir. "Me dá mais" imploraria, ainda que os gemidos o fizessem gaguejar a frase. "Fode mais forte, Thoma".

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