Capítulo Cinco

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⚜️Verônica ⚜️

O vento que bate em meu rosto ajuda a secar minhas lágrimas enquanto corro o mais rápido que posso, segurando a bainha do meu pesado vestido.

Eu nunca me senti tão humilhada e vulnerável. Pensar no sorriso zombador de Gabriel perante minha fraqueza em seus braços ainda faz minhas lágrimas derramarem mais rápido. Eu não sei em que momento me perdi e deixei que ele tivesse percebido. Amaldiçoei meu corpo por ter sido traiçoeiro; e minha mente, por ter o desejado. Onde eu estava com a cabeça, para ter voltado lá?

É claro que um dia estaria sujeita a ser pega! Minha imprudência saiu cara. Ele me humilhou, negando o beijo, e vai me humilhar com isso pelo resto da vida, como sempre fiz com ele. Por mais que eu tente, nunca odiei o cheiro dele, muito menos a cor de sua pele. Céus, como o cheiro dele é bom, másculo e afrodisíaco! O contato com seu corpo forte e quente me queima cada vez que encosto nele, e foi isso que me deixou sem noção.

Nestes dez anos que se passaram, Gabriel está ainda mais bonito e atraente. Seu corpo forte, seu olhar está mais intenso. Nem a raiva acometida nele o deixa menos dócil. Senti tanta saudade dele, que não resisti em espiá-lo.

Corro e lembro das palavras de meu pai durante minha infância, que ecoam na minha mente, como um aviso que ignorei.

Verônica, não quero você perto daquele fedorento. Lugar de negro é na senzala. — Ele falava, com ódio na voz.

Pai, por que eu não posso brincar com Gabriel; e com Luana, que também é mulata, eu posso? Eles não são escravos. — perguntava, confusa.

Gabriel é menino. Fica avisada. Se te vir com ele novamente, eu te proíbo de sair da casa grande. Não quero você se engraçando com negro. — Tive minha resposta, e depois, ele deu as costas.

Na época, acatei à ordem, sem entender direito essa conversa de menino, e fui afastando Gabriel de mim o máximo que pude. Confesso que fui bastante rude com ele. Não perdia uma oportunidade de o humilhar, usando as mesmas palavras preconceituosas de meu pai; mas foi necessário, se não queria perder minha liberdade.

Só que por mais que eu o afastasse, mais próxima eu parecia estar dele, e ele de mim.  Conforme fui crescendo, também fui percebendo os receios de meu pai, sobretudo, após aquele inocente beijo. Ele nunca aceitaria que eu me envolvesse com um negro, com Gabriel. Meu pai é um senhor de escravos, é preconceituoso, e desde sempre os castigos na nossa fazenda aos negros são constantes. Por isso sua revolta contra a família do Barão Albuquerque. Além da disputa pelas terras, também nunca entendeu por que alforriaram todos os escravos e pagam por seus trabalhos, sendo que lucram menos em seus negócios.
Sua revolta se voltou também contra minha mãe, por ser tão dócil e compassiva com os negros, sobretudo, por sempre me incitar a não seguir os passos maldosos dele. Ah, como eu sinto a falta dela. Meu coração aperta.

Durante estes dez anos sendo criada por minha tia, eu pensei que nunca mais veria Gabriel, e até esqueci dele por uns tempos; mas naquele dia em que ele esbarrou comigo no salão de chá e seus olhos cor de avelã me olharam de forma surpresa, com a mesma doçura que eu sempre vi neles, apesar das nossas brigas, tive que vestir novamente a pele de meu personagem. Eu tinha que manter ele longe de mim, por mais que doesse, ainda mais com minha tia presente. Ela é igual ou pior que meu pai.

Mesmo com o esforço, não consegui ser convincente o suficiente, pois ela, percebendo minha inquietude nos dias seguintes ao nosso encontro, contou para o meu pai sobre os livros.

Claro que ele foi tirar satisfações com a família Albuquerque, com a intenção que Gabriel ficasse ainda com mais ódio de mim e se mantivesse longe.

Ah, Gabriel, por que você? Justo de você?

Já perto de casa, sentei no chão, sem me importar com o vestido, limpei minhas lágrimas e tentei me recompor.

Eu não podia entrar em casa assim.

Felizmente minha tia partiu há semanas. Pelo menos com ela eu não tinha mais que me preocupar. Mas se meu pai me visse nesse estado, ia querer saber o motivo, e eu não podia ser novamente afastada da fazenda.

— Verônica, você está bem? — Leila aproxima-se, preocupada quando me vê chegar.

— Não, Leila, não estou — respondo, abatida.

— Se ajeite, querida. Seu pai já chegou. — Ela avisa, num tom apreensivo.

Respiro fundo, limpo mais uma vez o meu rosto e entro em casa.

— Onde esteve? — A voz seca e severa de meu pai ecoa na sala.
Ele nem mesmo se vira para me olhar, continuando sentado, de costas para mim enquanto fuma seu charuto.

— Fui dar um passeio pelas terras. — Tento soar o mais calma possível.

— Você não foi encontrar aquele negro, não é mesmo? — Ele se levanta para me encarar.

Meu coração quase salta fora, e eu rezo para que meu rosto e minha voz trêmula não me denunciem.

— Não, pai. Você sabe que nunca nos demos bem.

— Acho bom, senão, terei que voltar a mandá-la para a casa de sua tia. Agora, volte para o seu quarto — ordena, desconfiado.

Assinto e começo a seguir na direção dos quartos, mas num momento de coragem, me viro para encará-lo novamente.

— Quando posso vê-la?

Ele traga mais um pouco do seu charuto calmamente enquanto me olha, como se lhe desse prazer ver meu rosto de súplica.

— Não por agora.

— Pai, eu preci...

— Volte para o seu quarto, eu já mandei! — Ele grita, cortando minhas palavras.

Encaro-o por mais uns segundos enquanto uma lágrima molha novamente meu rosto, então sigo para o meu quarto.

Deito na cama e permito-me chorar novamente.

Meus pensamentos agora são dela, da minha mãe.

⚜️ ⚜️ ⚜️

Então ela não odeia Gabriel? O que está acontecendo?

Esse pai da Verônica, parece filho do cão 😰

Espero que estejam gostando dessa história. 😍

Até o próximo! 😘

Até o próximo! 😘

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