Introdução

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As famílias de Ruud Vandresen e Drika Hendriks chegaram ao Brasil em 1951, com um grupo de imigrantes neerlandeses, vindos de Breda, cidade localizada na província de Brabante do Norte, na região dos Países Baixos, ao sul da Holanda. Ruud contava com dois, Drika com um ano de idade. 

Assolada pela Segunda Guerra Mundial na Europa, os holandeses não viam muito expectativa de vida em meio ao caos que se instalara. Motivados com o apoio da imigração, grupos de holandeses deixaram o seu país em busca de uma nova oportunidade de vida no Brasil, onde foram instalados numa área rural, dando origem à colônia de Holambra.

Passados dezesseis anos após a sua chegada, as famílias Vandresen e Hendriks se uniram, Ruud e Drika se casaram em 1967, numa cerimônia típica holandesa ao som de muita música e comida típica, ambas misturadas ao som e à culinária brasileira. Drika então contava com dezessete e Ruud com dezoito anos. E contrariando o ofício dos pais, que ainda insistiam na produção da horticultura, o jovem casal aderiu ao cultivo de flores a exemplo de outros colonos que encontraram na atividade uma nova fonte de renda, aliando à tradição holandesa de cultivar flores, à necessidade do sustento diário.

E assim os anos se passaram e a vida seguia em meio às dificuldades, uma delas era a de Drika engravidar e quando conseguia não segurava a gestação, fato esse que se estendeu num espaço de dezoito anos, ela já havia perdido as esperanças, mesmo porque estava com trinta e cinco anos. Mas contrariando todas as frustrações é que no outono de 1985, no mês de maio, Drika Hendriks Vandresen conseguiu levar a gravidez até o fim. Nasceu uma menina, chegou ao mundo auxiliada por uma enfermeira local, para felicidade de Drika que já estava com idade considerável, e foi agraciada com a benção da maternidade dando o nome à menina de Yolanda – que significa flor de violeta -, uma forma de homenagear a avó materna de Ruud, que tinha origem espanhola, radicada na Holanda e depois no Brasil e que há pouco mais de três anos havia falecido. Ela não escondia a admiração pela Belga, Yolanda de Flandes, imperatriz de Constantinopla, no século XII, que governou o Império Latino, cujo reinado durou apenas dois anos. Mas a referência a flor de violeta também era pelo fato da família estar se dedicando à produção de flores. Logo, Yolanda caia muito bem para a filha de alguém que tirava o sustento com o plantio de espécies tão belas e delicadas.

O tempo passou e para surpresa de Drika, dois anos depois de ter dado à luz, ela engravidara do segundo filho, Joep. Os anos de tentativas e espera brindaram os Vandresen com um casal de filhos. Yolanda ainda com sete anos começou a aprender a cuidar das mais diversas qualidades de flores com suas cores, tipos e aromas variados, nutrindo um carinho especial pelas flores de maio, cuja atenção e cuidados eram distribuídos sem reservas, pois eram suas preferidas. Tinha um hábito peculiar de conversar com elas assim como com outras espécies. Na forma como lidava com elas, dava a entender que as ouvia e entendia o que estavam "sentindo ou conversando". Muitas pessoas achavam estranha esta sua atitude, outras achavam engraçado ao ouvi-la se dirigir a uma planta da maneira como fazia, como se estivesse realmente dialogando com uma pessoa.

E era com elas que passava a maior parte do tempo, quando não estava na escola ou em casa com os pais e seu irmão mais novo, Joep. Ainda assim, mesmo estando em casa, ela sempre se punha a cuidar de um vaso ou canteiro de flores, às vezes, na tentativa de colar um galho que se quebrava, ela enrolava-o com uma tira de pano, como se fosse um curativo, e não eram poucas vezes que tais cuidados ajudavam na recuperação da flor.

Já na pré-adolescência e diante de tanto carinho e cuidado com as plantas, a cor dos seus olhos parecia aumentar de intensidade quando, por exemplo, parava para contemplar e apreciar uma orquídea. Realmente, havia uma ligação especial entre ela e as plantas, o seu magnetismo feminino, pessoal, se mesclava ao das flores, como se estabelecesse uma conexão entre elas.

Os pioneiros que ajudaram a fundar a colônia, quando percebiam que uma planta se mostrava desvitalizada, às vezes, quase sem vida, depositavam-na aos cuidados da menina Yolanda, que crescia em beleza, sensibilidade e graça. Com todo carinho e amor que devotava a elas, não era raro que uma flor em vias de morrer, voltasse à vida com folhas e cores vivificadas, após passarem um período com a filha dos Vandresen. A alegria e admiração estampadas nos rostos dos que assim procediam em relação a ela, trazia alegria e aumentava ainda mais a familiaridade com que Yolanda lidava com as plantas. Questionada sobre qual seria o segredo que usava para que as flores se reanimassem, ela apenas dizia com um sorriso: "É só tratá-las como seres vivos que são e dar-lhes muito amor".

Com o passar do tempo a menina já havia crescido em estatura e de certa forma, em maturidade. Além da beleza e carisma que lhe caracterizavam, ela era conhecida por muitos na colônia, não só pelo jeito de cuidar das plantas, mas também como Yolanda de Holambra. Era assim que carinhosamente a chamavam.

Nos primeiros anos da adolescência, Yolanda Vandresen não fazia questão de se casar com nenhum dos filhos de imigrantes, não aderindo ao costume de casassem entre si. Se dependesse da vontade dos seus pais, Yolanda se casaria com um dos filhos de antigos conhecidos, mas ela não estava interessada. Não lhe despertara nenhum interesse pelos rapazes do lugar, embora tivesse crescido e vivido entre eles, também nascidos no Brasil. No entanto, os seus sentimentos não haviam sido despertados por nenhum deles. Seu gosto estava mais para os de sua nacionalidade do que de sua descendência.

Contudo, a beleza da filha do casal Vandresen era motivo de inveja e ciúmes por parte de muitas mulheres. O seu jeito natural de ser encantava a todos e os rapazes solteiros não ficavam de fora, no entanto não era necessário jogar charme ou fingir bonomia e sensibilidade, porque estas eram próprias dela. Não era uma pessoa perfeita, tinha lá suas dificuldades, como acontece a todo ser mortal. Entretanto, não deixava de ser uma jovem encantadora.

Certa vez ela disse para algumas moças e senhoras do local: "Cada pessoa tem seu encanto. O charme não tem nada a ver com a beleza exterior. Existem mulheres extremamente belas nas formas, mas há também as extremamente belas no jeito de ser, com charme e sensualidade, sem exibir vulgaridade".

Parecia provocação para algumas jovens ou mulheres formadas que ainda não conseguiram se casar, melindravam-se com a atenção e elogios direcionados a ela, sentiam-se "prejudicadas" pelo fato dos olhares masculinos - homens e jovens - estarem sempre voltados para ela. Mas ela não era a única do sexo feminino que tinha uma beleza invejável, haviam outras tão belas quanto, contudo havia algo de diferente na filha do casal Vandresen, provavelmente pelo seu jeito simples, simpático e carismático que a caracterizava.

E foi com toda a sua naturalidade e simplicidade que surgiu o interesse por um rapaz que não vinha de descendência holandesa. O primeiro olhar entre eles aconteceu durante uma festa na cidade. Ambos eram ainda muito jovens, ela com quinze anos e ele com dezessete e foi a partir daí que conheceram o amor. Era uma relação de adolescentes, ainda assim o que estavam sentindo um pelo outro não deixava dúvidas de que era o amor. Com o passar dos meses e a relação ficou mais sólida, as famílias se conheceram, se relacionavam, ora para festas, negócios, era uma relação saudável e respeitosa.

E foi no espaço de um ano assim, até que ele precisou mudar com os pais e a irmã para o Rio de Janeiro, onde foi aprovado numa conceituada universidade para estudar medicina e para lá se mudou com a família.

O pai do rapaz era representante de uma indústria de tecidos e preferiu morar na cidade por causa do clima temperado e como não tinham parentes morando ali, e como queriam transferi-lo para outro estado da sua preferência, ele optou pela cidade carioca, unindo o útil ao agradável. Sendo assim, e pela força das circunstâncias Yolanda e o namorado precisaram se despedir e nunca mais tiveram notícias um do outro. 

Acharam melhor cada um seguir adiante, ele liberando-a de qualquer compromisso, porque não teriam como manter um relacionamento a distância, este seria um ponto difícil de resolver, muito embora houvessem prometido um ao outro de se corresponderem, o que infelizmente nunca aconteceu. Ela até que tentou entrar em contato e não obtendo sucesso pensou que ele já não se importava com ela, ainda mais com seu ingresso na faculdade de medicina onde certamente iria conhecer outras garotas. A vida dos dois teve rumos diferentes, ainda que o sentimento houvesse permanecido, a distância e as atividades na faculdade do então namorado, assim como a vida de Yolanda nos campos de flores, não fizeram com que se esquecessem um do outro, mas contribuíram para que a relação dos dois ficasse no passado. 

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⏰ Last updated: Apr 10, 2022 ⏰

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