Verônica
Manhattan
" Na manhã daquele mesmo dia "- Oi pai? Já estou indo, não posso me atrasar.
- Filha pra quê esta pressa toda ? Você sabe que eu não gosto quando sai assim sem comer nada.
- Eu sei, me desculpa, mas hoje não dá tempo !
Coloco uma rosquinha em minha boca e jogo outras duas dentro de minha bolsa, desta vez eu não podia nem sonhar em chegar atrasada. Era o grande dia ! O tão esperado momento, finalmente eu iria assumir uma das maiores floriculturas da cidade. Me despeço de meus pais com um beijo no rosto e pego minha bicicleta apressada. Ela era azul turquesa e tinha uma buzina instalada que meu pai colocou para ele saber quando eu estava por perto, coisa de pai protetor, desde o acidente da minha mãe ele ficou muito mais cauteloso e não me deixava sair para lugar nenhum sem antes avisar horários, saber com quem iria e local, eu parecia uma adolescente, mas gostava disso.
Minha mãe sofreu um acidente voltando pra casa depois de um longo dia de serviço em uma cafeteria, ela estava de moto e um carro cruzou o sinal vermelho e a acertou em cheio. Foram longos dias sem dormir e sem comer, ela ficou na uti por três dias, mas parecia uma eternidade, hoje ela ainda está se recuperando, anda sozinha, mas ainda precisa de ajuda do andador devido às fortes dores em sua coluna. Minha família é minha fortaleza, eles são tudo o que eu tenho. Como meus avós por parte de mãe faleceram, acabamos morando na casa deixada de herança. Isso aconteceu há bastante tempo, eu ainda era muito pequena para entender sobre a morte, minha mãe sempre dizia que as pessoas viravam estrelas e no céu haviam milhares e eu ficava imaginando em qual lugar eu ficaria. É tudo tão mágico quando se é criança, pois a imaginação nos deixa ir além do imaginável. Eu também tenho um irmão mais velho chamado Maik, mas ele não está morando conosco, foi estudar em Stanford na Califórnia há pouco mais de dois anos e eu só o vi ano passado quando nossa mãe sofreu o grave acidente. Ele sempre foi muito carinhoso e todos os dias trocamos SMS a noite.
Jogo minha bolsa nas costas, ajusto minha toca na cabeça e sigo em direção ao meu mais novo serviço, vou apertando minha buzina e desejando bom dia a todos que vejo pelo meu caminho, nossos vizinhos eram sensacionais e eu conhecia o bairro inteiro praticamente. A floricultura era próxima a minha casa, uns nove quarteirões pra ser mais exata, algo que era mil vezes melhor, pois na antiga onde trabalhava eu levava mais de uma hora para chegar. Eu andava com minha bicicleta, pois ainda não tinha dinheiro suficiente para comprar meu carro, mas já havia guardado um bom dinheiro e agora com esta nova oportunidade eu sabia que poderia conquistar muito mais. Me aproximo do local e vejo várias pessoas descarregando sacos de sementes e outras vindo com os móveis para a decoração. Entro com minha bicicleta dentro do estabelecimento e deixo a estacionada em uma parte externa que era reservada para funcionários. Ao terminar de guarda-la avisto Joe, com seu famoso boné verde musgo e suas botas de couro vindo até minha direção.
- Bom dia Verinha !
- Bom dia Joe !
- Ansiosa para tudo isso?
- Se eu estou ansiosa? Meu Deus ! Já quero pular de alegria.
- Eu te falei, demorou um pouco, mas conseguimos !Agora é só vendermos e vendermos que tudo melhora ainda mais.
- É isso aí, temos que...
- Com licença Joe, preciso que assine as notas da mercadoria, tenho mais três lojas ainda hoje pra finalizar.
- Opa, vamos lá.
Sou interrompida por um dos operários, realmente estava uma correria, eu não sabia nem por onde começar. A inauguração seria amanhã e estava tudo uma bagunça. Poeira, areia dos vasos pelo chão, várias pessoas pra lá e pra cá, então decido pegar uma vassoura. Começo a fazer montes de areia e pó nos cantos para que as pessoas não espalhem pisoteando e vou recolhendo um a um, até aquele momento Valter não havia chego e eu quem estava fazendo tudo sozinha. Ele é meu melhor amigo e trabalhava conosco fazia apenas dois meses, era todo atrapalhado, mas tinha um coração enorme. Começo a olhar em meu relógio e nada e ao passar quase uma hora o vejo chegando todo eufórico. Ele me olha soando e indaga:
- Eu fui no outro endereço ! Puta que pariu quase morri, o Uber me para lá na esquina e fala que não consegue entrar na rua por causa dos caminhões, tive que vir andando e correndo.
- Valter como você conseguiu ir na outra loja ? Eu avisei você ontem que era aqui !
- Aí não tem o que fazer, agora já foi ! Ainda quase que uma louca me atropela na calçada, dei um berro xingando. Tudo hoje né, a mulher me enfia o carro contudo na rua, levei um susto menina !
- Tá, tá vem me ajudar aqui seu maluco.
Falo entre risos, entregando a pá e balançando a cabeça, nossa amizade era de anos e nunca havíamos trabalhado juntos, como ele estava precisando muito e surgiu uma vaga de atendente, consegui fazer com que ele entrasse e fosse contratado. Mas naquela loja imensa por enquanto só estávamos nós dois e eu sabia que em breve teria que contratar mais pessoas para nos ajudar. Era poeira para todo lado, limpávamos e limpávamos e parecia que aquilo não acabava nunca, eu já estava exausta e por volta do meio dia fizemos uma pausa para almoçar. A loja inteira era de vidro e as flores já estavam montadas, prontas para enfileirar nas vitrines. Pedimos algo para comer pelo iFood e sentamos comendo ali mesmo, observando as pessoas passarem pela rua. Joe se aproxima de nós com várias papeladas e se senta ao nosso lado.
- É pessoal, olhando o tamanho dos valores, vamos ter que vender muito mais do que eu esperava por aqui.
- Calma Joe! Acabamos de começar, isso vai ser um sucesso, vamos vender muito. - Falo engolindo um pedaço de frango e limpando minha boca com um guardanapo.
- Agora vamos deixar tudo lindo e preparado. Fazemos divulgações nas redes sociais, vai ser um arraso! - Indaga Valter animado.
- Que bom saber que posso contar com vocês, ainda mais agora bem em frente ao restaurante, esse lugar vai aparecer nas revistas amanhã, fiquei sabendo por um dos donos de lá. Então vai ser ótimo pra gente que vai inaugurar.
- Sério? Mas porque vai aparecer na revista? Não entendi. - Digo finalizando meu prato e descartando no lixo ao lado.
- Por quê? Esse é o maior restaurante de massas da cidade, são três irmãos que cuidam e pelo que fiquei sabendo eles ganharam uma estrela sei lá do quê.
- Nossa! Eu já ouvi falar mesmo desse lugar, que demais, é enorme né ?
Digo me aproximando da vitrine e olhando toda sua extensão, aquele lugar dava umas três lojas grandes e aquela floricultura era a maior de Joe. O restaurante era vermelho e dourado e também era todo de vidro, as mesas e cadeiras eram incontáveis de tão imenso que era o local. Mas naquele dia percebi que estava vazio e só havia algumas pessoas lá dentro em uma reunião, talvez.
- Esse lugar é enorme sim e vai ser ótimo para nós, pois só frequenta gente da grana. Temos tudo agora para vender. - Joe fala colocando suas mãos em meus ombros e sai rapidamente para atender seu telefone. Observo atentamente a movimentação daquela avenida e vejo um carro preto parado há algum tempo, vejo que tem alguém ali e não demora segundos até que abre a porta e vai até o restaurante. " Quem será? " penso alto e Valter ouve já se levantando.
- O quê?
- Ali, uma mulher. Ué, ela está chorando ou eu estou maluca?
- Vish, acho que está sim. Disfarça que da pra nos ver nítido olhando o que ela está fazendo. - Valter fala pegando o espanador, fingindo limpar a vitrine e eu só continuo a olhar franzindo a testa e tentando distinguir o que aquela mulher fala para aquele moço, até que eles entram e observo a em prantos, mas é impossível entender o que estão falando.
- O que estão olhando ? Diz Joe com as mãos na cintura, levo um susto e me desconcentro de vez daquela cena.
- Ah ! Não é nada, só achei estranho aquela moça do nada aparecer ali na frente.
- Essa aí é mulher da dona, você não viu uma loira de cabelos curtos aí na frente mais cedo?
- Não, nem reparei. - Digo chocada.
- A dona é aquela que quase me atropelou, certeza ! Mulher desequilibrada, nunca vi dirigir daquele jeito. - Valter fala irritado, enquanto organiza os vasos em ordem decrescente.
- É essa aí mesmo, dizem que ela é nariz empinado e ignorante. Então se sou vocês nem fico de bochicho na vida dos outros viu? Mãos à obra! Que amanhã tem mais e mais trabalhos, até as oito tem chão.
Joe diz batendo palmas e me entregando um saco de sementes. " Até as oito? " já penso revirando os olhos, não era nem uma da tarde e eu já estava morrendo, imagina ter que dobrar de horário, mas sabíamos que não seria fácil e a falta de funcionários acabou nos deixamos sobrecarregados de serviço. Começo a enfileirar os sacos nos armários ao lado e deixo uma música tocando. Ninguém merece ter que faxinar sem música e com um som a mais tudo fica melhor. Passamos a tarde inteira ali, arrumando, limpando, limpando e arrumando sem parar, minhas costas já estavam pedindo arrego e toda hora Valter reclamava que estava com fome. Até que lembrei-me das duas rosquinhas que eu tinha guardado em minha bolsa e entreguei para ele comer. Conseguimos finalizar tudo por volta das dezenove horas e finalmente ficou tudo no seu devido lugar. Joe nos deu cem dólares pela hora extra e disse que era para sairmos comemorar.
- Amiga ! Bora beber ! Merecemos !
- Ah, não sei. Acho que estou morrendo.
- Que morrendo? Tá maluca? Vou pra casa me arrumar e você vai tomar um banho, aí vemos algum barzinho ou balada para irmos. Precisamos disso Verônica, você merece mais que tudo.
- Tá bom ! Você sabe que não precisa de muito pra me convencer né ? Vou indo então. Aguardo sua mensagem, você escolhe o lugar.
Digo subindo em minha bicicleta e ajustando minha toca, já estava escuro, mas as ruas dali eram bem iluminadas e era tudo muito bonito, vou pedalando até minha casa e chego buzinando sem parar.
- Cheguei !
- Oi mocinha.
Corro abraçar meu pai que estava debruçado no capô da picape, todo cheio de graxa e com uma lanterna enorme presa numa espécie de cabo que ele fez com algumas gambiarras. - Como foi hoje? Demorou para vir.
- Nossa limpamos tudo! Só parei agora, vou comer alguma coisa e vou me arrumar.
- Onde você vai?
- Comemorar pai ! Valter e eu estamos pensando em ir para algum lugar nos divertir.
- Já sabe da regra não é?
- Sim, não voltar muito tarde e se eu ver que passou do horário é para ligar avisando.
- Isso, lave as mãos para jantar, sua mãe está esperando.
Vou até a cozinha e lavo minhas mãos, minha mãe estava sentada na cadeira terminando de picar as folhas de alface.
- Oi minha filha, como você está ? Cansada ?
- Oi mãe ! Nossa um pouco, o restinho das minhas energias vou usar pra curtir hoje.
- Que bom, aproveite essa juventude para as coisas boas e tome cuidado em não aceitar nada de estranhos.
- Sim, Mãe, pode deixar.
Quando eu digo que eu sou literalmente uma adolescente, é porque eu sou mesmo. Nem parecia que já tinha vinte e dois anos, mas eu entendia a preocupação deles. Minha mãe havia feito panquecas e eu amava quando ela preparava, pois era uma das minhas refeições favoritas, nos sentamos e comemos todos juntos, falei de tudo e mais um pouco sobre o serviço e sobre tudo que fiz, meu pai quis saber sobre o lugar em que iria com Valter e expliquei ser qualquer balada próxima. Ao terminar de comer, tomo um banho, lavo meus cabelos e começo a secar com minha escova. Recebo um SMS de Valter me apressando e resolvo ligar de vídeo para ele.
- Alô? Não acredito que ainda não está pronta !
- Qual é Valter, eu já estou quase lá, só falta finalizar meu cabelo e fazer uma maquiagem leve.
- Amiga você nem colocou roupa, está de sutiã, vai que hoje eu quero beijar horrores.
- Nossa, onde foi que você invocou este ser pegador do nada?
- Você sabe quanto tempo eu não saio com alguém? Depois do Lázaro, não conheci mais nenhum cara.
- Aí nem me fale desse aí, foi o ser mais aleatório com quem você se envolveu. Mas enfim, pronto. Que roupa vou?
- Vai com uma bem ousada hoje.
- Acho que vou colocar um vestido preto que tenho colado e um tênis baixo.
- Você não tem salto alto?
- E onde você me viu usar algum salto? Não consigo usar e vou dançar muito, então sem saltos hoje.
- Fechou, se arruma logo.
- Qual é a balada que vamos?
- Naquela, Marquee New York.
- Tá louco? Só pra entrar é uma nota ! Imagina o preço das bebidas de lá ! Vamos em outro lugar.
- Que outro lugar menina, pare de graça, temos cem dólares pra gastar hoje e você não vai me fazer ir no mesmo lugar de sempre não. Cansei do McSorley's
- Aí ok, só vamos porque te deixei escolher. Nos encontramos lá então umas dez horas. Que no caso já vai dar. Bye ! Preciso me apressar.
Desligo o telefone e começo a me arrumar, testei o vestido colado, mas não caiu bem com o tênis. Então resolvo ir de shorts jeans e cropped, meio ousado e curto, mas era como me sentiria mais à vontade. Me despeço de meus pais e entro num Uber, aviso Valter que estou à caminho e ele já está me esperando do lado de fora. Por volta de uns dez minutos depois me aproximo do lugar e vejo como é chique, uma fila mediana e só pessoas com cara de universitárias. Desço do Uber e vou ao encontro de Valter.
- Finalmente, vem vamos pra fila.
Ficamos parados ali e observo algumas pessoas entrarem sem nem esperar, acredito que algumas pessoas devem ter entrada vip ou conhecer o dono. Observo a movimentação até que finalmente conseguimos entrar, que lugar sensacional ! Era grande e espaçoso, lugar chique é outro naipe. Valter já chega indo até o bar e pede um drink que eu nunca nem ouvi falar.
- Mas que raios é Piña colada ?
- Sei lá, foi recomendação do barman.
- O meu pode ser um Penicillin.
Valter me olha com uma cara sarcástica e pergunta:
- E que raios é Penicillin?
- Sei lá, olhei no cardápio e achei chique.
Ambos começam a rir e aguardamos o preparos de nossas bebidas, a balada não estava tão cheia, mas havia uma boa movimentação de pessoas ao redor. Pegamos nossos drinks e começamos a tomar, Valter da o segundo gole e quase engasga, me virando para a direção de seu olhar.
- Olha quem tá aqui ! A Melanie !
- Quem é Melanie ?
- Aquela amiga que te falei que conheci uma vez tri louco na balada.
- Ah, você quem não conhece quando está tri louco né ?
Fomos até aquela garota sem eu conhecer e Valter me apresentou.
- Você é amiga dele? Prazer ! Diz ela me abraçando.
- Sou sim, nos conhecemos faz muito tempo.
- Eu não o conheço a muito tempo não, mas acabamos ficando amigos depois de os dois olharem pro mesmo boy.
- Ah típico do Valter se iludir por caras héteros né ?
- Não me expõe não garota, ele tinha um negocinho sim, não parecia ser 100% hétero não.
- Ah pra você sempre vai ter um negocinho.
Falamos todos entre risos e achei legal em conhece-la, parecia ser um ser humano leve de energias.
- Mas você está sozinha ? Diz Valter para Melanie.
- Não, estou esperando uma amiga minha voltar do bar, falando nisso ela já está vindo ali.
Valter desvia o olhar e arregala os olhos, eu fico meio sem entender e continuo bebendo e conversando com Melanie. Sinto ele me beliscar e olho para seu rosto tentando entender sua expressão.
- O que foi ? Digo disfarçando.
- Gente essa aqui é minha amiga Marcela, a mais nova chefe renomada.
- A não seja boba né ? Prazer em conhecer vocês. Vamos indo Melanie ?
- Calma aí, vamos pra onde ?
- Quero me sentar ali no camarote, por enquanto.
- Aí aí, bom gente vamos indo ali, vocês querem vir ? Diz Melanie um pouco sem graça.
- Não não, imagina. Foi bom conhecer vocês. - Digo puxando Valter para não fazer com que ele aceite, sendo que nem teríamos dinheiro para aquilo e deixamos elas irem.
- Amiga do céu, aquela ali é a moça dona do restaurante lá !
- Sim cara, nossa já odiei só de ver, você viu como ela nos tratou?
- Aí deixa ela pra lá, bora beber mais.
- É isso, a noite é uma criança.
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Sob seu caminho ( Lésbico ) +🔞
Romance" No amor não há regras, tudo pode acontecer e as vezes da forma mais inusitada possível " Um romance entre uma cozinheira chef renomada ( Marcela ) e uma florista simples e doce ( Verônica ) Vidas completamente diferentes, mas que muito em breve s...