O Coven

A guardiã

Olívia era uma senhora de idade avançada que vivia em uma pequena cidade no interior do Santa Catarina. Todos na cidade conheciam e respeitavam Olívia, que já passava dos 70 anos. Ela era uma senhora negra, forte, robusta, muito séria. Todos na cidade diziam que ela era uma feiticeira, que aprendera a arte de encantar e enfeitiçar com sua avó, uma antiga escrava angolana. Ela vivia agora de uma loja de produtos naturais e esotéricos, onde realizava também atendimentos a clientes.

Olívia ainda muito nova fui instruída nos mistérios. Aprendeu a caminhar entre os mundos, a encantar com as palavras, com gestos e com o olhar. Aprendeu a comungar com os espíritos das ervas, com os mistérios do céu, com os espíritos dos seus antepassados.

"Os lumiadores do céu são forças muito poderosas, fia. Se tu souber, elas te falam o que ta acontecendo e o que vai acontecer. E se tu souber falar de volta com elas, tu consegue fazer acontecer o que tu quiser" - As palavras de avó ainda soavam nos pensamentos de Olívia, mesmo após tantos anos, nenhuma lição jamais foi esquecida.

E ela aprendeu a conversar com as estrelas, foi assim que soube que em breve uma antiga força seria liberta. O mal personificado, o caos, uma força que tem como único objetivo a total aniquilação de toda a criação. E ela, o que poderia fazer? O que caberia a ela? Como poderia evitar tão terrível previsão? As estrelas também contaram isso a ela.

Ela deveria treinar quatro bruxas, guiá-las e treiná-las na arte da magia. Elas serão então as guardiãs dos elementos, uma bruxa para cada elemento. Assim, unindo forças elas poderão deter a destruição que viria. Mas as estrelas não contaram a ela de onde as moças viriam, quem eram elas ou onde encontrá-las.

Anos se passaram desde que Olívia recebeu a profecia, e desde então, nada aconteceu. E ela ainda esperava as guardiãs chegarem, via o tempo passar, se via envelhecer, e nada. Temeu pelo mundo, pois se ela morresse, será que haveria alguém no mundo que pudesse deter a destruição? Alguém que pudesse encontrar e treinar as garotas?

Ela tentou então uma última cartada. Faria uma convocação, os deuses guiariam até ela as escolhidas, elas a encontrariam. Apanhou um deck de tarot, separou as cartas da alta sacerdotisa, e as rainhas de copas, ouros, paus e espadas.

"Forças telúricas e celestiais, ouçam minha voz, ouçam o meu apelo. Tragam a mim aquelas que precisam me encontrar, o tempo está se esgotando. Permitam que eu conclua a minha missão"

Olívia sentiu as forças da natureza a envolverem, todo o ambiente foi tomado por partículas de luz e ao apanhar a carta da rainha de copas Olívia pôde vislumbrar a guardiã da magia da água, olhos azuis, tudo o que viu foi o azul dos seus olhos, e a graciosidade de sua voz. Depois com a rainha de ouros ela viu cabelos loiros e cacheados, uma risada alta e cheia. A rainha de paus a mostrou uma moça de pele negra e cabelos cacheados coloridos, seus cachos iam do roxo ao vermelho, e a rainha de espadas se mostrou como uma jovem asiática, muito séria e contida. Ali estavam as guardiãs, e agora ela sabia que elas viriam.

No mesmo momento tudo acabou, Olívia despertou do seu transe  tudo voltou à normalidade. A porta da loja se abriu e ela ouviu a risada alta e os cabelos loiros cacheados, e também a garota de pele negra e cabelos coloridos.

-  Ai, não acredito que vocês me trouxeram aqui.- Disse a garota asiática entrando logo em seguida.

- Relaxa, dizem que ela vê o futuro, quero ver o que o futuro me reserva, talvez eu possa ser uma popstar. - Disse a garota de pele negra.

- Ah, oi, é verdade que a senhora lê cartas? - Disse a loira se dirigindo a Olivia.

- O-oi... É, é sim... Vocês são...?

- Ah, eu me chamo Valéria, essa é a Morena - Disse se referindo à amiga de cabelos coloridos - e aquela japinha alí é a Marcela.

- Sejam bem vindas, garotas. Então, querem saber o que o futuro as reserva? Venham - Disse guiando as meninas até os fundos da loja, rumo a uma porta que levava à sala de atendimentos.

- Então, quem vai primeiro? - Perguntou Olívia

- Ah, só a Morena mesmo. Eu não quero participar disso. - Disse Marcela.

- Bem, sente-se Morena - Disse já embaralhando as cartas e dispondo-as em cima da mesa.

"Rainha de Paus"

- Bem, você é uma mocinha de muita atitude, e com um enorme potencial... Tem um fogo interno...

- Você disse, fogo? - Respondeu nervosa - Acho melhor irmos embora, não acham?

- O que foi, Morena? Eu ainda quero ver o que ela tem pra mim. - Respondeu Valéria.

- Mas ainda não terminamos, eu ainda vejo...

- Não! Não! Não quero saber o que a senhora vê. Chega, pra mim já deu. - Respondeu Morena

- Morena, calma, o que te deu? - Respondeu Marcela

- Gente... Chega. Quero ir embora.

E elas se retiraram da loja, deixando para trás uma senhora Olívia confusa e nervosa. Ela estava alí com as suas guardiãs, pelo menos parte delas, e agora elas se foram, tão inesperadamente quanto chegaram. Mas apesar da situação estranha ela tinha dentro de si a certeza de que elas voltariam.