- Finalizamos esta etapa das entrevistas. Você irá aguardar para avaliarmos suas informações, caso você se encaixe no perfil, entraremos em contato. Obrigada, Heloísa, por comparecer a Solis Seguradora. Tenha um bom dia!Ouvir cada palavra ensaiada da entrevistadora para a vaga de um estágio, esgotou minha energia e minou minha esperança. Restando apenas agradecer, sabendo a resposta: Currículo jogado na lata de lixo. Aperto a pasta de documentos e com um sorriso forçado saio da sala.
Três candidatos ansiosos olham para mim, assim que fecho a porta, sem tirar o sorriso desejo boa sorte para eles e vou direto para o banheiro, entro em umas das cabines e xingo por um momento tudo e nada ao mesmo tempo.
Ouço uma porta sendo aberta, o barulho de água e depois passos. Com a certeza de está sozinha vou para a frente do espelho, controlo a vontade de gritar por ver todos meus esforços terem sido em vão.
Passei um bom tempo tentado domar meus cabelos cacheados, até conseguir prendê-los no coque, maquiagem suave, roupa social, unhas feitas - nem lembrava a última vez que tinha ido a um salão - e para quê?
- No final, minha falta de experiência profissional define o resultado da entrevista.
Lamentando-me, seco as mãos e sem ter mais o que fazer ando em direção aos elevadores. Sozinha dentro dele, porém minha imensa frustração encheu o pequeno espaço, acompanhado da ira que estou sentindo.
"A vontade de gritar ainda não passou!"
Em três meses, essa foi a primeira entrevista, após distribuir uma quantidade de currículos e me inscrever em alguns sites. De repente percebo que falta alguma coisa, nem preciso olhar para minhas mãos, esqueci a pasta de documentos no banheiro, aperto o botão quando na verdade tenho vontade de chutar as paredes do elevador.
Encontro-a no mesmo lugar, dou meia volta, ansiosa para sair, mas sinto necessidade de um café, a barriga lembra que a ansiedade não deixou comer nada antes de sair de casa, já que meu dia está mesmo perdido e estou perto da sala de entrevista, dirijo-me à mesa para me servir. Um rapaz ainda espera ser chamado para as temidas perguntas.
Com o copinho de café ando distraída, tentando guardar a pasta debaixo do braço, dou um gole do líquido quente, ao virar o corredor sinto o meu corpo entrar em colisão com alguém.
- Me desculpe, eu não olhei para... - falo sufocando a dor na mão sem poder soltar o copo.
- Quanto acha que custou minha roupa? - pergunta uma senhora, esfregando seu blazer de corte perfeito e caro com certeza.
- Não tive a intenção.
Ela passa as mãos no vai e vem frenético, tentando limpar o respingo do café, os anéis numa combinação perfeita com as unhas, ergue a mão me fazendo calar quando ensaio uma resposta.
- Eu sinto... - Sua bolsa cai no chão, eu tento pegá-la, mas uma mulher é mais rápida, devolvendo-a para a senhora e lhe entrega um lenço de papel.
- Você não sabe quanto vale esta bolsa - fala com boca contorcida, exibindo-a no seu braço. - Sua coisinha insignificante... ela é mais valiosa do que você! - Passeia o dedo no ar, desenhando o meu corpo. - Você é uma dessas coisas que não vale nada.
Ela olha para o crachá de visitante em minha blusa e examina-me de cima a baixo. Retira o blazer e entrega a mulher.
- Sílvia! - A magricela põe o blazer no seu braço, ajeitando os óculos, uma postura ereta, como um soldado. - Informações e rápido.
- Você estava no setor de entrevistas? Nome.
Ela pergunta apontando para o crachá e abre uma espécie de agenda. Ouço o barulho do salto do sapato da senhora batendo no chão. Pessoas passam, porém não param, o olhar da Sílvia, fazem eles apressarem os passos. Ela deve ser tão importante quanto a senhora.
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Amor Valioso
RomanceVocê venderia o seu amor? Heloísa tem sua vida planejada: trabalhar numa empresa com um bom salário e ajudar a mudar a realidade da sua família. Com pais interracial, desde de criança sabe o que é preconceito e acredita que só quem possui dinheiro...