38
Luna OliveiraMais um mês havia se passado na maior correria. Decidi fazer uns bicos para ganhar uma graninha extra e estava vendendo bolos depois que voltava do trabalho, e para falar a verdade, a Lara me ajudou bastante com isso; achava que ela até levava mais jeito do que eu.
Minha barriga de cinco meses estava maior, bem marcada e evidente. Os enjôos tinham diminuído, de modo que não me incomodavam mais, o que agradeci por pelo menos terem parado um pouco.
A vida em São Paulo era completamente diferente, os costumes, cultura, as pessoas... Estava começando a me acostumar, mas era inegável que tanto eu quanto a minha irmã sentíamos muita falta de casa.
— Você acha que vai ser uma menina? — Lara perguntou em determinado momento. Eu tinha acabado de colocar um bolo no forno e me levantei para encará-la sentada à mesa. — Dizem que quando a barriga fica redondinha assim é porque você espera uma menina.
— Eu não sei. — Falei dando de ombros, e sinceramente não me importava muito qual fosse o sexo do bebê. O que viesse eu iria amar muito, independente da minha preferência. — Acho que isso é besteira.
Lara ponderou minha resposta e concordou com a cabeça.
— Queria um menino, acho fofo. — Ela disse e logo em seguida continuou terminando a lição de casa.
Por um breve momento, eu pensei no Russo e qual seria a preferência dele. E, infelizmente, aquilo acabou me levando para um lugar onde eu me mantinha afastada há muito tempo.
Será que ele estava bem? Que conseguiu escapar? Meu coração ficava apertado sempre que tudo voltava à minha mente. Era impressionante as coisas horríveis que éramos capazes de fazer quando os sentimentos negativos falavam mais alto dentro de nós.
Sacudi a cabeça para afastar aquelas ideias da minha mente e fui até o banheiro para lavar o rosto.
Queria que tivéssemos dado certo e que essa criança recebesse o amor de ambos. Afinal, ela não tinha culpa de nada e era a mais inocente no meio de toda essa história, mas o pai dela e eu nos magoamos muito ao ponto de um ferir o outro de propósito, de um jeito irreparável.
Não consegui segurar e voltei a chorar pensando nele, bem baixinho para que Lara não ouvisse lá fora. Queria não me importar, mas fingir aquilo era cansativo e seria só mais uma mentira em meio a tantas outras.
Era irritante a forma como o seu sorriso, o som da sua risada, me atormentava às vezes e não saía de mim. Eu me lembrava de cada detalhe do seu rosto bonito, apesar de sempre estar com o semblante fechado.
No nosso último dia juntos, Russo disse que eu mexia com ele, que sentia algo diferente por mim, e se fosse um pouco antes eu teria aberto mão de tudo e contado a verdade.
Mas agora, infelizmente, o passado não podia ser mudado.
Eu o traí, da pior forma, e ele nunca me perdoaria. Assim como também nunca pediria perdão por ter me machucado tantas vezes, por ter me arruinado.
— Você está chorando, Lua? — A voz preocupada de Lara me assustou quando ela bateu na porta do banheiro. Cravei os dentes na pele do meu punho fechado para evitar que ela escutasse os meus soluços.
— N-não, eu estou bem. — Gaguejei, minha voz trêmula entregando a mentira. Respirei fundo e sequei as lágrimas. — Já vou sair.
— Ok, se precisar de alguma coisa é só me chamar. — Ela murmurou e ouvi quando se afastou no corredor.
Me encostei na parede e fiquei olhando para o meu reflexo no espelho. Os olhos tristes e borrados de preto por conta do rímel, as bolsas escuras logo abaixo por causa das noites mal dormidas. Será que algum dia eu voltaria a ser feliz? A ser quem eu realmente sempre fui?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sombras do Amor [M]
Fanfiction+18| Ela, um verdadeiro anjo. Ele, o próprio diabo. Esta é uma história que foge dos padrões de um lindo romance. Esqueça tudo o que você conhece, este livro não segue os clichês convencionais. Russo, como é conhecido por todos na Cidade de Deus, um...