• A cereja do bolo •
Em apenas mais um dia movimentado, Sasuke mantinha seus olhos fechados enquanto respirava fundo. Estava calmo, ou tentava se manter calmo. Afinal, não poderia surtar e perder o controle de seus feromônios com tantos clientes ao seu redor.
— Sasuke, cara, você precisa acordar. — Outro funcionário esbarrou em seu ombro, o tirando de transe. Respirou fundo uma última vez e voltou para o balcão de cabeça erguida.
Era verdade, precisava acordar, ou perderia seu emprego, e estaria ferrado.
— Bom dia, o que seria pra você? — Não esboçou sorriso algum, nunca fazia isso, mas tentou ser gentil.
— Bom dia, quanto é o salgado? — Perguntou a moça, apontando para o vidro.
— Hmm, três ou quatro reais.
— É cinco reais cada, peço desculpas por meu amigo. Ele não está em um bom dia. — A ruiva retirou Sasuke de frente, terminando de atender a mulher.
O Uchiha caminhou até os fundos da padaria, respirando fundo mais uma vez.
— O que está acontecendo com você? Já estou de saco cheio disso, Uchiha. — Tsunade estava o observando há um tempo, não era de agora que aquilo estava acontecendo. Apesar de não ser nada normal.
— Eu não sei. Ok? Eu não sei. — A verdade, era que Sasuke estava atordoado. Sempre, naquele mesmo horário, por alguns minutos, sentia seu corpo inteiro reagir a alguma coisa, alguma coisa diferente que sentia e não conseguia decifrar. Algo nada bom estava tirando seu foco.
— Olha, talvez você devesse ficar algumas horas livre, mesmo que desconte do seu salário, é importante. Você não tá bem, e eu não posso tolerar isso. — A mulher mantinha as mãos sob a cintura, e cuspia aquelas palavras rigidamente, como sempre fazia, sem pena alguma de quem as ouviria.
— Eu não posso fazer isso, se você me deixar aqui por uns vinte minutos eu fico melhor, isso está acontecendo todos os dias e eu sei que vai passar logo. — Respondeu cobrindo o nariz com o avental, sem entender o porquê de fazer aquilo.
— Tá bom, eu espero mesmo que seja assim. — Tsunade analisou a situação mais uma vez, e voltou para seu escritório. Ela sabia o que estava acontecendo. Claro que sabia.
O moreno passou os últimos trinta minutos tentando respirar o mínimo possível. E logo passou, assim como vem acontecido todos os dias nas últimas duas semanas.
Bom, Sasuke não tem nenhum problema de saúde, talvez não estivesse saudável mentalmente, mas seu físico era perfeito. Um alfa comum, apenas com o faro um pouco mais aguçado do que o de outros, mas de resto, totalmente impecável.
Não gosta de ter amigos, é antipático, antissocial e mantém um semblante neutro como perfil. Mas no fundo, seus conhecidos sabem que Sasuke é uma boa pessoa.
Nunca se apaixonou, até porque, pessoas lhe deixam enjoado, além de ansioso.
Aceitou trabalhar como balconista em uma padaria para sustentar seu vício, que talvez seja não seja muito bem visto pela sociedade.
E agora, estava enfim podendo voltar a respirar novamente, quando a padaria esvaziou e o horário movimentado passou.
Voltou para o balcão, sendo encarado pelos seres humanos que precisava conviver para continuar naquele trabalho de merda.
— Brother, você tem que parar com essa briza de querer fugir nos horários movimentados, cara. Quer ver a gente na merda? A Karin tava igual doida tentando lembrar como usa uma calculadora.
— Cala a boca Suigetsu. Eu pelo menos não sou atrapalhada igual você, que fez dois cafés e tomou um ao invés de dar pro cliente. Besta.
— Garota, eu só achei que tivesse feito dois pra ter um pra mim, até parece que eu imaginaria que um cliente iria pedir dois cafés.
— Já deu viu. Você quer falar de mim mas é mil vezes pior.
Bom, pelo menos com os dois discutindo como patetas, não voltariam a encher seu saco.
Sasuke se debruçou no balcão, e olhou para as mesas sujas. É, ele teria que limpar antes que chegassem outros clientes, mas não queria ter que fazer aquilo.
Seus olhos correram por toda aquela padaria, e resquícios de um aroma forte de flores ainda estava presente no ar. Provavelmente algum ômega muito cheiroso estava por ali. E seus pés caminharam sozinhos até onde o cheiro se intensificava.
— Sasuke, tem algum ômega mechendo com a sua cabeça. — O moreno se assustou ao ouvir a voz de Tsunade logo atrás de si. Os dois que estavam discutindo até pararam para encarar o Uchiha.
— Até parece. — Tentou ignorar, começando a recolher a mesa em específico.
— Só você que não quer ver. Eu sou uma mulher vivida, sei exatamente o que acontece com um alfa quando está perto dos feromônios do ômega de seu interesse. — Falou a mulher, seguindo Sasuke até a cozinha.
— Não diga bobagens.
— Só tô dizendo isso porque pode acabar se tornando prejudicial, tanto pra você, quanto pra minha padaria. Eu tô te pagando pra atender as pessoas, e você não consegue porque tá apaixonado.
— Cala a-
— Olha como você vai falar comigo garoto.
— Por favor, não fala mais isso. Foi só uma dor de cabeça, já passou.
— É para o seu bem. Se resolva com essa pessoa, não deixe isso estragar você. Se continuar assim, você não poderá mais trabalhar aqui. — Deixou dito antes de virar as costas mais uma vez.
Sasuke deu de ombros. Sabia que aquilo não era possível, pois nem reparava em quem entrava naquela padaria, não seria possível ter se apaixonado. Apaixonado. Que babaquice.
Voltou para as mesas, ignorando as faces perplexas de Karin e Suigetsu.
— Tem uma carteira aqui, deixem guardada caso a pessoa volte buscar. — Avisou ao ver a carteira estranha em formato de um sapo deixada na cadeira em uma das mesas, não ligou, e só acabou voltando para a cozinha com mais louças em mãos.
— Cara, você tá mesmo apaixonado? Sasuke Uchiha está mesmo afim de alguém?
— E esse alguém não sou eu...
— Calem a boca. Não dêem ouvidos a aquela louca da Tsunade. E não me encham o saco.
— Imagina se ela ouvisse isso..
— Foda-se. — Recolher as mesas já era um serviço chato. E piorava com aqueles dois o incomodando com uma merda sem sentido.
E foi quando estava voltando para as mesas, que mais uma vez sentiu seu estômago se recolhendo. Seu corpo novamente estava reagindo, mas agora era um pouco mais intenso. O aroma que apareceu juntamente com um loiro por aquela porta o fez ter a experiência de receber uma facada. E seu corpo vacilou ao ouvir a voz ofegante daquele mesmo ser.
— Oi! eu deixei minha carteira aqui.
• A cereja do bolo •
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Flores - Sasunaru (Abô)
FanfictionO que queremos dizer com "cheiro de flores"? Sabemos que cada flor há um aroma diferente, então, de qual estamos falando? Bom, Sasuke não conseguia explicar, mas aquele cheiro que invadia seus pulmões todos os dias estava longe de ser de apenas uma...