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Mais uma vez, acordo suando, com uma angústia enorme no peito e dificuldade para respirar.

- Ei, calma...Eu estou aqui, está tudo bem. De novo aqueles sonhos? Estão ficando cada vez mais frequentes....

Minha vó pergunta me fitando com seus olhos cansados sob mim, em uma de suas mãos segurava uma pequena lamparina.

- Sim, mas dessa foi diferente...

Ela se sentou na beirada da cama me ouvindo atentamente.

- Eu estava no mesmo lugar estranho de sempre, e aquela voz começou a me dizer repetidamente que eu precisaria ser muito forte, pois algo terrível estava por vir...Dessa vez quase consegui ver o seu rosto- Digo essa última parte baixinho, como um sussurro.

- Pelo visto eu vou morrer, e você não vai conseguir ver esse tal rosto misterioso que tanto lhe perturba- Disse em um tom brincalhão, mas que logo tornou a ficar sério ao notar a expressão em meu rosto.

-Estou brincando minha menina, vovó não irá sair do seu lado tão cedo, ainda tenho muito o que te ensinar sobre esse mundo! E além do mais, não posso partir sem antes te deixar bem amparada, com alguém especial, um amo-

- Vovó! - a Interrompo.

- A senhora sabe muito bem que não tenho interesse nessas coisas, e também essa conversa tomou um rumo muito mórbido...Vamos mudar de assunto!

- Está bem, está bem, não está mais aqui quem falou. Que tal então amanhã ir colher alguns morangoṣ? Posso fazer aquela torta que você tanto gosta!

Ela disse com aquela ternura na voz que voz que na hora até me fez esquecer o por que estava triste.

- Claro vovó! Digo a abraçando. - Eu te amo muito...

- Eu também te amo minha menina, eu também te amo...Agora que já está um pouco melhor, tente voltar a dormir.

- Tudo bem, obrigada!

Agradeci enquanto me deitava novamente na cama, me cobrindo e fazendo um esforço para o sono chegar, que não tardou muito e me pegou.

Desperto com os raios de sol invadindo a minha janela, abri os olhos com um pouco de dificuldade, até me acostumar com a claridade. Estava um dia lindo, os pássaros cantavam, e no céu não havia nenhuma menção de chuva, o clima estava realmente agradável.

Levantei de minha cama, em seguida dobrando os lençóis e deixando tudo ajeitadinho, poderíamos ser pessoas humildes, mas cresci com o exemplo de minha vó que pobreza não é sinônimo de sujeira ou bagunça, então fazia questão de ter nossa casa sempre muito bem organizada e limpa.

Após fazer minha higiene matinal, e vestir uma roupa fresca, encontrei minha vó na cozinha já realizando alguns afazeres.

- Bom dia vovó!

- Bom dia Mayra! Eu ia te acordar antes, mas você dormia tão bem, que preferi te deixar descansar mais.

-Obrigada por isso, realmente me sinto melhor..., Mas e a torta? Não esqueci, viu?! - Disse em um tom divertido que arrancou um sorriso da mais velha.

- Ora, eu também não! Vá logo para horta colher os morangos, enquanto eu preparo a massa!

- Mas é pra já! Digo animada e saio correndo para fora de casa.

Quebra de tempo

Depois de colher alguns morangos, resolvi também buscar algumas ervas para fazer um chá, assim poderíamos desfrutar de um delicioso café da tarde.

Estava um dia realmente quente, algumas gotas de suor já se formavam em minha testa, quando subitamente senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Seguido de sons de passos assustadoramente altos para serem de humanos, ou animais.

-O que será que é isso? Pensei comigo mesma.

Na sequência um estrondoso barulho de algo se partindo, e gritos. Que eu reconheci na hora de quem era.

- Vovó! Grito e saio correndo o mais rápido que posso para casa, e o que eu pude ver ao chegar, me fez paralisar. Meus olhos pareciam saltar para fora. Era uma criatura humanoide horrenda e gigantesca, e estava com uma das pernas dentro da minha casa, o barulho que eu ouvi deveria ser do telhado que se partiu.

-NÃOOOOOOOO! Eu gritei quando vi que em uma de suas mãos ele segurava o corpo de minha vó já sem vida, próximo de sua enorme boca. Minha vista escureceu. Uma taquicardia se iniciou, fazendo com que eu sentisse que meu coração iria explodir.

- PARA! POR FAVOR! SOCORRO, ALGUÉM ME AJUDA! - Tentei mais uma vez gritar o mais alto que pude, mas nada adiantou.

Aquele monstro levou minha vó direto para sua boca, e a mastigou, fazendo seu sangue jorrar por todos os lados, enquanto eu assistia toda aquela cena de horror em completo estado de choque.

Minha visão ficou turva, acabei caindo de joelhos, as lágrimas desciam sem parar, senti um enjoo me consumir, e minha cabeça começou a girar. Não conseguia processar direito o que estava acontecendo, mas já estava aceitando minha morte, eu sabia que ninguém iria me ajudar, e no fundo eu nem queria, pois sabia que sem ela para cuidar de mim, não me restava mais nada. Foi quando em meio a esse ataque de pânico, pude ouvir um assobio, que no começo era fraco, mas se intensificou e junto com ele uma voz, aquela mesma voz que me visita e me assombra em meus sonhos, me disse:

-É agora, apenas corra e não olhe para trás.

Nesse mesmo instante, como em quase um passe de mágica, um cavalo surgiu do meio da floresta que cercava minha antiga casa, ele veio em minha direção e parou ao meu lado, como se estivesse sido enviado para me ajudar a escapar dali. Por instinto ou não, eu prontamente subi no mesmo, que disparou mata a dentro.

No chão ficou a cesta, com os morangos e as ervas para o chá que nunca irá acontecer. Vovó o que aconteceu com o ''Não irei sair do seu lado tão cedo''?

Naquele dia, a única pessoa que eu tinha no mundo, foi brutalmente arrancada de mim.  

NOTAS DA AUTORA:

Obrigada por ter lido, um beijo da autora e até o próximo  💚

Coração Intocável - Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora