Anjo Vampiro Poeta

Eu era um anjo que habitava o céu e assim foi por milênios,

Desde antes da criação do mundo e de você, humano.

Mas um dia, há poucos séculos, recebi uma missão:

Vir a terra capturar e exterminar uma criança vampira.

Digo, criança porque sua forma física era de criança.

Parecia uma menina de dez anos, mas já tinha dez décadas.

E eu um ser da luz vim capturar um ser das trevas.

E eu vim sabendo que o destino dela seria a destruição.

Mas quando eu a capturei o impossível aconteceu.

A escuridão amou a luz e a luz amou a escuridão.

E como a luz acaba com a escuridão só me restou

Uma ação: Me tornar também escuridão...

Ah! Se você tivesse visto ela uma única vez...

Se tivesse visto seu cabelo loirinho cacheado!

Se tivesse visto a ternura dos seus olhos azuis!

Se tivesse sentido o amor no seu abraço!

Compreenderia... Aprovaria a minha decisão.

Já que eu não podia transformá-la em anjo

Deixei que ela me transformasse em demônio.

Troquei a eternidade na abençoada luz

Pela maldição do seu amor nas trevas.

Eu sabia que jamais seria aquecido novamente pelo sol.

Mas quem precisava do calor desse sol efêmero

Quando tinha o calor do seu corpinho?!

Eu sabia que nunca mais veria a luz do dia.

Mas quem precisava da luz do dia

Quando tinha a luz do seu sorriso?!

E então nos tornamos fugitivos para que os anjos não nos capturassem:

Algumas noites quando tínhamos sorte nosso abrigo era um quente castelo,

Mas quando não dava nos contentávamos com um frio cemitério.

Nunca os mesmos. Sempre trocando de castelos e cemitérios,

Sempre despistando os anjos... E assim foi por mais de um século.

Juntos eu e minha doce criança descobrimos que

Três litros de vinho equivalem a uma taça de sangue.

E assim felizmente não precisamos mais matar ninguém.

Trinta litros de vinho por semana pra cada um era tudo o que

Precisávamos para não sentir a dor lancinante da falta de sangue.

E de dia o caixão se tornou o melhor dos leitos com ela ao meu lado.