Capítulo Único

541 46 65
                                    



⠀⠀ ⠀⠀⠀𝗹 A decepção vem de quem menos esperamos. Ela faz parte da vida de um ser humano. Escreve, de alguma forma, um novo rumo para a vida de um alguém. As lágrimas hidratam sua pele e, ao mesmo tempo que te faz bem, elas te fazem mal. Sabia que não seria nada fácil, mas enfrentaria o mundo se fosse preciso, contanto que ele estivesse ao seu lado. Nem sempre a vida é feita de um mar de rosas.

⠀⠀ ⠀⠀⠀ Violeta já não suportava aquela situação de estar dividida entre sua família e Eugênio, de uns tempos para cá a relação deles só piorava. E o empresário sabia, de alguma forma, que sua comadre tinha uma boa parcela de culpa.

Tinha conhecimento de que Ursula já havia destruído sua felicidade uma vez e, consequentemente, estava prestes a espantar novamente outra pessoa de sua vida. A obsessão da mãe de Joaquim estava ultrapassando os limites, ele sabia disso, mas sempre deu a ela a oportunidade de melhorar, não por ele, e sim, por ela.

A mãe de Elisa, viu seu mundo caindo ao se deparar com Eugênio beijando outros lábios que não fosse os dela, tocando outra mulher que não fosse ela. As lágrimas não demoraram para marcar presença no rosto da esposa de Matias.

⠀⠀ ⠀⠀⠀Quando se deu conta, Eugênio tratou de afastar a desconhecida, que havia lhe roubado os beijos, assim que se deparou com a primogênita de Afonso os encarando com desprezo e decepção. Barbosa iria tirar satisfação com a mulher depois de se esclarecer com a empresária.

⠀⠀ ⠀⠀⠀Seria difícil, para ele, fazer com que sua amada acreditasse em suas palavras, ainda mais depois do ocorrido de minutos atrás. Violeta saiu correndo em desespero, se culpava por saber que, por mais que quisesse, não poderia cobrar uma fidelidade de seu sócio, afinal era ela a mulher casada. Todavia, em seu mundo, idealizava que ele era diferente de todos os homens que passaram por sua vida ao longo dos anos.

⠀⠀ ⠀⠀⠀A cena que tanto a destruiu invadia seus pensamentos com crueldade em pouca pausa de tempo. Ver seu amado trocando beijos com outra mulher, era assustador e quebrava seu coração de um forma inexplicável.

                            [ . . . ]

━━━━ . . . Para, para. . . para! — Sentada no canto do sofá, com as mãos tampando seus ouvidos, a mulher suplicava entre choro, não queria ouvir e nem relembrar a cena de horas atrás.

━━━━ Violeta, por Deus, deixe-me explicar! — Juntou suas mãos em um pedido, manteve a calma já que a outrem estava alterada.

━━━━ E o que você quer me dizer, hã?! Que enquanto estava comigo, pensava nela? Que quando me beijava, era ela que invadia seus pensamentos? Que rouba seus sonhos e suspiros mais profundos? Ah, por favor, Eugênio!


Ela havia explodido, não sabia nem o porquê de ter dito tudo aquilo, não tinha direito algum de fazer acusações, afinal a única adúltera era ela, somente ela. E agora em seu pensamento, ele havia traído as doces palavras e declarações de amor dedicadas à ela.

━━━━ Você foi capaz de trair o amor que sentia por você, de destruir o coração de uma mulher que só soube te amar. — com angústia, gritou entre o choro para que deus e o mundo ouvisse suas palavras de decepção. ━━━━ Eu acreditei em você, Eugênio, acreditei em suas palavras. . . como pôde fazer isso comigo?

A empresária reagiu da pior forma que ele imaginava, seu pesadelo de algum dia perdê-la estava se tornando real, tudo por conta de um mal entendido que, se dependesse dela, nunca seria resolvido.

Ver ela naquele estado era horrível e partia seu coração, qualquer palavra que usaria, não seria o suficiente para fazê-la acreditar que seu amor era tão real quando as gotas de chuva que caía ao lado de fora.

━━━━ Violeta, eu quero que caia um raio em minha cabeça se eu estiver mentindo, nunca vi a face daquela mulher! Nem ao menos sei seu nome, quem dirá ter tido algo a mais. —— Despejou, já cansado de ser apedrejado pela companhia que tinha naquele momento.

━━━━ Deixe-me ver, queres que eu acredite nessa desculpa esfarrapada? A forma de como se beijavam, não parecia nenhum pouco que não se conheciam. E quer saber? não quero mais continuar com essa discussão! Quero que saia de minha casa e, por favor, nunca mais volte a por os pés aqui. A partir de hoje só iremos nos encontrar na fábrica e trocaremos palavras quando assunto for relacionado ao futuro da Tecelagem e negócios.

Levantou-se do sofá, enxugando o rosto com as mãos, caminhou até a porta e a abriu e, com a mão na maçaneta, esperou o rapaz sair de sua residência. O mundo podia estar caindo do lado de fora, ela não se importava, apenas queria ficar sozinha para assimilar que nunca mais o veria com outros olhos.

━━━━ Você não pode colocar um ponto final no que vivemos, Violeta! Não pode desistir de algo tão lindo por conta de uma armação contra minha pessoa. —— Eugênio, pela primeira vez, havia arguido o tom de voz, estava indignado e não queria acreditar que ela não daria ao menos o "benefício da dúvida".

━━━━ Chega, Eugênio! Pare de se vitimizar, só falta me dizer que Ursula tem algo haver com. . . "isso"! — Ela, por vez, soltou o enfeite da madeira e repousou suas mãos na cintura. Segurou, contra sua vontade, as lágrimas que a qualquer momento escaparia e escorreria em seu rosto.

━━━━ Talvez! Ela sempre nos avisou que essa "traição" contra ela não iria ficar assim. Você sabe que estou dizendo a verdade, no fundo você sabe!

O homem se aproximou dela, uma vez que a vulnerabilidade da mulher o ajudaria para conseguir seu perdão. Tentou apoiar sua mão no ombro de Camargo, contudo, a mesma deu um passo para trás, o afastando.

━━━━ Já acabou?! Se já, por favor, peço encarecidamente que saia de minha casa!

Ela engoliu em seco e aponto para a porta, que continuou aberta. Ele se deu conta de que ela não iria voltar atrás, não por hora. Quem sabe um dia?! Eugênio se perguntava.

━━━━ Está bem, se é isso que você quer, irei respeitar sua decisão. Sei que tudo o que eu disser agora, só fará com que você duvide de mim.

Inspirou fundo e se direcionou a porta da entrada. Se virou para encara-lá uma última vez, já que nunca mais a veria com tanta intimidade. Sem se conter, se aproximou novamente dela e lhe roubou um beijo, apaixonante, cheio de saudades e uma despedida. Afinal seria o último gesto de carinho que eles iriam trocar.

Violeta, por segundos, retribuiu o afeto e assim que se deu conta, tratou de afasta-lo e sessar aquele beijo. Sem jeito ela deu alguns passos à frente dele, ficando assim de costas. Ele virou-se e se aproximou de seu ouvido para sussurrar algumas palavras, tendo a certeza de que tais iriam mexer com a morena.

━━━━ Quero que saiba que eu nunca lhe trairia com outra. Você é o amor da minha vida e te repetirei isso quantas vezes for necessário.

Fechou os olhos e inalou o perfume doce que a sócia usava, ergueu sua destra para apoiar no ombro da mulher, contudo, ficou com receio de toca-lá e então preferiu fechar a mão e se retirar, assim como a dona da casa pedia.

Logo que o dono de seu coração desapareceu de seu campo de vista, Violeta deixou que seu corpo escorregasse pela madeira logo após de ser fechada. As lágrimas que guardava para si, foram expostas. Mesmo com o barulho da chuva, o casarão não tinha um único movimento, o silêncio a torturava. Seus gritos de desespero por ter perdido aquele que mais amou. Certamente ela não seria mais a mesma mulher, ninguém é o mesmo depois de deixar partir aquele que mais amamos.

Torments Of Sadness - ONEOnde histórias criam vida. Descubra agora