Capítulo 11

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Enquanto isso, Vinícius rasgava a estrada em alta velocidade rumo a Goiânia. Fizera o caminho inverso ao do dia anterior e às 15h chegava em Porangatu (GO). Dali para Goiânia faltava mais 6h de viagem. Estava cansado e com fome, mas fez pouquíssimas paradas, somente as extremamente necessárias. O café que tinha levado acabou fazia tempo e ele precisou tomar um energético em uma de suas paradas. Tudo para se manter acordado e com pique de estrada. O que o alimentava era a raiva que estava sentindo. Raiva não, ódio era o termo certo!

A mente fervilhando com suas presunções sobre o que estaria acontecendo entre sua mulher e o suposto amante em sua própria cama. E cada vez mais ele afundava o pé no acelerador. Tentava elaborar a situação em busca de definir como agir. Uma coisa era fato: barato aquilo não iria ficar!

Com o passar das horas o ódio não diminuiu, mas ele pôde refletir mais friamente, tentando substituir a emoção pela razão. Lembrou-se que não poderia chegar com tudo em Mariana, pois arriscaria pôr tudo a perder. Há anos ele dependia financeiramente dela e chegar "chutar o pau da barraca" lhe colocaria numa situação complicada financeiramente. Não, isto não podia acontecer logo agora que estava prestes a fechar um negócio milionário! Era uma grande fazenda, um achado! Na verdade, eram pequenas propriedades pertencentes a 30 pequenos produtores. O plano era remembrar as pequenas propriedades, formando uma grande e atrativa fazenda para plantio de soja ou criação de gado. A terra era de excelente qualidade, que no jargão de produtores rurais era classificada como "terra de cultura", além de possuir topografia plana. Ou seja, terra de alta produtividade, sendo o típico solo fértil em que se plantando, tudo dá. Uma propriedade de se encher os olhos! Era a oportunidade de dar uma guinada em sua vida.

Só havia alguns pequenos impasses para concretizar a venda que faria dele um homem milionário. Os pequenos produtores eram na verdade, posseiros que ocuparam terras abandonadas e algumas até devolutas, mas que após a ocupação tornaram aquelas terras produtivas. Por esta razão eram terras sem documentos, além de um percentual das terras estarem classificadas como reserva indígena não homologada.

Mas a homologação pelo Governo Federal de terras indígenas pode levar décadas e, enquanto isso, poderiam ser revertidas. E era de olho nisso que Vinícius investiu seu tempo nos últimos anos e não iria jogar tudo para o alto agora, justamente na iminência do Governo Federal publicar uma Instrução Normativa que permitiria o cadastramento de terras tidas como indígenas mas não homologadas como propriedade rural privada, podendo assim ser vendidas normalmente. Ele entendia que valia a pena esperar.

Há mais de três anos, quando ele conheceu um dos pequenos produtores rurais da região, vislumbrou uma grande oportunidade. Sabia que resolver a questão seria demorado, como de fato havia sido até aquele momento e possivelmente ainda demoraria mais alguns meses, pois para concretizar o remembramento das pequenas propriedades e, consequentemente a venda, dependia de um processo lento e burocrático de regularização fundiária. Durante esse tempo ele precisou de Mariana para se manter e custear as idas e vindas de Goiânia ao Pará. Por isso depois da venda concluída seus planos eram outros. Aí não precisaria mais dela. Entretanto, mesmo obtendo sucesso em sua negociação, ele não pretendia sair de "mãos abanando" desse relacionamento.

Foi assim em seu relacionamento anterior com Nádia, com quem também morou junto e nunca se casou de fato. Viveram juntos por 6 anos, quando ela o colocou para fora de casa. Sentiu por perder seu "porto seguro", mas o relacionamento estava desgastado. Ela teve que pagar com a casa dela, herança dos pais por tê-lo expulsado. Mesmo sem ter o direito do ponto de vista moral, ele exigiu metade, fazendo-a vender a casa para realizar a partilha. Abriu mão da metade do valor do carro, mas pra isso ela teve que renunciar ao saldo de 8.000 reais da conta conjunta que tinham. Na verdade, o saldo da conta foi mais vantajoso para ele do que ficar com um carro popular usado. Na análise dele, fez um bom negócio. Usar da pressão psicológica para atingir seus objetivos.

Com Mariana não seria diferente. Ela possuía alguns imóveis, além do carro e do bom salário. Com os anos de relacionamento ele sabia que legalmente tinha direitos e não abriria mão de nenhum! Se fizesse tudo direitinho, fosse inteligente e assessorado por um bom advogado, ainda poderia pleitear uma pensão. Mas enquanto isso não acontecia, ele teria que recalcular a rota.

Sobre o que estava acontecendo no momento: houve traição e isso ele não era capaz de perdoar! Por ora, iria chegar metendo o pé, dar um esbregue nela para aprender a não trair um homem como ele. Deixá-la com medo e consciência pesada. Consciência pesada era o "x" da questão e ele usaria essa carta na manga. Ele era bom em manipular e reverter a situação a seu favor, fizera isso várias vezes com Nádia e com a própria Mariana.

Com Mariana era melhor ainda, pois além de ter aperfeiçoado suas habilidades de distorcer os fatos e de se vitimizar, Mariana era um alvo fácil com sua mania de "comprar a culpa dos outros para si". O mundo estava desabando e ela logo achava que a culpa era dela. Nem precisaria se esforçar muito. Se ele trabalhasse direitinho o psicológico dela poderia mostrar para ela o quanto ele era um homem bondoso, mesmo tendo sido traído e, por mais doloroso que fosse, seria capaz de perdoá-la por aquele deslize. Tinha que ser assim, afinal ela era a "galinha dos ovos de ouro" dele, além de que ele é quem decidia a hora desse relacionamento terminar, não ela. Não permitiria que ela fizesse o mesmo que fez Nádia. E, assim como Nádia, ela teria que pagar algum preço e, por tê-lo traído, pagaria até mais.

Eram 03:30h da manhã quando ele entrou em Goiânia. Seguiu direto para o prédio em que moravam e subiu até o apartamento 403 no 4º andar. Estava tudo planejado e pegaria os "amantes" na cama. Abriu a porta cuidadosamente e tirou sapatos, tudo para não fazer barulho. De meias, seguiu pé ante pé rumo ao "ninho de amor". Aproveitou-se da penumbra provocada pela luz que entrava pela porta de vidro transparente da sacada para encontrar o quarto sem ter que acender as luzes. Ao chegar no quarto do casal, acendeu a luz pronto para reagir a cena que imaginava surpreender, mas para sua própria surpresa a cama estava vazia!!!

"Como assim???" Seguiu imediatamente para o quarto de hóspedes e também não havia ninguém. "Que palhaçada era aquela?!" Voltou para o quarto de casal e só então notou que as portas do armário estavam abertas. Faltavam roupas de Mariana. Sem reação, sentou-se na cama, tentando colocar os pensamentos em ordem. Cansado, soltou o corpo no colchão e, olhando para o teto, visualizou a parte de cima do armário, onde ficavam as malas. Foi então que observou que faltava uma mala.

Levantou-se e foi até a sapateira, abriu e deu faltade 2 pares de tênis de Mariana. Faltavam também algumas sandálias rasteiras e acaixa de documentos. Sentou-se novamente aturdido. "Onde ela estaria?"Deitou-se no colchão e assim permaneceu por alguns minutos até que, passada adescarga de adrenalina que seu corpo liberou para o que ele esperava encontrar,o cansaço bateu forte! Afinal foram mais de 40 horas de estrada indo e voltandode Marabá. Deitado, tentando imaginar onde ela estaria, adormeceu.

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