⚜️Gabriel⚜️
— Pai, não o acompanharei até em casa, vou um pouco até a cachoeira. Preciso me refrescar.
— Tudo bem, filho. Só não volte muito tarde, pois suas primas chegam hoje.
— Não se preocupe, chegarei antes delas.
Puxo as rédeas do meu cavalo, o forçando a trocar de direção, e cavalgo até a cachoeira, tão rápido quanto bate meu coração. Olho em volta, deixando apenas a minha bermuda no corpo, e mergulho.
Quando estou cansado de tanto mergulhar, volto ao local de sempre para me secar.
Não posso negar que mais uma vez sinto um pingo de desilusão por meu cavalo não estar inquieto, nem eu ter visto movimentação próxima. Durante semanas eu voltei na cachoeira com uma pequena esperança de que Verônica aparecesse novamente, mas nem no salão de chá voltei a vê-la quando fui me encontrar com Guilherme. Fiquei confuso com o que aconteceu, e gostaria das explicações que ela não deu naquele dia.
Um sorriso se forma ao lembrar do rosto dela, dos lábios semiabertos, esperando que eu a beijasse. Pelo menos dessa vez quem saiu correndo foi ela, e deve ter ficado tão envergonhada, que nunca mais vai cruzar comigo.
Gargalho sozinho.
— Bom, vamos lá, amigão — falo com meu cavalo enquanto me visto.
Próximo de casa, já percebo o alvoroço de todos para a chegada de Emily e Luana. Deixo meu cavalo no estábulo, e ao passar por Ba, deposito um beijo em seu rosto.
— Ba, tudo bem?
— Tudo bem, meu filho. Ansiosa para que as meninas cheguem. — Ela sorri de forma terna, como sempre faz.
Ba é uma negra velhinha, que em tempos, foi escrava de meu avô. Depois de alforriada, decidiu ficar. Ela sempre foi muito querida nessa casa, e eu a tenho como avó.
— Eu também, Ba, muito. — Sorrio de volta. — Vou trocar de roupa enquanto elas não chegam. Até mais.
***
Corro em direção ao exterior. Mal ouvi o charreteiro chegar. Ambas já estão de cabeça erguida, esperando ver algum de nós. Dois sorrisos lindos se formam em seus rostos quando me veem correr na direção delas. Eu quase nem as deixo descerem da charrete, pois pego as duas, uma em cada braço, e as puxo para um abraço saudoso.
— Ah, você não mudou nada, Gabriel! — Emily fala, entre risos.
— Vocês estão ainda mais lindas! — Dou um beijo no alto da cabeça de ambas e gargalho junto com as duas.
— Ah, meus amores! — Minha avó Emília corre ao nosso encontro. — Que saudade eu senti de vocês! — Coloco-as no chão para poderem ser abraçadas por ela também.
Não demora para o meu pai, minha mãe, meu avô e até Ba aparecerem e paparicarem as duas.
Minha relação com minhas primas sempre foi boa. Elas são como irmãs para mim. Mais ainda com Luana, talvez por ela ter também sangue negro e sofrer dos mesmos preconceitos, então, sempre intercedemos um pelo outro, nos tornando ainda mais unidos.
Praticamente crescemos juntos, pois passavam grandes temporadas na fazenda do meu pai, ou eu ia passar na de meus tios.
— Como estão Beatriz e Edgar? — Minha mãe pergunta, enquanto jantamos.
— Estão bem. Minha mãe ensina algumas crianças desfavorecidas a lerem e escreverem, e meu pai está se especializando em Pediatria. — Luana responde, e minha mãe sorri.
— E como é Portugal? — pergunto, curioso, imaginando se um dia eu também sairei do Brasil.
— Estamos numa cidade chamada Coimbra. É belíssima, com ruas estreitas, vários pátios e belos jardins. No inverno, é fria e úmida, tanto que se entranha em nossos ossos, e nem os chás mais quentes são capazes de aliviar o frio. — Emily estreita as sobrancelhas, como se sentisse o frio naquele momento só de lembrar. — No verão, é quente, mas não aquele calor abrasador, como faz aqui no Brasil.
— E os portugueses como são? — Meu pai pergunta.
Luana e Emily se olham e sorriem antes de responder.
— Nossa, ao início foi bem engraçado, ora pois. — Luana faz um bico com os lábios ao pronunciar as últimas palavras com sotaque português, e as duas gargalham ao mesmo tempo, fazendo todos gargalharem juntos. — Mas eles são muito acolhedores e educados, e o bacalhau deles é divino.
No final do jantar, tal como nos tempos de criança, trancamo-nos no quarto, contando as novidades durante o tempo em que estiveram fora. Deitado na cama, no meio das duas, fico sabendo que Emily se encantou por um português, e que está desejosa de voltar por causa dele.
— E você, Gabriel, tem alguém?
— Não — respondo a Luana enquanto faço cafuné em ambas.
— Ah, vai, Gabriel, conta pra gente. Não acredito que não tenha nenhuma donzela que o atraia. — Emily senta na cama, me fitando com seus olhos verdes, enquanto seus cabelos lisos cor de ouro escorrem pelos ombros.
— Não tenho, e acredite se quiser. — Ela volta a deitar e aproveitar o cafuné.
— Se há uma coisa que eu sinto saudade daqui, é da cachoeira. Não vejo a hora da gente voltar lá, como nos velhos tempos. — Luana, que se levanta para me encarar. — Você ainda vai lá, Gabriel?
— Quase todos os dias! Meu local favorito para relaxar. — Sorrio.
— É impossível pensar na cachoeira e não lembrar de Gabriel e Verônica, de nariz colados, implicando um com o outro. — Emily gargalha, e eu acabo por rir também com o som que ela faz.
— Ela nunca mais voltou depois da morte de sua mãe?
— Faz umas semanas que sim. — Infelizmente..., penso.
— Eu quero tanto revê-la. — Emily pula da cama, eufórica.
— Eu não sei o que vocês veem nela, aquela arrogante não mudou nada.
— Ela nunca foi arrogante comigo. Aliás, eu nunca entendi tanta implicância dos dois. — Emily a defende, e eu sinto um certo ciúme por isso.
— Vocês se encontraram? — Dessa vez é Luana quem fixa seus olhos castanhos nos meus.
— Nos esbarramos no salão de chá — respondo, querendo omitir o acontecido na cachoeira.
— Ela ainda tenta humilhar você? — Luana me olha como se estivesse me avaliando.
— Sim, ela tentou. Mas já não me afeta mais. — Levanto-me, não querendo falar mais sobre ela. — Eu adoro vocês, mas já é tarde. Vou para o meu quarto. Amanhã podemos ir até as cachoeiras, já que estão ansiosas pra voltarem lá.
— É claro! — Ambas sorriem.
Dou um beijo em cada uma e desejo boa noite antes de sair do quarto, feliz por tê-las por aqui.
⚜️⚜️⚜️
Olá lindonas,
Hoje vou fazer um agrado para quem está acompanhado essa história e liberarei mais um capítulo extra hoje.Lembrando que ele já está completo na Amazon, então quem poder ler por lá aproveite.
Beijo😘
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Amor Liberto ( Série Amores Proibidos ) Livro II Degustação
RomanceGabriel Albuquerque, é filho de uma ex escrava negra e de pai branco, seu avô barão Albuquerque, um antigo senhor de escravos. Apesar de Gabriel ser um homem livre, e nunca ter passado pelos tormentos da escravidão, sempre foi alvo de preconceito pe...