Os dois voltaram ao aposento empoeirado e deitaram no meio dos livros. Em silêncio, olhavam o teto coberto por vigas de madeira e, às vezes, a janela quadriculada dava um jeito de roubar-lhe os olhos para a noite escura.
— Deve ser ruim trabalhar a noite inteira. — Pedro comentou, pensando na mãe de Maria.
— É igual trabalhar de dia, a única diferença é que o céu está com as luzes apagadas.
— Sem dúvida. — o garoto concordou e Maria sentiu os cachos macios esbarrando em sua pele. — Só que, ainda assim, você é a única pessoa acordada, enquanto todas as outras estão dormindo.
Maria pegou a lanterna da mão de Pedro e iluminou o próprio rosto:
— Nós somos os únicos acordados, enquanto o resto está dormindo.
Pedro sorriu e se deu por satisfeito, afinal, os dois sempre quebravam o protocolo de ter que dormir à noite e preferiam dormir de manhã, no meio das aulas, já que tinham que fingir que não eram amigos na escola.
— Nunca nenhuma história me escolheu. — Pedro revelou cortando o silêncio. Maria lhe encarou com os olhos cobertos de pena, ela parecia tão sortuda com tantos livros, mesmo que só tivesse lido um por cento de todos que estavam naquele aposento.
— As histórias não ficam dando sopa por aí... — Maria se levantou sabendo que poderia emprestar um de seus livros, mas que não seria a mesma coisa. — Anda, vamos!
— Aonde? — Pedro perguntou, com os olhos sedentos por uma aventura.
— Encontrar a sua história!
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O Conto da Biblioteca - O Garoto Sem Histórias
AventuraNo final da Rua Wolfer, existe uma biblioteca, mas, é claro que você não sabia disso, afinal, ninguém nunca teve coragem de entrar lá. Alguns dizem que existe magia selando aquele lugar, outros afirmam que os livros podem mesmo voar. Com apenas nove...