O Segundo Andar

Capítulo Único

A noite do casamento estava gelada.

A neve caía, devagar e serena, cobrindo as ruas de Londres com um manto fino e branco, escorregadio. Poucas pessoas circulavam pelas ruas. O pouco movimento, porém, era um indicativo de tranquilidade.

Grindelwald estava novamente desaparecido, mas aquilo, por ora, não era alarmante.

Vicência Santos era a nova Chefe Suprema da Confederação Internacional de Bruxos. Havia sido escolhida de forma honesta pelo qilin, a criatura mágica mais pura do mundo bruxo, aquela que podia ver a alma das pessoas, e que, assim, sabia se elas seriam boas e honestas em seus futuros. A escolha do qilin quase havia sido maculada por Grindelwald, pois ele havia sequestrado um dos gêmeos da ninhada qilin e o matado, somente então para ressuscitar sua carcaça e fazê-lo curvar-se para si, para que fosse o eleito.

Sua farsa, por sorte, foi descoberta e revelada a tempo.

Newt jamais se esqueceria da visão do amuleto do pacto de sangue destruído.

O amuleto, que representava um pacto de sangue feito há anos entre Alvo Dumbledore e Gerardo Grindelwald, que impedia que um pudesse matar ou agir contra o outro. Um pacto que eles fizeram na juventude, quando ambos eram apaixonados um pelo outro. A sede por poder, no entanto, fez esfriar esse amor em Grindelwald, deixando um Dumbledore apaixonado e precisando agir contra o homem que ele amava, apesar da dor que isso lhe causava.

Até então, pensava-se que tais pactos nunca poderiam ser desfeitos.

E, naquele dia, o amuleto se partiu e se quebrou. Newt imaginou que, talvez, o amuleto tivesse se partido porque o amor que o originou já não existia mais. Não da forma como existiu no momento em que o pacto foi feito. Alvo Dumbledore era, de fato, um dos homens mais corajosos e nobres que Newt já conhecera.

Newt havia saído da padaria de Jacob por um instante, para praticar um pouco mais seu discurso de padrinho.

Seu amigo iria finalmente se casar com a mulher que ele amava.

Queenie, a bruxa cujo maior poder era a legilimência. Ela havia manifestado seu desejo de ficar com Jacob Kowalski, um homem trouxa, mas ele recusou a união de início por medo. Ele, ao saber sobre como a união entre bruxos e trouxas era mal vista pelo mundo bruxo, teve medo da repercussão que isso poderia ter para a vida de Queenie. Teve medo de que ela fosse desprezada por sua própria comunidade, ele não poderia fazer isso com ela. E, num momento de impulso e tristeza, ela decidiu se unir a Gerardo Grindelwald. Com esta primeira derrota sobre ele, ela finalmente pôde voltar para sua família.

E eles, finalmente, iriam se casar.

Pouco antes de Newt sair da padaria, Queenie o havia encontrado e perguntado a ele se estava nervoso. Ele negou o nervosismo, disse que estava praticando aquele discurso com afinco. No entanto, ao olhar nos olhos dele, ela sorriu e disse que, então, ele estava nervoso por outra razão que não o discurso. Ela sabia, é claro. Ela sempre sabia.

E então, após repetir algumas frases de seu discurso ao vento, ele ouviu passos suaves se aproximando pela calçada.

Porpentina Goldstein.

Tina, como ele a chamava.

Ela estava ali. Estava caminhando até ele.

Ele não tinha certeza se a veria naquela noite. Desde que havia sido promovida a um cargo de chefia no Congresso de Magia dos Estados Unidos, Tina havia estado bastante ocupada. Eles se comunicavam por bilhetes que mandavam entre si por aparatagem, mas as possibilidades de se encontrarem andavam escassas. Ele carregava uma foto dela em sua maleta de Animais Fantásticos. Toda vez que abria a maleta, ele podia ver o rosto dela, o sorriso dela para ele. Ele havia passado dois dias inteiros criando coragem para pedir a ela para tirar aquela foto.