Zaion Ferreira, Atacante.| 25 anos.
Acordei com mó barulhão dos cana dando só batidão com o cassetete na porra da porta metálica da minha cela antes de um deles abrir a janelinha pequena gradeada que ficava na mesma.
Policial: Tá na hora do banho de sol da princesa. - Debochou antes de pressionar o botão que fica na parede fazendo a porta abrir, e eu só encarei ele, mantendo a postura. - Na parede, agora!
Peguei meu boné na cama e enterrei na cabeça com a aba virada pra trás, ficando de frente pra parede antes de encostar a testa ali e respirar fundo.
Tô cansadão dessa rotina, mané.
Policial: Mãos pra trás. - Fiz o que ele disse e escutei o barulho dos passos dele ficando cada vez mais próximos antes de sentir algo gelado tocar no meu pulso.
Ele terminou de me algemar e saiu me puxando pra fora da cela e guiando pro pátio.
Policial: Chegamo no jardim do teu reino, princesa. - Me soltou assim que chegamos no pátio.
Quando eu ia sair andando ele voltou a me puxar, virei só o rosto pra trás, olhando pra ele sem entender qual foi.
Policial: Pagar de mudo não vai aliviar a tua barra, tu não vai ter esse controle pra sempre não. - Riu, exibindo os dentes amarelados. - Se tu estiver planejando algo já fique sabendo que na primeira oportunidade eu te mato! - Abri um sorriso de lado e saí andando.
Gostaria de ver ele tentando. Ele falharia miseravelmente, mas ainda assim eu ia curtir ver ele tentando.
Fui andando na reta de uma mesa mais afastada e à medida que eu chegava mais perto vários presidiários começavam a se levantar e a ir o mais longe possível dali.
Sentei na mesa de aço com seis lugares e apoiei as mãos por cima na mesa, fazendo o barulho das algemas batendo na mesma soar alto, geral olhou mas tu teve coragem de abrir a boca? Eles também não.
Tô nesse inferno há cinco anos já, desde os vinte eu vejo o sol nascer quadrado. Fui preso por traficar, cometer homicídio, lesões corporais, roubar, portar armas e documentos falsos, lavar dinheiro e tanta outra coisa que eu já nem lembro direito.
Se pá eu já cometi todos os crimes existentes e até inexistentes, comigo só não rola estrupo e assédio.
Fui pego na covardia mermo, eu nem tava na favela quando rolou, bagulho foi denúncia anônima que eu bem me liguei. Mas meu braço direito lá fora já passou o desgraçado em menos de oito horas.
Primeira pessoa que eu matei foi a minha progenitora depois que ela, por livre e espontânea vontade, permitiu que o filho da puta do namorado dela estuprasse a minha irmã de apenas quatorze anos de idade, porra, minha princesa não aguentou nem uma hora viva depois do ato, chegou no hospital já sem vida.
Até hoje eu me culpo, não devia ter deixado ela sozinha com aquela doida que um dia já chamei de mãe. A velha nunca ligou pra nada além dela mesma, vivia pra agradar homem, chegou uma altura que eu simplesmente cansei de ver ela se humilhando e esquecendo de ser nossa mãe pra correr atrás de pau igual cadela no cio e meti o pé mermo, chamei a minha irmã pra ir comigo, mas ela disse que não tinha coragem de deixar a velha sozinha, se eu soubesse que ia acontecer isso eu teria levado a minha princesa nem que fosse na base da força.
Meu pai era o de frente do complexo do Alemão, fiquei na casa dele e na semana seguinte uma vizinha da minha progenitora ligou e contou tudo o que tinha rolado, voltei pra casa onde cresci pra pegar o corpo da minha irmã e matar os assassinos dela.
Eu nunca tinha pegado numa arma antes, mas o ódio foi motivação suficiente pra disparar nove tiros certeiros nos dois, três na cabeça e seis no coração.
Desde então nunca mais fui o mesmo, eu vivia cego de ódio, principalmente de mim por não ter levado ela comigo, o jeito que o meu pai encontrou de me fazer extravasar foi me apresentar o mundo do crime, não foi a melhor maneira, eu sei, mas ele ajudou do jeito que sabia e o crime abraçou a minha revolta, minha raiva e todos os sentimentos negativos que habitam em mim.
Infelizmente meu pai partiu pra melhor um mês antes de eu cair aqui na tranca, tomou um tiro durante um confronto e antes de morrer me fez prometer que eu tocaria o legado que ele deixou, assim eu fiz e sigo fazendo, mesmo daqui eu sigo cumprindo essa promessa.
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Inolvidável - Livro 1.
Romance+16| Inolvidável: Que não se pode olvidar; impossível de se esquecer; que fica na lembrança; inesquecível. - O que eu e você tivemos foi inolvidável, aceite. Quanto mais você negar, mais esse sentimento vai se apossar de você. "Quando um não aguenta...