Capítulo Único

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Havia se passado uma semana desde a morte do Matias, uma semana em que eu havia descoberto toda a verdade em relação ao assassinato da minha primogênita. Foi doloroso descobrir que durante todos esses anos fui enganada, acreditei cegamente em uma história inventada, além de acreditar nas palavras de um homem que na verdade nunca conheci.

Muitas revelações vieram á tona, Matias viu ali, em seu leito de morte, a oportunidade de contar toda a verdade. Seu envolvimento com Heloisa, a manipulação das provas da perícia e a pior de todas, o seu verdadeiro caráter, provando que durante esses anos fui apaixonada por algo que criei e não vivi a realidade que a vida tentava me mostrar a todo custo. 

Sete dias que venho chorando a morte de alguém que se foi a mais de dez anos, eu não sofria pela morte do meu marido, percebi que já havia o perdido a muito tempo. Chorava a dor que eu anulei por ter que cuidar da minha filha mais nova, pelo momento em que perdi uma das pessoas mais importantes da minha vida. Matias havia morrido dois dias depois do aniversário da nossa Elisa, tudo poderia parecer ironia do destino, ou um castigo por tudo que um dia ele fez.

Sentia meu corpo fraco, a dias não me alimentava, não saia para ver o sol ou sequer visitar a fábrica. Havia confiado cem por cento em Eugênio, pela primeira vez abri mão de analisar tudo ao lado dele, deixei de vestir aquela armadura de que nada poderia me afetar. Eu sentia a necessidade de viver o meu sofrimento, precisava entender aquela dor, pois só assim seria capaz de encarar o mundo lá fora. 

Ouvi duas batidas na porta e não me movi, apenas permiti a entrada e continuei na mesma posição que estava, deitada encarando o nada. Ação que já havia se tornado rotina desde todo o acontecimento.

- Violeta? você precisa se alimentar - Heloisa de forma receosa abriu a porta e me observou 

- Eu não tenho fome. Estou bem aqui - Falei percebendo o quanto a minha voz estava fraca

- Minha irmã... Já está a uma semana trancada nesse quarto! Dorinha está preocupada com você, já não sei mais qual desculpa falar para as pessoas - Ela se sentou perto de mim e tirou as mechas que estavam caídas em minha face

- Diga a eles a verdade, todos sabem da trágica história de Violeta Camargo. Não tem mais nada para esconder - Me ajeitei na cama e a encarei, não sentia a menor vontade de conversar

- Eu estou aqui com você, me permite te ajudar? Sou a sua irmã e a última coisa que quero ver é você sofrer, ainda por cima por causa daquele crápula do Matias - Aquele nome me causava embrulho no estômago 

- Não estou sofrendo pelo Matias, não diretamente. E sim sentindo todas as dores que me privei nesses dez anos, estou me permitindo sentir tudo que anulei nesses anos que passei tentando cuidar da minha família - Sentia novamente as lágrimas me invadir e um nó se formar em minha garganta.

Respirei fundo e tentei continuar mas assim que senti a mão da minha irmã me tocar, desabei em uma sequência de choro profundo, deixando claro o quão machucada eu estava. Os braços de Heloisa me envolveram em um abraço e me permiti chorar ali, eu precisava de consolo e no momento ela era a única pessoa que eu tinha.

~ ~ ~

O início da noite já se fazia presente, os últimos raios de sol invadiam o quarto enquanto eu observava o engenho pela janela. Não sabia ao certo que horas eram, estava sozinha novamente no meu quarto, rodeada dos meus fantasmas e arrependimentos. 

Meus fios estavam úmidos pelo banho que havia tomado a pouco tempo, com a intenção de lavar a alma e me fazer esquecer por alguns minutos do terror que vivi a um tempo atrás. Tirava o excesso da água com a toalha enquanto caminhava em direção ao espelho, me encontrava abatida, mais magra do que antes, os olhos fundos com olheiras gritantes. Quem me visse daquele jeito certamente não saberei disfarçar o espanto. 

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⏰ Última atualização: Apr 21, 2022 ⏰

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