Capítulo 13

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Mariana acordou leve. Havia tido um sonho bom. Sonhou novamente com a praia da Ilha do Campeche. Aquelas águas lindas onde, no início de seu planejamento, seria seu destino. Considerou aquilo como um bom sinal, o que a deixou um pouco mais animada. Doravante, pensaria positivo!

Passou aquela manhã concentrando esforços em seus planos, foi tomar café na padaria ao lado, sentindo-se com o coração aliviado. Sentada na padaria finalizando seu lanche, observou pessoas subirem a rua puxando seus carrinhos de feira e pensou que seria bom ter frutas frescas. Animou-se: iria à feira, afinal o que poderia acontecer numa feira livre? Nada! Até porque Vinícius não estava em Goiânia e não faria ideia de que ela estava hospedada no Setor Pedro.

Por volta de 11:30h, ela saiu de casa rumo à feira, usando blusa branca e jeans. Optou por tênis após refletir e considerá-los mais confortáveis para o caso de ter que andar mais que o previsto. Caminhava pela calçada, mentalizando o trajeto descrito por Janete um dia antes, onde seguiu até chegar na avenida que rodeava o espaço público em formato de praça circular onde a feira acontecia. Na calçada da Avenida Circular viu o fluxo intenso de carros e de pessoas andando a pé pela famosa Feira do Setor Pedro.

Na esquina direita, ao lado da Igreja, havia uma espécie de auditório. Não era um espaço muito grande, mas também não muito pequeno. Na placa em frente dizia que comportava 360 pessoas. Era um espaço modesto, mas de longe parecia possuir uma boa estrutura para eventos de médio porte. Pensou que poderia colocá-lo nas opções para locação quando o RH precisasse de um local para uma plateia com esta proporção. Sorriu com o pensamento. Nada a ver ela pensar no trabalho já que na atual circunstância, ela não tinha nem previsão de quando voltaria a trabalhar.

Voltando seus pensamentos para a feira e as frutas que planejava comprar, atravessou a Avenida Circular, percorreu as calçadas do comércio local que circundava e formava o mercado municipal e acessou a feira. Há tempos não ia a uma feira livre, pois adquirira o hábito de fazer a "feira da semana" em supermercado pela praticidade.

Gostou do que viu na feira: gente alegre, descontraída. Idosos e crianças convivendo em harmonia. Pessoas sem distinção de sexo ou idade selecionando os seus alimentos para a semana. De banca em banca analisou a qualidade e valores dos itens que desejava comprar. Absorvida pelos pensamentos, assustou-se quando o celular tocou e num impulso atendeu sem olhar o identificador de chamadas. Ao atender, entrou em pânico.

—VAGABUNDA DESGRAÇADA! – vociferou Vinícius. —Pensou que iria me enganar é?!

Em pânico, não conseguiu dizer nada. Olhou à sua volta na tentativa de constatar que ele não estaria ali! Olhou para a direita, depois à esquerda, não viu ninguém... até que... relativamente longe, mais precisamente cerca de 3 corredores de bancas à esquerda viu a habitual camiseta de gola polo na cor branca com 2 listras verticais largas do lado esquerdo nas cores vermelho e verde bandeira... Subiu seus olhos pelo tronco largo até cruzar seu olhar com aqueles olhos verdes furiosos de Vinícius... "Ah, meu Deus! Era ele e estava bem pertinho dela..." Conhecia bem aquele olhar e ele a amedrontava muito. Vinícius nunca batera de fato nela, mas chegara quase lá. Ele a amedrontava só com a voz e o olhar furioso. Aquilo, por si só, já era o suficiente para Mariana, que nunca pagaria para ver até onde ele seria capaz de chegar.

Num impulso, correu entre as bancas, tentando desviar-se dos transeuntes alheios ao que estava acontecendo... "Vinícius estava ali e tinha que fugir", era só o que pensava. No afã tresloucado de escapar a qualquer custo, Mariana trombou sem querer em um senhor que vinha no sentido contrário ao que ela ia. Neste ato, a sacola dele rompeu a alça espalhando suas compras no chão. Desesperada, ela se abaixou para ajudar a recolher tudo e pedia perdão repetidamente ao senhor pelo ocorrido. Em um dado momento, ao olhar para a direção de onde fugira, notou que seu algoz se aproximava.

Naquele momento foi obrigada a avaliar o que valia mais a pena, ajudar ao senhor e reparar o dano que havia lhe causado, ou salvar a sua pele. Escolheu a segunda opção! Levantou-se e tonou a correr. Entrou em uma das vielas de acesso à feira, que levava às salas comerciais que circundavam a praça e, em segundos, saiu na calçada. Olhou para trás e o avistou seguindo-a. Em desespero, desceu a calçada entrando imediatamente na pista da avenida sem nem olhar se vinham carros. Parou sua travessia assustada quando uma Toyota Hilux freou a centímetros de seu corpo. Houve confusão no trânsito, sons de buzinas e gritos assustados dos transeuntes. Todo aquele caos lhe causou mais desespero, mas Vinícius continuava perseguindo-a.

Assustada, retomou a travessia até alcançar o canteiro que dividia as 2 pistas e logo em seguida cruzou também a pista oposta, alcançando a calçada da igreja. Avistou as grades que cercavam a paróquia e pensou em pedir socorro ali. Pela hora, a missa havia terminado há algum tempo, razão pela qual a porta de entrada do templo estava fechada.

Correu pelo estacionamento entre os carros tentando dificultar a visão de Vinícius, que continuava em seu encalço. Avistou o Auditório ao lado, onde parecia estar havendo uma espécie de reunião e dirigiu-se para lá. Como estava mais próxima da porta lateral direita, decidiu entrar por ela. Talvez pudesse misturar-se aos presentes, talvez pedir ajuda. Era sua única saída. Abriu bruscamente a porta lateral e entrou.

Miguel, rápido e calmo, percebeu a movimentação na porta lateral do anfiteatro, levou a mão direita ao coldre e sentiu seus instintos ficarem aguçados num sinal de "pronto para a ação". Como não houve reação dos outros policiais do recinto, inclusive daqueles que estavam próximos de onde viera o barulho, ficou mais tranquilo. Desta feita, descansou sua mão na perna direita e manteve-se olhando para frente para não atrapalhar o Diretor Geral da PF, que fazia sua fala de encerramento.

No auge de sua aflição, Mariana não ligou para o recinto lotado, em sua maioria de homens. Nem parou para pensar que poderia estar atrapalhando algo importante. Queria apenas se misturar ao público e, quem sabe, escapar daquele tormento. As cadeiras estavam dispostas em filas bem próximas umas das outras, o que dificultaria enfiar-se e misturar-se entre as pessoas. Desta forma, seguiu rapidamente para a frente do auditório e sentou-se na cadeira da ponta, o único lugar vago que encontrou.

Miguel percebeu, pela sua visão periférica direita, o vulto de uma mulher se aproximando rapidamente. Sentou-se, visivelmente apavorada, na cadeira ao seu lado. De repente, a porta lateral abriu bruscamente mais uma vez e a jovem esticou o pescoço em direção à lateral de circulação para ver quem entrava e ficou em pânico. Miguel observava a cena, intrigado.

Ao ver Vinícius entrando no recinto, Mariana soltou um soluço de desespero. "Ah Deus! Ele não desiste", pensou ela. Em pânico, agarrou desesperadamente a mão do homem sentado à sua esquerda e implorou:

—Oh, por favor, me ajude!!! – enfatizou seu pavor ao apertar fortemente a mão de Miguel.

Ela nem olhava nele, olhava apenas para a circulação de acesso à porta e parecia rezar baixinho. Lágrimas escorriam naquele rosto delicado e Miguel tentava dar-lhe conforto ao entrelaçar seus dedos nos dedos dela num sinal claro de "calma, eu estou aqui e vai ficar tudo bem". Ao sentir aquela mão forte e macia acolher a sua mão trêmula e desesperada, Mariana sentiu seu corpo se acalmar aos poucos. Olhou para o rapaz e ficou hipnotizada com aquele olhar penetrante. Só conseguiu sair daquele transe quando ouviu a voz grossa e rouca dizer baixinho em seu ouvido:

—Acalme-se, moça. Quem quer que esteja te perseguindo não será louco de tentar algo aqui.

Miguel tentou falar baixinho, próximo ao ouvido dela, para evitar atrapalhar o Diretor que estava a poucos passos à frente. Em seguida, percebeu que tinha alcançado seu objetivo de acalmá-la. Ainda estava com medo, mas pôde relaxar um pouco. Ficou vidrado naqueles amedrontados olhos castanhos, tão claros. Estava intrigado com a situação. O que será que estava acontecendo com aquela moça? Quem será que a estava perseguindo? Enquanto não sabia a resposta, uma coisa estava clara em sua mente: não permitiria que quem quer que fosse encostasse um só dedo nela.

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