Capítulo 47. "I hate to look into those eyes and see an ounce" (Guns N' Roses)

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- Bom dia, pessoal... – Minha voz trepidou, rouca, não por causa de toda aquela gente me olhando, mas o frio decidiu dar o ar da graça naquele dia – Estou aqui hoje pra anunciar pra vocês um projeto beneficente que eu estive preparando nos últimos dias...

Enquanto eu pensava em como explicar, notei os cochichos intensos por todo o anfiteatro, eu não os culpava, eu também estaria surpreso de me ver ali, comunicando sobre algo do tipo.

- Nós, do BTS, em parceria com o pub Ducati e o diretor, estamos organizando um festival de música, será realizado no dia 20 de setembro, aqui na quadra do colégio... Todo o dinheiro arrecadado vai ser destinado a uma instituição que cuida de pacientes com câncer...

Só quem sabia da verdade éramos eu, Angie e o diretor, ninguém mais precisava saber, desde que eles concordassem.

- Vocês poderão participar do festival de três maneiras... Vocês podem ajudar na organização, entretanto tem um limite, será uma equipe de 25 pessoas, nada mais...

Expliquei, e podia vê-los comentar uns com os outros.

- Vocês também podem montar barracas de comida, bebida, brincadeiras... Vai haver uma renda disponível pra isso, pequena, mas é o suficiente... E por fim, vocês podem se apresentar no palco principal, independente do estilo musical, é só colocar seu nome, ou o nome da banda, na lista, que vai ficar comigo, ou com os caras, ok? Alguma pergunta?

Ninguém se manifestou a princípio.

- Então, qualquer coisa é só me procurar, valeu – Concluí e deixei o microfone ao lado sobre o púlpito, o diretor se acercou e começou um discurso como os de sempre, sobre como é bom ver os alunos dele se dedicando a algo tão gentil e coisas do tipo.

- Cara, que legal, você foi muito bem, tomara que dê certo! – dizia, empolgado, assenti preocupado com o tempo que parecia correr quando eu pensava sobre a mãe de Lisa, sobre a urgência com a qual eu precisava daquele dinheiro.

- Tomara mesmo.

Sorri fraco para meu amigo e depois me afastei. Ao sair do anfiteatro, vi Lisa sentada ao lado da porta, encostada na parede, com um gorro de lã verde cobrindo seus cabelos e suas orelhas, seus olhos estavam fechados, seus cílios úmidos.

Suas bochechas estavam empalidecidas, assim como seus lábios ressecados. Meu coração doeu, doeu de uma maneira que parecia me sufocar, tirar toda minha felicidade, toda minha vivacidade.

Me senti tão apático quanto ela.

- Lisa... – Chamei seu nome, baixo, agachando-me ao seu lado, ela demorou até abrir minimamente seus olhos e focalizar meu rosto com eles – Está se sentindo bem?

- Estou... – Soprou, depois passou as mãos finas e trêmulas pelo rosto – Você me assustou – Disse ela, voltando a me olhar, mas parecendo um pouco dispersa.

- Me desculpa... Achei que estivesse se sentindo mal – Me justifiquei, ainda examinando seu rosto – E ainda acho que está.

- Já disse que estou bem – Até seu tom hostil estava enfraquecido, respirei fundo e arqueei minhas sobrancelhas.

- Acho que vou te levar daqui pra você comer e descansar... – Eu disse, como se falasse comigo mesmo.

- Você não vai me levar pra lugar nenhum, aliás, me deixa sozinha, por favor – Ela pediu, mas desta vez, não respeitei.

- Acho que não – Neguei com a cabeça e me levantei – Vem, vamos comer alguma coisa...

- Por que você acha que eu vou pra qualquer lugar com você? – Perguntou subitamente, se levantando, mas da mesma maneira com a qual avançou, retornou e encostou-se a parede.

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