Capítulo 4

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AGUINALDO SÓ CONSEGUIA pensar em como sua vida tinha mudado em apenas três dias. Antes ele era apenas um idiota apaixonado, agora além de idiota, já tinha se confessado, sido rejeitado, descoberto que todos na escola pensavam que ele era gay e ainda tinha recebido um incentivo de Beltassamo! Isso nunca tinha acontecido antes!

Já em casa, ele se perguntava o quão agitado poderia ser sua vida se ele decidisse tomar mais decisões impensadas como as que tinha tomado durante esses três dias. E era estranho, pois apesar de que nada de bom realmente aconteceu, ele não se sentia tão mal. Mesmo a parte de ter sido rejeitado, até isso parecia meio empolgante, por causa de todos aqueles olhares que trocaram durante o jogo.

Suspirou e se lembrou que precisava comer. Sua casa estava silenciosa, mas isso não era nenhuma novidade. Foi para a cozinha e após procurar em quase todos os armários não encontrou nada além de milho enlatado, farinha de trigo e sal. Se tivesse pelo menos um pouco de óleo, teria feito um bolinho de milho frito.

Resolveu ir até a sala do escritório que tinha em sua casa para perguntar que tipo de furacão tinha passado por ali. Não gostava muito de incomodar seu pai durante o trabalho, mas não via muitas alternativas, já que a situação era de vida ou morte.

— Pai — chamou enquanto batia na porta.

— Entre. — Ouviu do lado de dentro.

Aguinaldo abriu a porta e encontrou seu pai, Juvenal, sentado atrás da mesa cheia de documentos espalhados, esperando pelo que ele teria a dizer. Moravam apenas os dois em uma casa pequena de dois quartos desde que a pessoa que deveria ser conhecida como mãe tinha ido embora.

— Sim? — Juvenal tirou os óculos do rosto e começou a massagear as têmporas.

— Tem alguma coisa pra comer? — Aguinaldo perguntou.

— Hã... Talvez tenha algum miojo na dispensa. — Juvenal tentou se lembrar de algo mais saudável, mas não conseguiu. — Se não tiver, tem dinheiro em cima da mesa da sala, pega e compra algo pra gente comer.

— Esqueceu de comprar comida?

— Esqueci. — O mais velho suspirou, tanto por cansaço quanto por não ter se esquecido de comprar comida para seu filho.

Aguinaldo deu de ombros, aquela era uma situação bem comum em sua família. Como Juvenal não tinha nenhuma habilidade na cozinha e Aguinaldo estava quase sempre na escola no horário do almoço, o pai preferia comprar comida pronta ou industrializada. E nessa de comprar comida só para uma refeição, Juvenal acabava se esquecendo de fazer as compras para usar a geladeira ou os armários.

— Podemos ir juntos amanhã. — Aguinaldo sugeriu.

— Claro, amanhã está ótimo. — Juvenal abriu um sorriso gentil para seu filho.

O mais novo voltou para a cozinha, e como não tinha muito mais o que fazer, pegou o dinheiro e saiu para comprar qualquer coisa que encontrasse. Não se incomodava muito com isso, entendia que seu pai não tinha muito tempo para se importar com questões de comida saudável e por isso se esquecia com frequência de fazer as compras. Mas ele sentia que precisava se esforçar mais para cuidar da única pessoa que ficou ao seu lado quando ele mais precisou.

••• NO DIA SEGUINTE •••

Tudo parecia muito normal naquele dia para a maioria dos alunos da terceira sala do primeiro ano, menos para quatro deles. Aguinaldo começava a ficar paranóico, achando que todos os seus colegas comentavam sobre ele; Emê de Martnália não conseguia parar de se lembrar da maneira como havia sido rude com um colega antes do jogo; Beltassamo não sabia como dizer para sua mãe que tinha quebrado sua garrafinha Tupperware; e Elcione, a garota mais alta da escola, sentia que estava sendo deixada de fora de algo muito importante. Apesar de ainda não terem quase nada em comum, em poucos instantes isso mudaria completamente.

Todos Nós Que Estamos VivosOnde histórias criam vida. Descubra agora