Estremeço quando as fortes correntes de ar beijam meu rosto, levanto minhas mãos já dormentes e assopro ar nelas esperando aquecer-me, a neve fofa não para de fazer meus pés afundarem a cada passo apressado que dou. A família de Feyre não é mais a mesma desde que nosso gerador perdeu sua fortuna, Nestha que já era odiosa e problemática, ficou mais insuportável ainda, Elain me irrita com a forma que vive em sua bolha onde tudo é perfeito, e nosso pai não faz nada que não seja ficar com o seu traseiro naquele sofá com cara de idiota. E Feyre...bom, ela não deveria ter que assumir todas as responsabilidades e se arriscar caçando comida em uma floresta misteriosa e encantadora como agora. Ela precisa parar de querer sempre salvar todos e focar mais em si mesma, sempre que demora além do comum eu surto, a preocupação e o medo consome meu corpo.
Meus machucados recentes causados por aqueles idiotas doem por conta da temperatura, mas pelo saco pesado em meu bolso, e o sorriso de Feyre no fim do dia vale a pena. Balanço a cabeça em sinal de negação dispersando meus pensamentos e continuo o meu caminho. Carrego na bota velha e remendada uma adaga que certa vez aos dez anos consegui roubar de um ferreiro distraído, proteção é algo que tive que aprender e zelar desde os cinco anos quando apanhava na rua por roubar comida de mercadores locais, queria poder dizer que me arrependo das ações que tomei no passado, entretanto, estaria mentindo.
Meu corpo está tremendo e dolorido, precisei fazer algumas paradas para descansar, quando estava para fazer uma outra pausa escutei barulhos de passos, corro ignorando meus ferimentos e encontro Feyre com uma corça sobre os ombros, com uma pele de algum animal se encontrando em cima da corça. Feyre percebe minha presença e para sua caminhada dura, preocupação toma conta de suas feições. Me sinto tentada a perguntar sobre a pele de origem desconhecida, porém afasto a curiosidade.
– Cassandra oq v –
– Pelo visto foi um grande dessa vez – me apoio na árvore disfarçando a respiração ofegante, endireitei minha postura.
– Você não deveria ter vindo, eu já estava indo embora – ela força os braços finos de magreza para firmar o animal em seus ombros, sua voz transborda pura repreensão, mesmo estando magra em um estado quase que esquelético, continua belíssima. quando éramos pequenas sempre a admirava e a via como uma inspiração, algo que não mudou mesmo nos tempos atuais.– O que está fazendo aqui Cassandra?
– Deixe eu carregar um pouco o animal– ignoro sua fala anterior – Estou me sentindo humilde hoje, então irei fazer um ato de caridade e lhe ajudar – dou um sorriso irônico me desencostando da árvore. Feyre bufa.
– Mesmo depois de anos, nada muda não? você continua me desobedecendo e não tomando jeito – apesar de sua carranca, vejo seus olhos brilharem em divertimento e nostalgia.
– Algumas coisas realmente nunca mudam.
Freyre dá um leve sorriso e me ajuda a encaixar a corça em meus ombros.
Sinto as fisgadas pelo corpo com o peso do animal, porém não comento, fizemos o caminho para a cabana com Feyre pedindo para revezamos quem carrega a carga e eu negando, com ela me dando sermão sobre os perigos em vir sozinha para a floresta, e vez ou outra, eu caçoando de Feyre por se desequilibrar quando seus pés se afundavam na neve.
O sol já estava sumindo por completo quando nossas brincadeiras e sermões cessaram, chegamos na porta da cabana quase aos pedaços, a madeira podre com musgo lembrou-nos da nossa realidade verdadeira. Mesmo fora consigo escutar a voz de Elain e Nestha, muito provavelmente falando asneiras, já que é a única coisa que fazem. Feyre dá um pequeno sorriso para a porta e a abre, quando entramos, luz e calor nos cercou.
— Feyre! — Ouvi o baixo arquejo de Elain, — e Cassandra... — Sua voz assumiu um tom receoso ao dizer meu nome. Pisquei de volta contra a luminosidade do fogo e, então, vi a segunda pateta mais velha. Ela estava enroscada em um cobertor, mas os cabelos castanhos dourados estavam perfeitamente presos em um coque. — Onde conseguiram isso? — Seus olhos estavam esbugalhados e vidrados na caça. Não se preocupou com o fato de eu e Feyre estarmos encharcadas de sangue.
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Corte de chamas e cinzas
FanfictionEm um mundo perigoso e mágico, Cassandra Archeron, filha bastarda e esquecida, se mantem em pé lutando com garras e dentes para conseguir sua tão aclamada liberdade e condições de vida melhor para sua irmã mais velha Feyre. Cassandra acaba adentrand...