•Prólogo•

7 0 0
                                    

Já era madrugada quando barulhos de cascos de cavalo batendo contra o chão, começaram a surgir, se aproximando da casa. Havia um homem em frente à janela da sala, segurando uma vela acesa em um castiçal, observando a escuridão que pairava através da janela.

Ao lado, em um sofá velho com suas  ferragens douradas já escurecendo, dormia calmamente uma criança, uma garota, seus braços espalhados pelo estofado com seus cabelos longos e negros caidos em direção ao chão. Ela parecia cansada. O homem mantia-se em silêncio, revezando seu olhar da janela para a menina. Suas mãos tremiam e de seu rosto escorria gotas de suor, mas ele não se movia.

Lentamente , uma silhueta se formou diante o batente da porta, fazendo o homem se mover em direção à ela.

- Aonde você estava? Como sai assim com Dylan dormindo ao lado de nosso quarto?- O homem pergunta a silhueta, que com um rápido movimento se revela uma mulher loira, de olhos verdes e cabelos cacheados.
A mulher tira seu casaco e o pendura sobre o mancebo de madeira, ao lado da porta, e vai em direção a uma mesa de bebidas, que havia ao lado de um empilhado de livros, se servindo um copo de álcool.

- Me perdoe. - A mulher indaga, após tomar um gole de sua bebida.- Chegou informações de Sairem, não tinha como eu esperar até amanhã.

- Você havia dito que não se arriscaria mais assim Maitê.

- Eu sei e está tudo bem. Mas essa.... - A loira tira um pedaço de papel de um de seus bolsos e entrega ao homem.- É a informação que eu estava esperando.

Ao ler o conteúdo escrito no papel, o homem encara a mulher com desespero, com raiva ele amassa o papel e o joga longe. Devagar, ele se senta na cadeira, ao lado do sofá aonde a menina dormia profundamente. Passando suas mãos grades sobre seus cabelos longos e escuros, o homem volta sua atenção a mulher:

- Quantos homens eles tem?

- Cerca de cinco a seis mil soldados. Todos de baixo escalão. - A mulher responde, se sentando na cadeira, ao lado do homem.

- E você irá liderar a linha de frente de Calisto?

- Sim.

O homem então abaixa sua cabeça, passando suas mãos sobre a sua barba mal feita e em seguida se levanta indo em direção às prateleiras cheias de livros grudadas na parede. Cabisbaixo, ele olha em direção à menina que dormia no sofá, profundamente.

- Eles não vão acreditar! Eles farão perguntas o tempo todo, principalmente aos soldados que lutarão ao seu lado...

- Eles vão acreditar Liam...

- Você não precisa fazer isso Maitê.

- Sim!- A mulher grita alterada, abaixando seu tom de voz ao perceber que a criança que dormia no sofá, se movimentou.- Se eu não fizer, Sairem me levará a força, e tudo que eu conquistei aqui vai para o ralo. Isso não pode acontecer Liam.

- Eles irão... atacar a Laura...

A sala fica em silêncio novamente. A mulher se levanta cruzando seus braços, olhando em direção à criança apagada no sofá.

- Eu despertei o poder. Se Calisto descobrir eu estou morta. Serei considerada uma traidora e irão me matar por isso. E você e a Laura também morreram... por minha causa. Eu tenho que ir Liam...

Os dois se encaram novamente e a mulher continua:

- Será amanhã, durante a batalha. Só você e os outros sabem disso.

O homem assente com a cabeça e segue em direção à porta. Antes de sair ele se vira, e olha mais uma vez para a mulher, que se encontrava encarando-o, com os braços apoiados na pequena mesa verde de leitura da sala, tudo ali era verde.

Franzindo o cenho, o homem diz a ela:

- Eu vou estar lá com você, não importa o que aconteça...

- Eu te amo Liam! - A mulher fala com os olhos lacrimejando, interrompendo o homem.

Ele fica ali, a encarando por um tempo frustrado com as suas palavras e em seguida sai da sala, batendo a porta com força. A mulher então, fica sozinha com a criança, que acabou despertando de um profundo sono, a qual foi induzida a ter.

- Mamãe!

A criança sussurra, coçando os olhos, ela se levanta lentamente, se sentando no sofá e olhando em direção à mulher nervosa em sua frente.

- Oi meu amor. Já acordou? Ainda é noite, volte a dormir.

A mulher fala com uma voz manhosa e baixa, se sentando ao lado da menina, e colocando sua cabeça em seu colo.

- Aonde está o papai? - A criança pergunta.
- Ele está no quarto, ele estava muito cansado. - A mulher responde, acariciando levemente os longos cabelos escuros da menina.

- Nos estávamos esperando você mamãe. Mas o chá do papai acabou me fazendo dormir.

A mulher deu um leve sorriso ao ouvir o que a garotinha havia dito. Ela sabia por que aquele chá tinha deixado a criança com sono. Maitê Foukin era uma mulher de segredos, muito deles nem seu próprio marido, Liam, sabia da existência e enquanto acariciava sua filha, sentiu uma leve vontade de chorar surgir, ela estava com medo do que estava preste a acontecer.

- Está tudo bem querida, está muito tarde para uma criança estar acordada também.
De repente, a sala foi consumida pelo silêncio. A garota no colo da mãe, mantia seus olhos fechados e sua respiração levemente controlada.

- Está dormindo...Laura?

- Não mamãe. Estou apenas aproveitando o seu colo.

- Aproveite bem então. -Responde Maitê, deitando sua cabeça sobre o encosto do sofá e deixando a tristeza e o choro consumir o seu corpo.

Aquele, talvez, seria o último momento que ela estaria com a sua filha, que sua filha estaria com ela, e Maitê sabia a dor que os próximos dias, semanas, meses e anos causariam à Laura após aquele momento. Mas o mais importante, era que nem Maitê Foukin sabia como seria o seu a partir dali.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Apr 20 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

LINHA DE FRENTEOnde histórias criam vida. Descubra agora