Capítulo 52 :

820 72 42
                                    


A confissão pesou no ar e me deixou completamente desnorteada. Daniela parecia tão chocada quanto eu, como se aquele fosse um segredo que acabara de vir à tona.

Arthur guardou apenas para si, escondendo até mesmo da irmã. Ele pareceu se arrepender de ter dito aquilo e fechou os olhos apertando as mãos contra eles num gesto de fraqueza. Carol estava totalmente paralisada acabando de se dar conta do que quer pretendesse com seu plano, tinha ido por água abaixo.

Arthur: Saia da minha casa. E nunca mais pise aqui novamente. Não sou nenhum otário que vai cair no golpe mais antigo do mundo.

Arthur deu alguns passos à frente, agarrou a bolsa dela e praticamente jogou em seu colo, agarrando-a pelo braço e arrastando-a até a porta de entrada, soltando-a de maneira brusca.

Arthur: Suma, Caroline!

Ele disse aquilo com a voz ainda mais rouca e nem mesmo olhou para mim ou Daniela, apenas deu meia volta subindo as escadas e desapareceu provavelmente indo se trancar no próprio quarto.

Carol parecia envergonhada e saiu apressada carregando sua bolsa e o envelope em mão praticamente correndo em direção ao carro. Ou ela estava mentindo sobre o fato de estar grávida, ou a essa hora pensava no real pai do bebê. Olhei para Daniela que estava ainda com a mesma expressão chocada no rosto. Não me atrevi a dizer nada, apenas olhei para o chão e passei a mão em um dos braços. Ouvi o longo suspiro dela e levantei o olhar sem saber como agir.

Daniela: Eu não acredito que ele escondeu isso. — ela falou em um tom de voz mais baixo que o normal — Arthur nunca me contou nada. Não sei quando descobriu.

Carla: Com certeza não se sentiu confortável para contar.

Daniela: Eu queria tê-lo ajudado. — meneou a cabeça — Ele agora deve estar arrasado. Um dia ele precisaria contar, mas não teria sido essa a maneira escolhida. E nem mesmo o momento.

Apenas assenti sem saber o que fazer. Arthur era estéril. Jamais teria passado algo desse tipo na minha cabeça e toda essa descoberta me fez pensar no quanto ele estava sofrendo guardando isso apenas para si. Daniela se virou e voltou para a sala de estar, provavelmente buscando refletir sobre o que aconteceu e eu olhei para escada sem ter certeza do que faria em seguida. A passos lentos, comecei a caminhar até iniciar uma subida quase que pesarosa degrau a degrau, ainda em dúvida do que fazer.

Cheguei ao topo da escada e decidi ir até o quarto de Arthur. Provavelmente ele queria ficar sozinho, mas eu acreditava que o momento era delicado demais e que precisava dar o meu apoio já que tudo aconteceu da pior maneira possível. Coloquei a mão na maçaneta e a girei devagar, empurrando a porta bem lentamente agradecendo por esta não ter sido trancada.

O quarto estava em completo silêncio. Arthur estava sentado na poltrona a um canto com a cabeça baixa, os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto enterrado nas mãos. Parecia estar chorando, mas eu não conseguia acreditar que um homem tão forte e poderoso como aquele fosse capaz de chorar, era algo que eu não conseguia imaginar, era como se não fizesse parte de sua natureza, apesar de ter consciência de que ele era um ser humano. Aquilo me comoveu, pensar na possibilidade de vê-lo sofrendo daquela forma e externando em forma de lágrimas, fez meu coração se apertar e sentir a intensa necessidade de consolar aquele homem tão desolado.

Apesar do silêncio, era como se eu fosse capaz de ouvir toda a confusão na cabeça dele e ao perceber que não havia notado minha presença no quarto, ou a ignorado, fez com que eu respirasse fundo e me aproximasse devagar. Arthur permaneceu imóvel, então eu me ajoelhei à sua frente e não o toquei, queria apenas que ele me ouvisse.

Carla: Arthú, eu estou aqui. — disse em uma voz tranquila, apoiei as mãos em minhas coxas e esperei sentada sobre os calcanhares.

Ele ficou quieto, sua respiração pesada, mas por fim, cerca de mais ou menos um minuto depois, esboçou alguma reação. Sem pressa, tirou as mãos do rosto e levantou a cabeça focando os olhos agora sem brilho em mim. Estavam avermelhados e os cílios molhados pelas lágrimas. A cena partiu meu coração. Arthur estava com o rosto corado, os olhos inchados molhados pelas lágrimas recentes. Tudo o que queria no momento era abraçá-lo, mas precisava tirar de cima dele todo aquele sofrimento com uma conversa esclarecedora.

Carla: Estou aqui na sua frente, pronta para te ouvir desabafar. Eu sei que você ainda precisa tirar esse peso de dentro de você.

Arthur: Você ouviu tudo, Carla. Eu não posso ter filhos. — a voz saiu mais fraca e mais rouca.

Carla: Quando descobriu isso? Sua irmã não sabia de nada.

Arthur: Faz cerca de dois anos. — engoliu em seco — Quando minha noiva percebia que não conseguia engravidar, achou que o problema fosse dela, mas eu concordei em fazer um exame, apesar de não aceitar que tivesse algo de errado comigo. Foi quando recebi a notícia do meu problema.

Carla: Isso não é motivo para vergonha.

Arthur: Mas me torna menos homem do que outros. — ele passou a mão nos cabelos de maneira inquieta.

Carla: Claro que não, Arthú. — agarrei uma das mãos dele — Você não é menos homem que ninguém.

Arthur: Quando minha noiva me deixou por eu não poder lhe dar filhos, eu percebi que minha incapacidade seria um problema em qualquer relação que eu pudesse ter. Foi a partir desse momento que decidi que não iria mais namorar. Quando você apareceu e tudo aconteceu entre nós, eu colocava na cabeça que poderíamos ter algo mais sério porque o dia que você descobrisse que eu não poderia lhe dar filhos, você iria se conformar mais. Afinal, você já é mãe.

Carla: Não, Arthú. Não é por isso que aceito você. O fato de não poder me dar filhos, teria outros caminhos aos quais recorreríamos e mesmo se não desse certo, ainda sim eu estaria ao seu lado. Porque eu adoro o homem que você é, não me importa as dificuldades que existam.

Arthur: Está falando isso porque você já tem uma filha.

Carla: Não. — balancei a cabeça — Falo isso porque você é um homem especial. Alguém que me faz bem e que não quero que saia da minha vida. Você precisa entender seu valor.

Arthur: Eu entendo. São 80 bilhões de reais. — seu olhar era distante.

Carla: Não diga bobagens, Arthur. — levei a mão até seu peito no lugar do coração e o senti batendo com força — É o valor que tem aqui. Você é uma pessoa maravilhosa, eu posso dizer isso porque a cada dia conheço um pouco mais sobre o homem por baixo dos ternos italianos. E não falo do seu corpo e sim da sua alma. É dedicado, inteligente, protetor e intenso.

Arthur: Carla, eu sempre me orgulhei de quem eu era até descobrir que não poderia ser pai. Isso me destruiu. Eu não queria que você descobrisse isso agora, por isso sempre usei camisinha. Sei que não está tomando remédio e acharia estranho se depois de algumas relações sexuais você não engravidasse. Então a forma que eu tinha para esconder isso de você, foi usando preservativo.

Carla: Não ia me contar nada?

Arthur: Ia, mas não agora. Queria esperar até nossa relação estar mais sólida, até eu ter certeza de que você não iria me deixar por causa disso.

Carla: Não seja bobo. — levantei, me sentei em seu colo e Arthur não protestou, envolveu minha cintura e me manteve por perto — Jamais ia deixar de estar com você por conta disso.

Olhei para ele, mas não obtive mais nenhum diálogo. Enquanto o observava, lembrei-me da maneira como ele sempre ignorou Malu e agora todas as perguntas giravam em torno disso. Será que existia alguma relação com sua esterilidade?

Carla: Por que você não se aproxima da Malu? — a pergunta saiu e eu não consegui evitar, era como se minha boca não recebesse meus comandos e agisse por conta própria.

Arthur: O quê?! — ele rapidamente me olhou como se eu tivesse duas cabeças.

Comentem

Quem é você, Arthur? Onde histórias criam vida. Descubra agora