Parte dois - Eu a pista, você o avião

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N.A: Mais cedo do que previ, boa leitura!


Horas depois, Carol sentiu uma leve carícia na mão e relutou em abrir os olhos. O carinho foi se estendendo por seu braço e ela despertou preguiçosamente, vendo uma Anne a olhando carinhosa. Devia estar sonhando, piscou.

- Você não está sonhando – disse a ponteira, sorrindo. O pensamento havia escapado pelos lábios da central. – Pedi comida para nós.

Carol nada disse, ainda não se sentia plenamente acordada. Além disso, havia indiretamente revelado a Anne sua chateação por estar sendo ignorada. A ponteira continuou com o carinho e foi extremamente atenciosa ao escolher a refeição de ambas. Era difícil para a central fingir que seu coração não tinha derretido.

As horas seguintes se resumiram a Carol entretida com um filme qualquer e Anne com seu novo livro semanal. Não houve muita conversa, mas se instaurou um silêncio confortável e ambas se fitavam de esguelha algumas vezes. Para Anne, era impressionante como a noiva continuava linda a cada mudança de expressão por conta do filme, sorria ao vê-la indignada com alguma cena ou simplesmente por não entender o que acontecia. Para Carol, era fascinante observar a concentração da ponteira e em como ela ficava linda e fofa com o cenho franzido enquanto tentava digerir alguma informação do livro.

Quando desembarcaram, no tempo previsto por Carol, Anne parecia mais leve e seus pais as esperavam. Tendo em vista o fuso horário de cinco horas, já passava das dez da manhã. Foram recebidas com abraços e deixaram o aeroporto pouco depois. A central percebeu, então, que Anne segurava sua mão.

As ruas de Amsterdã eram bem conhecidas por Carol, tinha muitas lembranças com Anne ali. No entanto, sempre ficava encantada quando passeava ali. O contato com ponteira ainda se fazia presente, embora a noiva conversasse animada com os pais e a central estivesse um pouco dispersa devido à viagem. O trajeto até a casa dos sogros foi rápido e foram recebidas novamente com abraços por Tom e Jolien.

E foi naquele momento que o contato com Anne foi interrompido. Em pouco tempo estavam se alojando no quarto da ponteira e no minuto seguinte a mesma decidiu sair com o pai, Teun, para comprarem os itens que faltavam para comemorar a virada do ano. Carol demorou o máximo que pode arrumando as roupas delas no guarda-roupas, pois passariam uma semana hospedadas. Apesar de ter um relacionamento de longo tempo com Anne e a relação com os familiares dela fosse excelente, a central ainda se sentia um pouco deslocada. Realmente achou que estivesse tudo bem no aeroporto.

Quando não pode mais fingir ocupação no quarto, Carol decidiu descer e encontrou Irene na cozinha, concentrada em alguma receita com um cheiro ótimo. A mulher lhe dirigiu um sorriso e gesticulou para que se aproximasse.

- O cheiro está ótimo, Irene – elogiou Carol. – Posso te ajudar em algo?

- Oh sim, querida – disse. – Pode cortar espinafre e esses tomates, farei aquela quiche que você adora.

A central sorriu, feliz que a sogra tivesse tanta consideração por ela. Enquanto trabalhavam juntas, conversavam sobre culinária vegana e trocavam receitas alegremente. Depois o assunto mudou para o casamento de Carol e Anne, que ainda não havia sido marcado e elas não tinham parado para conversar sobre todos os preparativos que incluíam o local da cerimônia, a decoração, os vestidos, o cardápio, a lista de convidados e muitos mais.

- Estamos esperando a temporada da superliga acabar – comentou a central.

A expressão de Irene mudou um pouco, tornando-se mais séria, mas não carrancuda. Ainda assim, Carol se arrependeu de ter gasto tanto seu inglês. Por um breve momento se esqueceu que a sogra acompanhava os jogos da filha e, sem dúvida alguma, havia visto a discussão delas em quadra. Que mãe gostaria de ver a filha tendo um dedo apontado bem no meio da cara?

De repente o tomate se tornou a coisa mais interessante que a central já tinha visto, o silêncio pareceu infinito e desconfortável, embora não tivesse passado nem um minuto. Antes que Irene pudesse dizer algo, Teun adentrou a cozinha, depositando algumas sacolas sobre a mesa. Carol o questionou sobre Anne, mas ele disse que ela havia se separado dele antes de chegar ao supermercado.

A central tentou disfarçar que estava tudo bem e voltou a se concentrar no que fazia, almejando terminar logo e sair dali. Mas quando Teun se retirou, Irene recomeçou a falar.

Atenção pro chequeOnde histórias criam vida. Descubra agora