O Bosque de Nebel

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         A noite enfim havia caído sobre Nebel, acompanhada de uma quietude quase que sepulcral. As nuvens pesadas que flutuavam no céu escondiam o brilho das estrelas e da Lua naquele instante, e os ventos gélidos que sopravam vindos do norte pareciam um presságio das coisas que ainda estavam por vir. No leste, o Bosque Nebuloso se erguia, intocado por mais de uma centena de anos e envolto por uma névoa que jamais cessou sequer por instante; e as histórias a seu respeito, repassadas através das gerações, acabaram por cair no mais profundo esquecimento. Ninguém sabia ao certo as coisas que se escondiam sob os galhos retorcidos e a cortina branca que encobria o lugar, mas era sabido que havia algo de odioso se escondendo por entre as árvores. Afinal, o que explicaria o comportamento inquieto dos animais que permeavam a floresta? Até onde se sabia, apenas os corvos podiam entrar e sair do lugar, o crocitar hediondo das aves sendo o bastante para congelar o sangue do mais valente dos homens.

          Pior do que o grasnar dos corvos fora o grito hediondo que partira do Bosque naquele instante. Quase como uma onda, as luzes das casas se acenderam, uma a uma. Nas ruas do lado de fora alguns homens se reuniam, as lanternas e os forcados em mãos e prontos para resgatar quem quer que estivesse do outro lado da névoa. Coloquei-me a disposição para a busca e então partimos ao encalço do jovem desaparecido - que tudo indicava ser um tal de Jonas, um rapaz que beirava os vinte e poucos anos de idade – mas não sem antes ouvir o relato de sua mãe, que se encontrava aos prantos e num estado de choque, gritando para que todos a ouvissem enquanto falava das vozes que o filho ouviu durante o dia e de como os corvos malditos pareciam interessados no rapaz.

         Sem mais interrupções, seguimos até a entrada do Bosque. As luzes pareciam ter perdido um pouco do brilho quando adentraram a densa e ancestral floresta que se erguia ali. Senti um calafrio na espinha ao cruzar os limites do Bosque e penetrar a névoa impassível diante de mim e tenho certeza que os outros ao meu redor sentiram a mesma coisa. Quando todos enfim entramos na floresta os gritos do rapaz cessaram abruptamente. Apressamo-nos em direção aos gritos evanescentes, mas um bando de corvos violentos nos separou. Quando me recuperei após a fuga, percebi que agora me encontrava só. Não tardou até que os gritos retornassem, mas agora era uma outra voz, mais rouca e ríspida, como a de um homem mais velho.

         Céus, agora os gritos partem de todas as direções!

Desesperado, corri. Mas o Bosque era traiçoeiro, quase como um labirinto sem fim. Não tardou até que eu me visse diante do mais hediondo dos monumentos. Ali, naquele bosque distante e ancestral eu pude ver, com meus próprios olhos, a conjunção de galhos distorcidos e amarrados arrancados das árvores decrépitas que se erguiam pelo Bosque. Assemelhavam-se a um par de mãos e carregavam consigo – meu Deus – os corpos do que pareciam um dia terem sido homens. Seria aquilo a representação de algum ritual nefasto e desconhecido?

         Os corvos começaram a grasnar novamente. O som odioso jamais fora tão alto. As aves então começaram a se unir numa nuvem que desceu do céu e ganhou uma forma física no chão. As garras odiosas e o rosto enrugado e os longos cabelos não puderam ser escondidos sob o manto de penas negras que a criatura vestia, e a névoa tornou-se mais densa do que nunca. Meu Deus...

         A Bruxa veio me buscar.


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