Capítulo 59. "Looking in your eyes, hoping they won't cry" - McFLY

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Lisa não me esperou para entrar no hospital, mas Ryan andava ao meu lado, com uma das mãos segurando a minha e a outra agarrada na barra de minha camiseta, seu rosto quase escondido atrás de minha perna.

Eu queria poder dizer algo reconfortante a ele, ou à minha pequena namorada, que agora estava conversando com uma das enfermeiras que encontramos pelo corredor. A mulher apontou, com seu dedo rechonchudo, para um elevador, e deu indicações à Lisa, que andou depressa para lá, quase não nos dando tempo de acompanhá-la.

Seu rosto estava pálido, e os olhos pendidos pra baixo, constantemente mareados. Eu sabia que ela estava se segurando o máximo que podia, por Ryan, por mim, por si mesma. Lisa parou em frente à porta do quarto, indicado pelo mesmo médico que nos disse que só podíamos entrar um por vez.

Ryan aceitou esperar, talvez ele nem quisesse saber o que estava acontecendo lá dentro. Então o carreguei comigo até a sala de espera, há duas portas dali. Nos sentamos no sofá e assistimos ao noticiário, que falava sobre algo completamente desinteressante aos nossos ouvidos, mas a voz daquela jornalista nunca mais saiu da minha cabeça.

Dias difíceis estavam por vir, eu podia sentir isso em meus ossos, e eu sabia que Ryan também sentia, pois estava encolhido contra meu corpo, como se pedisse apoio, abrigo. Eu queria poder confortá-lo, mas não sabia o que estava se passando em sua mente infantil.

Pude imaginar o medo que devia estar sentindo e isso me fez abraçá-lo ainda mais forte, tentando dizer, com isto, que ele não estava sozinho. Lisa saiu do quarto, 20 minutos depois de ter entrado, e disse, com a voz completamente embargada, que era a vez de Ryan.

Ele pareceu hesitante, mas ela conversou com ele, baixinho pra que nem mesmo eu pudesse ouvir, e depois de levá-lo até lá, voltou e sentou-se ao meu lado, olhando para a parede. Permaneci em silêncio, com meu corpo ligeiramente virado na direção do seu, caso ela quisesse recorrer aos meus braços.

Sua primeira reação foi um soluço, breve, baixo, mas ela não desabou ainda assim. Enxugou as lágrimas antes que elas pudessem cair e adotou uma expressão lúcida.

- Eu quero sua ajuda – Pediu, com a voz borrada.

- Pode pedir qualquer coisa – Murmurei, esticando minha mão para tocar a sua.

- Eu queria... – Piscou, sem me olhar – Fazer aqueles passarinhos da sorte... Ouvi dizer que se fizermos um pedido e 1.000 passarinhos daquele, então o pedido se realiza – Eu não sabia se aquilo tinha alguma coerência, mas sua fé era invejável à meus olhos.

- Vamos fazer, então – Concordei, sem pensar duas vezes – Eu vou buscar papel, você espera aqui?

- Espero. Traga... – Ela sorriu, com a ponta do nariz avermelhada – Traga papéis coloridos, também... – Concordei com a cabeça, engolindo em seco – Vamos enfeitar o quarto pra que ela se sinta bem, tá?

Lisa não parecia em seu melhor estado, e eu senti meu coração doer, então abaixei-me na sua frente e apoiei minhas mãos em seus joelhos.

- Vai ficar tudo bem, ok? – Murmurei, ela assentiu, com os olhos cheios d'água e os lábios crispados – Eu já venho, qualquer coisa é só me ligar.

- Tudo bem – Sussurrou, encolhida.

Depositei um beijo em sua testa, e com medo do que poderia acontecer, fui em busca das folhas. Não havia quase nada aberto na cidade, era domingo, oito horas da noite. Mas eu tinha um pacote de folhas brancas em casa, e enquanto procurava pelas outras Jennie me ligou, informada do que estava acontecendo.

Pediu que eu fosse buscá-la, ela sabia onde podíamos encontrar folhas coloridas. Passei por sua casa e então seguimos novamente para o hospital. Aquela estava suposta para ser uma noite longa.

Betting Her - LiskookOnde histórias criam vida. Descubra agora