Foi o café que me fez ir atrás do teste de gravidez. Não podia ser diferente, acho eu. Ele me acompanha desde pequena. Em quantidades cavalares, coado ou espresso, mas sempre no começo e no meio do dia. Fosse o clima que fosse, estava eu lá com minha xícara.
Apesar de não esperar mais que um bebê chegasse naturalmente, monitorava os sinais e sintomas do meu corpo, em busca do momento certo de tentar mais uma vez. Depois de anos, acabei me convencendo de que essa era só uma brincadeira que eu fazia comigo enquanto esperava o ciclo recomeçar. Cada sensação era fruto de ansiedade e, no fundo, eu sabia que na semana seguinte começaria tudo de novo.
Mas um dia desses, acordei me arrastando pela casa. Desempregada, tinha dormido tarde mandando currículos. E me sentia mal, com os sintomas de uma gripe que não ia embora.
– Nossa, preciso de um café! — A fala de todos os dias nem abalou meu marido que se arrumava para trabalhar.
Logo o aroma da bebida invadiu a casa. Mas me pareceu esquisito, o que atribuí à falta de olfato típica da sinusite. Servi uma caneca e fui me aconchegar no sofá para saborear a bebida e começar oficialmente o dia.
No primeiro gole, um gosto de metal. No segundo, o líquido desceu queimando e na mesma hora o deixei de lado com uma careta.
Aí sim, meu marido se espantou.
– Você não está conseguindo tomar café? Entra no carro agora. Vamos comprar um teste.
Minha reação imediata foi rir. Ele mal sabia quando era meu período fértil. Mas estava tão decidido a tirar a prova, que eu me troquei e fomos.
– Imagina se eu descubro que estou grávida bem agora que estou sem o convênio médico?
– Só pode ser. Rejeitar café?
A hipótese de um pré-natal particular ou pelo SUS nem foi falada. Eu já não sabia se ele estava torcendo por um resultado positivo para me provar que estava certo ou se estava ansioso para realizar o sonho. "Nos gastos a gente pensa depois", ele disse.
Na farmácia, o impasse. A menstruação não estava nem atrasada, como fazer um teste? O poço de ansiedade que atende pelo nome de meu marido não esperaria mais uma semana, então, depois de fuçar em tudo, achamos um teste que funciona até quatro dias antes do atraso. Nos três aplicativos em que eu monitorava o ciclo, dizia que seria o dia seguinte.
Amanheceu e eu pulei da cama. Nem dormi, óbvio. Ainda bem que a insônia não afetava o resultado do teste! Dez segundos depois, lá estava uma cruzinha azul.
Grávida.
Grávida?
Eu paralisei. Consegui chegar no quarto depois de uns minutos. Vou processar melhor a informação, depois eu conto, pensei. Puxei o lençol e virei de lado, pronta para esperar ele acordar.
Mas ele também não tinha pregado o olho.
– Fez o teste?
Duas horas depois, lá íamos nós ao laboratório para fazer um exame de sangue. Vai que o teste de farmácia está com defeito? O café, nem tomei mais. Só quatro meses depois, quando os enjoos davam lugar à barriga que já começava a aparecer.
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Leve Pro Café - Contos para Degustar
Historia CortaContos curtos e divertidos para acompanhar seu dia.