Amour d'or et du bronze

Capítulo I

Música tema do capítulo: 🎶 Golden - Harry Styles 🎶

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Agosto, 2024

Então essa era a sensação? O alívio do dever cumprido. O sonho realizado.

Na outra extremidade, ocupando o lugar mais baixo (mas não menos desejado) do pódio, seu olhar encontrou com o par de olhos que sempre fazia seu coração acelerar um pouco mais. Eles estavam avermelhados e brilhando mais que o normal, não muito diferentes dos milhares de olhares por todo o ginásio. Mas aquele era especial e ela sabia que não conseguiria segurar por muito tempo sem desabar... e aquele ainda não era o momento de desabar. Nem quando recebeu sua medalha e Macris a abraçou. Nem quando o hino nacional começou a tocar. Nem quando finalmente fez contato visual com seus pais na arquibancada.

Campeã Olímpica. Ela era campeã olímpica.

Os abraços eram aconchegantes, as lágrimas das companheiras de alívio e os olhares de orgulho eram recíprocos. O trabalho delas estava feito e a recompensa foi muito merecida. O alvoroço de repórteres e familiares começava a acontecer, mas seu coração quase parou quando a viu há poucos metros de distância. Parada ali, parecia esperar o momento certo de se aproximar, precisaria de um incentivo. Carol viu pelo canto de olho as companheiras a empurrando e ela tentando relutar. Sorriu para a cena porque, mesmo dadas as circunstâncias, ela não mudaria seu jeito educado e tímido. Nunca. E por isso era o seu amor.

Carol não pensou muito nas consequências do que iria fazer, o momento exigia mais emoção e menos raciocínio. Muito diferente do tie break com rally de quase 1 minuto que ela tinha acabado de fechar há poucos minutos atrás. Sua mente agora só pensava em uma coisa: ela fica mais linda ainda com essa medalha no peito. Com passos apressados, conseguiu ultrapassar algumas das jogadoras dos Estados Unidos e da Holanda, que se aproximavam para parabenizar as muitas companheiras de clube brasileiras. Seus braços logo se envolveram ao redor do pescoço de Anne, que não tardou em puxá-la para cima e segurá-la no colo. Pensou em dizer o quanto estava orgulhosa dela, do time, da superação e entrega. Mas, como (quase) sempre, Anne foi mais rápida.

- Te amo - sussurrou em seu ouvido.

E amava muito. Os olhos marejados não negavam.

As palavras eram o que Carol precisava ouvir para desabar. Segurou seu rosto e uniu seus lábios rapidamente. Se não conseguia expressar em palavras tudo que queria dizer no momento, esperava que o ato fosse suficiente para que ela entendesse.

- Te amo mais - respondeu segurando em seu rosto, com as testas se tocando. Por alguns segundos seu mundo todo estava ali, dentro dos braços do seu amor.

A luz que iluminava o ginásio se escureceu e Carol demorou alguns segundos para perceber o que estava acontecendo. A realidade se fez presente rapidamente quando sentiu o amontoado de pessoas ao seu redor. As jogadoras de rostos familiares, incentivadas pelas ordens da sua capitã e companheira Gabriela Guimarẽs, tinham encobrido ela e Anne com uma bandeira do Brasil e outra da Holanda. O intuito era evitar o que seria a capa de um dos maiores tabloides de esporte do mundo nos próximos dias. Mas o esforço foi em vão e a pequena aglomeração, agitada por sorrisos e brincadeiras já conhecidas, foi apenas um incentivo a mais para os cliques das câmeras das dezenas de fotógrafos presentes.

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O Dj Stari já tinha feito a festa brasileira completa com os hits Brasileirinho (Funk Remix) e o clássico Evidências - Chitãozinho e Xororó no último volume do ginásio em Paris. Mas agora, após a cerimônia de entrega das medalhas e todo o alvoroço, Golden - Harry Styles soava dos auto-falantes, criando uma atmosfera leve e tranquila. Tudo e todos eram felicidade e sorrisos, e Carol não poderia estar diferente. Ela buscava ao seu redor os olhares que sempre a fizeram se sentir segura e lhe deram apoio em todas as decisões de sua vida. Não demorou para encontrar seus pais na arquibancada, eles acenavam emocionados. Tentou avançar mas os repórteres no meio do caminho eram mais rápidos. Foi breve nas entrevistas, buscou falar o que vinha na mente, as emoções que sentia no momento, mas era praticamente impossível expressar tudo em palavras.

Campeã Olímpica... e agora? A voz na sua cabeça não parava de repetir.

A última entrevista terminou com um convite para uma matéria maior, nos dias seguintes. Ela aceitou depressa, sem ouvir nem entender muito bem. A sua ansiedade tinha rostos bem definidos e estavam há poucos metros. Assim que conseguiu chegar próxima dos familiares, a sensação de estar em casa foi reconfortante. A sua família, brasileira e holandesa, estava ali completamente presente lhe parabenizando.

Após o momento familiar, era a vez de dar atenção aos fãs que gritavam seu nome sem parar. As fotos, autógrafos, abraços e recados para todos foram cedidos de forma simpática e sorridente, como sempre. Depois de atender os últimos pedidos, foi uma última vez até próximo da quadra, onde algumas jogadoras ainda confraternizavam. Olhou para o cenário ao seu redor e foi inevitável não pensar em toda a sua trajetória até ali, principalmente dos momentos mais difíceis, as críticas mais duras e títulos não conquistados. Tudo, absolutamente tudo tinha valido a pena para chegar naquele lugar, naquele instante. O brilho dourado dos papéis espalhados pelo chão refletiam o dourado da taça. Golden era derepetido em loop nas caixas de som e dentro de sua mente.

E agora? Qual o próximo passo?