Por caminhos diligentes: Um casal corajoso

declaração de guerra e outras mentiras

    Os olhos de Anya parados sobre o cabelo melecado da amiga demonstravam que seus pensamentos já não estavam mais presos àquela pequena sala de serviços da escola.

-Puxa, olha o que vocês fizeram no meu cabelo!- A garota Blackbell comentou trazendo a Folger de volta à realidade- Ele vai ficar cheirando à carne até eu morrer agora!-

-Ah, nem foi tanto assim, para de graça e termina logo de lavar isso!- George se adiantou mais que os outros colegas e se aproximou da Anya e de Becky chorosa próximas à pia. Ele puxou o cabelo da amiga e tentou lavar, como se lavasse uma camiseta ou algo assim, mesmo ele nunca tendo posto as mãos em suas roupas sujas para lavá-las, aliás, era óbvio que todos tinham alguém que fizesse isso por eles, e não estamos nos referindo à suas mães. Com exceção de Anya, que de vez em quando ajudava em alguns trabalhos domésticos, embora tivessem dinheiro suficiente para serem muito mais ricos que muitos outros estudantes da Edens, ela fazia isso para que, quando fosse necessário, em alguma de suas missões, conseguisse efetuar impecavelmente seu trabalho.

Poucos instantes depois que George já havia posto suas mãos na colega que ele foi perceber o que estava fazendo. Ele parou por alguns instantes com os olhos para baixo, o pescoço fino, que ninguém nunca via direito, da cantora lírica, com alguns respingos d'água, começava a ficar vermelho em algumas regiões e, ainda, demonstrava certa aflição e agitação conforme ela respirava. George a soltou e voltou para perto de seus amigos que de nada ajudavam ali, além de constranger e, uma hora ou outra, fazer alguma brincadeira sobre o cheiro peculiar de Curry que Becky estava exalando, diretamente da cabeça.

Em alguns minutos a situação foi resolvida e, com aquela bagunça da pequena sala de serviços da escola, Damian se disponibilizou para ajudar na limpeza. Ele teve seus momentos de glória com Anya. Silenciosamente, enquanto ela secava a pia distraída, ele chegou por trás e fez como se cheirasse seu cabelo. A garota se virou indignada olhando no fundo dos olhos dele esperando por alguma reação de surpresa. A descendente Folger tentava, mas não conseguia muito bem, esconder a frustração de novamente não ter lido os pensamentos de Damian. Aquilo a irritava mais que qualquer coisa, ainda mais vindo do garoto Desmond.

Encurralada entre a pia e o companheiro secreto de missões, Anya continuava com os olhos fixos nos do Desmond.

-O que foi?-

-O seu cabelo não está com cheiro de curry...mas está me cheirando a...uhmm, acho que se chama falsidade!-

-Em que isso se aplica?-

-Você tem começado a prestar mais atenção em sua amiga. Seus olhos estão travados nela a todo instante, isso é muito, muito suspeito- Ele disse sorrindo soltando uma madeixa dos fios rosados de Anya que havia pego enquanto falava, ainda, sua primeira frase.

-Ah, agora você, que me odeia tanto, vai ficar analisando cada passo que eu faço dentro e fora da escola?-

-Não é que eu não tenha feito isso, mas tenho mandado constantemente alguns sinais e você, de forma alguma, está conseguindo captar...está muito distraída-

-Você não tem que falar essas coisas para mim quando você é somente um...- Anya se calou rapidamente. Ela sentiu um arrepio na espinha como se um vendaval enorme estivesse rodando somente naquela pequena sala. Sentiu Damian se aproximar também, bastante, como se ele tivesse perdido o equilíbrio e quase caído sobre ela. Seu braço segurando na parede, trancando ainda mais a garota, parecia forte e bem disfarçado com as roupas da escola, a garota não se lembrava, jamais, de ter percebido tamanha beleza no corpo do rapaz estando com o uniforme escolar. Anya, com tal proximidade, não deixou de perceber o quão apreensivo e assustado o jovem mestre ficou quando caiu sobre ela, pior, quando viu que seu peito estava sendo segurado pela garota de reflexo rápido. Assim, se afastou com rapidez sem que se constrangisse mais.