Conto: Sempre foi você

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— Eu não sou de dizer coisas como: "Eu avisei", mas... — Helena começou, sendo imediatamente interrompida por mim.

— Nem vem com essa agora, essa é a única frase que você sabe falar. — Contestei, revirando os olhos e dando uma risadinha em seguida.

— Então prove que eu estou errada, Anne, conte a história toda.

Um sorriso se formou no canto de seus lábios, enquanto ela bebericava um gole do vinho tinto de sua taça e me olhava com uma sobrancelha erguida, trejeitos que são sua marca registrada desde que a conheci. Ella e Rick voltaram seus olhares curiosos até mim.

— Vai, Anne! Vocês nunca contaram a história toda, ainda mais a sua versão dos fatos. — Ella pediu, empolgada com a ideia.

— E vocês vão querer ouvir tudo? A história é longa, não sou como a Helena que sabe resumir, todos os detalhes são importantes. — Me adiantei, terminando minha sobremesa. Eu já imaginava a resposta, de toda forma.

— Temos a noite toda!

Foi a vez de Rick dizer, o que de fato me animou, pois por mais que eu tentasse não demonstrar tanta euforia, amava quando me pediam para contar aquela história, eu me sentia vivendo-a de novo, até mesmo o frio na barriga voltava. É sempre mágico o poder que boas memórias têm sobre a gente, elas trazem o conforto de um abraço aconchegante em uma noite fria.

— Hum, está bem, já que é bem pro bem da nação eu conto.

Helena segurou minha mão e a acariciou brevemente, como em um incentivo, me fazendo sorrir junto com ela, então comecei.

— Tudo começou com meu estágio no colégio, Helena me olhou como se eu fosse uma maluca, ou talvez tenha me confundido com uma aluna por conta do cabelo azul esverdeado.

— Como você é exagerada! Eu apenas achei incomum uma professora de literatura que não tivesse uma postura completamente séria, mas era inegável que você era o charme daquela sala repleta de professores entediantes. — Helena se defendeu, deixando um beijo no topo da minha cabeça, o que fez nossos amigos darem risada.

— Vou encarar isso como um pedido de desculpas. — Soltei uma gargalhada. — Mas, continuando, naquele dia eu estava bem nervosa para dar minha primeira aula, era quase como se eu tivesse desaprendido os anos e anos de faculdade. Meu nervosismo era quase palpável e Helena não demorou a notar, ela bem quis ajudar, mas vocês sabem como eu sou, né?

— A maior destruidora de primeiras impressões que já pisou nessa terra

Ella provocou, fazendo uma menção sutil ao dia em que nos conhecemos — igualmente desastroso. Talvez eu fosse um pouquinho rabugenta na hora de conhecer as pessoas, mas que culpa eu tenho se uma quantidade absurda de gente babaca já passou pela minha vida?

"— Primeiras aulas podem ser estressantes, eu sei. Fiquei tão ansiosa para o meu primeiro dia aqui no colégio, que quase derrubei café na coordenadora, acredita? Extremamente constrangedor. — Ela se aproximou de mim e estendeu sua mão em minha direção. — Prazer, sou Helena, professora de ciências e física.

— Então além de encarar as pessoas você também derruba café nelas, Helena? Acho que eu tive sorte, então. — Franzi a testa, antipática sem realmente ter um motivo muito plausível pra isso — Prazer, Anne Marie, professora de Literatura.

— Eu não costumo encarar ninguém! Na verdade, se isso aconteceu foi um acidente... — Seu tom de voz denunciava a ofensa sentida por ela. — De todo modo, Anne Marie , boa sorte com suas aulas hoje.

Ela deu um giro nos calcanhares e se apressou em deixar o pátio, murmurando baixinho algo que eu não fui capaz de compreender no momento. Admito, talvez eu tenha sido um pouco sido grossa mesmo, mas o que exatamente eu devo esperar de alguém que me encara de cima a baixo no meu primeiro dia em um novo emprego? Antes de falar comigo, eu já tinha notado seu olhar em minha direção cerca de quatro vezes. "

Sempre foi vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora