Capítulo 6: Você decide seu próprio futuro.

3K 480 107
                                    

Caminhei pelas docas, observando os pequenos barcos de pesca que surgiam e sumiam no horizonte acinzentado. A noite já havia praticamente caído, mas a maioria deles trabalhava até não aguentar mais ou até não conseguir ver mais nada na sua frente, o que os obrigava a voltar para terra firme.

O lugar era repleto de barracas, cabanas e barracões, onde caixas e mais caixas eram transportadas de um lado para o outro, com carroças surgindo para levar tudo que os pescadores conseguiam para o vilarejo. O cheiro de peixe era quase insuportável pra mim, mas eu tinha certeza de que o restante dos homens que trabalham ali todos os dias já estavam acostumados com isso.

—Não acho que ele vá brigar com você. —Ayla comentou ao meu lado, quando nós duas avistamos o barco do meu tio, já atracado nas docas e sendo descarregado. Provavelmente era a última viagem do dia, então meu tio sairia dali direto para casa. —A culpa não foi sua. Todo mundo sabe que Mackenzie arruma confusão por onde passa. Vocês dois se enfrentarem ia acontecer mais cedo ou mais tarde.

—Mas podia ter acontecido bem longe de Marcos e do meu trabalho. —Afirmei, apertando as mãos em punho, me sentindo tão frustrada e burra naquele momento. —Mackenzie fez de propósito. Me testou e me irritou até eu ceder e o atacar. Ele queria arrumar confusão naquele exato momento e conseguiu.

—Por isso que a culpa é dele e não sua. —Ayla insistiu, me fazendo olhá-la com as sobrancelhas erguidas, antes de soltar uma risada nasal.

—Pena que o Marcos não está nem aí pra isso. E sendo culpa do Mackenzie ou não, a dívida é minha. Não vou deixar aquele babaca nojento colocar as mãos em mim. —Afirmei, seguindo na direção do barco do meu tio quando o vi, enquanto pensava em várias formas de contar a verdade a ele. —Eu só preciso de ideias que me tragam um boa quantia de ouro, Ayla. Tenho só um mês pra isso.

—Eu tenho uma ideia, mas acho que seu tio não a aprovaria. —Ayla comentou baixinho, e eu a lancei um olhar confuso, antes de ouvir a voz do meu tio me chamando.

Me virei para encara-lo enquanto engolia em seco, sentindo meu coração disparar de nervosismo ao vê-lo desviar das pessoas e vir na minha direção. A expressão dele era de pura preocupação, como se me encontrar ali fosse a última coisa que ele esperava. Tentei abrir um sorriso, que provavelmente soou mais como uma careta de nervosismo, porque vi as sobrancelhas dele se unirem.

—O que aconteceu? Você está bem? —Indagou, chegando até onde eu estava, tocando meus ombros com tanto carinho que meu coração desmoronou, porque eu odiava decepciona-lo. Eu podia odiar Alexia com toda minha força, mas eu amava meu tio com a mesma intensidade. —Que corte é esse na sua bochecha?

—Eu e Mackenzie lutamos. —Falei, vendo a expressão do meu tio endurecer, como se ele já pudesse imaginar todos os problemas que vieram com isso. —Eu estou bem. Esse corte não é nada, mas... —Soltei uma respiração pesada, erguendo a mão para esfregar a testa. —Quebramos algumas coisas no mercado. Marcos me mandou embora e está cobrando tudo de mim, porque o pai de Mackenzie agora é seu novo sócio.

Meu tio soltou uma respiração tão pesada quanto a minha, enquanto fechava os olhos com força como se estivesse absolutamente cansado naquele momento. Tentei pensar em coisas a dizer a ele, mas nem eu tinha certeza do que ia fazer para resolver aquilo. Odiava levar problemas para o meu tio, assim como odiava aquela situação.

—Me desculpa, tio Edgar. Eu não deveria ter ido na onda do Mackenzie. Mas eu estava tão cansada dele e... Eu fiz merda, eu sei. Eu sinto muito mesmo. —Afirmei, vendo-o abrir os olhos e me encarar com pesar. —Vou dar um jeito de pagar a dívida. Arrumar outro emprego ou sei lá... Vou dar um jeito.

—Tudo bem, Zaia. Eu conheço o Mackenzie e sei como ele é. Perdi as contas de quantas vezes ele já arrumou problemas por aqui. —Meu tio apertou meu ombro, antes de me puxar para um abraço carinhoso, que levou embora um pouco do peso de todos aquelas horas. —Vou te ajudar a resolver isso. Vamos achar uma solução juntos, está bem? Pode contar comigo para o que precisar.

As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora