Observei Amélia começar a ler aqueles papéis, que continham as informações de Adam. Não imaginava que eles poderiam guardar todas as informações das pessoas assim, enquanto em Arcádia era muito fácil morrer e ninguém sequer se lembrar seu nome quando você for enterrado.
—Ele tinha 34 anos quando simplesmente desapareceu. —David afirmou, como se já tivesse lido aqueles papéis muitas e muitas vezes. —No início as pessoas acharam que ele poderia ter usado o dragão para ir para outro continente. Para as terras além do mar. Só que ele tinha uma vida aqui. Não havia qualquer motivo para ele ir embora e nunca mais voltar.
—Além do fato de que nossa natureza ficou desestabilizada, com o desaparecimento das sereias e épocas do ano que a chuva era quase um milagre. —Amélia continuou o que David estava dizendo, balançando a cabeça negativamente, enquanto apertava os lábios em uma linha fina. —Só que tu eram certeza de que ele havia morrido quando Misty apareceu e atacou quem tentou chegar perto dela. Só dragões sem elementais tem reações assim.
—Ele tinha família? —Indaguei, torcendo para que a resposta fosse não, porque isso reduziria ainda mais qualquer possibilidade de a ver alguma ligação comigo, por mais impossível que eu achasse ser.
—Os pais dele morreram muito velhos e não tinham outros filhos além dele. —David deu de ombros, como se aquilo não fosse relevante, porque passar o poder para outro não funcionava de qualquer forma. —Mas algum relacionamento amoroso? Não sabemos. Todos que conheceram Adam deixaram claro que ele era reservado, quieto e não costumava se misturar muito nas cidades. Então não temos como ter certeza de nada.
—Não podemos simplesmente descartar um parentesco com você. —Amélia completou, e eu abri a boca para rebater. —Eu sei que você é de Arcádia, Zaia. Você nasceu e cresceu lá. Mas Misty não prometeria a lealdade dela a alguém que não tivesse o sangue de Adam nas veias.
—E o que acontece agora? —Soltei um suspiro pesado, me recostando na cadeira com uma frustração enorme dentro do peito. —Como vamos descobrir qualquer coisa se isso faz mais de 7 décadas?
—Vamos pesquisar mais. —Amélia afirmou, me fazendo comprimir os lábios, porque não tinha certeza de que aquilo iria dar algum resultado. —Alguém pode ter uma resposta pra nossas perguntas. Só precisamos encontrar a pessoa certa. Até lá você vai permanecer aqui.
—Você não está me dando opção, não é? —Soltei, sem conseguir evitar a alfinetada no tom de voz, vendo os ombros de Amélia caírem em frustração.
Aquilo era bom, porque se eu não estava feliz, ela também não ficaria, já que era ela quem estava me obrigando a ficar ali contra a minha vontade.
[...]
Havia passado uma semana desde o momento que acordei em Falésia. Tinha começado a treinar, conhecendo alguns dos guerreiros que moravam ali. A maioria, como eu imaginava, não gostava nem um pouco da minha presença ali. Mas alguns conseguiam ser tão gentis quanto Percy era.
Nos primeiros dias ele se manteve distante, até eu começar a puxa-lo para treinar comigo, o obrigando a conversar, porque eu o enchia de perguntas sobre Falésia. Eu normalmente estava tentando me distrair, porque minha cabeça não conseguia se desligar de David procurando pistas sobre Adam e sobre a minha própria vida.
—Peguei pra você. —Percy chamou minha atenção, lançando uma maçã, que eu peguei no ar antes que atingisse a minha testa. Ele estava caminhando pela beirada do telhado, tentando manter o equilíbrio para não cair lá embaixo, até chegar ao ponto onde eu estava e se sentar ao meu lado. —Você parece muito distraída hoje. Ainda pensando em formas de deixar Falésia e voltar pra casa?
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As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1
FantasíaLIVRO 1 (AS CRÔNICAS DE SCOTT) Dois mundos divididos por uma barreira mágica. Arcádia, uma terra cinzenta e sem vida, onde os humanos lutam para sobreviver todos os dias, já que a fome e a miséria andam lado a lado com eles. Falésia, um mundo repl...