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Eu lutava para não desmaiar e me manter acordada; já não sentia mais as minhas pernas. Me apoiei melhor na parede atrás de mim e, depois de uma última respirada profunda, eu forcei tanto que pela primeira vez senti a cabeça do bebê me espaçando e encaixando na entrada da minha vagina.

Foi emocionante quando eu senti com as pontas dos dedos os seus cabelinhos ralos. Soltei um gemido enquanto me inclinava um pouco para frente e tentava olhar o meio das minhas pernas, porém era quase impossível ver alguma coisa por conta da barriga.

— Vamos lá, meu anjinho, a mamãe quer te conhecer. — Falei com a voz calma e puxei a respiração mais algumas vezes, buscando forças onde não restava mais nada além do cansaço.

Cravei as unhas no chão e contei até três antes de juntar toda a força que me sobrou para expulsar o bebê para fora de mim. Arregalei os olhos, assustada, quando um líquido saiu e logo em seguida um serzinho pequeno que parecia de mentira de tão perfeito.

Apesar de meus olhos estarem completamente cegados por uma cortina de lágrimas, eu estendi os braços e o peguei no meu colo com muito cuidado, afinal o bebê estava com o cordão enrolado levemente no seu pescoço.

Fui tirando devagar como se a minha vida dependesse cem por cento daquilo e respirei aliviada quando o vi livre. Estava banhado do meu sangue e com o rosto vermelho; ele era cabeludo de um jeito fofo e, de primeira, não fui capaz de notar nenhuma semelhança conosco.

Vi quando ele contorceu o seu rosto e ameaçou abrir a boca para chorar, mas fui mais rápida e enfiei o meu dedo indicador em sua boca, que instintivamente começou a chupá-lo feito uma chupeta.

— Você está com fome, não é? — Estranhei a forma como ele abocanhava desesperado a ponta do meu dedo e abaixei um pouco a cabeça para deixar um beijo em sua bochecha.

Ergui minha camiseta o suficiente para que um dos meus seios ficasse à mostra e guiei a sua boquinha até lá, segurando-o com firmeza nos meus braços. O bebê sugou o bico do meu peito com força e eu mordi o lábio inferior por conta da dor.

Doía para caramba, porém era a sensação mais indescritível e gratificante do mundo poder alimentar o meu filho daquela forma.

— A mamãe ama você mais do que tudo nesse mundo. — Murmurei segurando o choro e toquei levemente o seu rostinho sujo. O cordão umbilical ainda estava na sua barriga, conectada a uma carne preta no chão que presumi ser a placenta.

Ouvi quando a porta da cabana começou a ser aberta e apertei o meu filho ainda mais forte nos meus braços, me encolhendo próxima da parede. Russo discutiu brevemente com a garota antes de entrar e ficar petrificado ao olhar na minha direção. O nosso filho seguia se alimentando alheio a tudo à sua volta.

— É um menino. — Sussurrei, encarando-o de volta.

O nariz de Russo expandiu quando ele puxou o ar com força para dentro dos seus pulmões e pela primeira vez na vida vi a emoção passando pelos olhos dele, mesmo que por poucos segundos, que estava completamente estagnado no lugar. Eu o entendia, até porque estava do mesmo jeito. Acho que somente agora a nossa ficha caiu que teríamos um filho.

— Eu não sei o que fazer. — Confessei. Russo piscou os olhos repetidamente, parecendo despertar do transe. — Acho que ele precisa de um hospital.

Fiquei quieta quando o vi cambaleando para trás e logo em seguida sair da cabana quase que correndo, feito um demônio fugindo da cruz. Segurei a vontade de chorar; ele sequer quis conhecer o filho.

Perdi a conta de quantas horas haviam se passado; o meu bebê tinha terminado de mamar e estava dormindo bem sossegado quando Russo voltou com uma senhora logo atrás dele.

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora